Projeções de longo prazo continuam favoráveis ao agro brasileiro, por Prof. Marcos Fava Neves

Publicado em 20/07/2018 10:55
Marcos Fava Neves é Professor Titular (tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo. Especialista em planejamento estratégico do agronegócio

Reflexões do agro de junho/julho

A possibilidade de aumento de barreiras comerciais e mesmo a ameaça destas deve reduzir a taxa de crescimento da economia mundial esperada para este ano. Vem caindo a taxa de crescimento das exportações em muitas economias e consequentemente a atividade industrial esperada. As barreiras devem provocar rearranjos nos fluxos das cadeias produtivas integradas, com impactos positivos ou negativos para cada elo em cada país. Passamos por mais um mês onde deterioraram-se os indicadores econômicos de curto prazo do mundo e do Brasil.

Em relação à safra, a décima estimativa da CONAB (safra 2017/18) traz produção esperada de 228,5 milhões de toneladas de grãos (3,9% menor que a safra anterior, perda de 9,2 milhões de toneladas) em 61,6 milhões de hectares, área 1,1% maior que a safra anterior. Entre a nona e a décima perdemos mais 1,2 milhões de toneladas, fruto do clima ruim em algumas regiões, portanto é principalmente o milho segunda-safra que vem derrubando a estimativa e agora teremos apenas 83 milhões de toneladas. A soja deve alcançar quase 119 milhões de toneladas em 35,1 milhões de hectares (1,2 milhão a mais). Algodão também teve aumento de 240 mil hectares e o feijão, de 110 mil. Ao todo o milho cedeu neste ano quase 1 milhão de hectares. Como os preços em reais estão maiores, teremos uma renda no campo provavelmente maior.

As exportações do agro seguem bem no ano, fechando o primeiro semestre 2,9% acima em receita (total de US$ 49,5 bilhões) no comparativo com o primeiro semestre de 2017. As importações recuaram 3,6%, num total de US$ 7,04 bilhões deixando portanto um superávit 4% melhor, de US$ 42,5 bilhões, o melhor da nossa história. As vendas de soja aumentaram quase 12%, atingindo US$ 22,3 bilhões, mas sua taxa de crescimento fica ainda abaixo do incrível crescimento do setor de papel e celulose, de mais de 30%, exportando US$ 7,07 bilhões. As carnes caíram 12,7%, trazendo no semestre US$ 6,38 bilhões, prejudicadas por embargos. Somente em junho as exportações das carnes caíram 42%. Quem também ficou pior na comparação de semestres foi o café, que caiu 15%, totalizando US$ 2,24 bilhões e o açúcar, que teve o maior tombo (quase 40%) trazendo apenas US$ 3,55 bilhões. Como os chineses compraram 12,7% a mais (soja, carnes e celulose) ou US$ 17,9 bilhões, chegaram a um total de 36% das exportações do Brasil.

Ainda como reflexo da greve do transporte, talvez não consigamos a expansão da safra de soja que poderia ocorrer no ciclo 2018/19, de algo entre 1 a 2 milhões de hectares (poderíamos atingir 37 milhões de hectares), pois as entregas de fertilizantes estão atrasadas, e com isto o plantio pode ser prejudicado. O frete, de acordo com a ESALQ/LOG subiu 20% e em alguns casos o aumento passa de 40%. Mas ainda temos chances, pois a margem deve ser boa ao produtor, com melhores preços em reais devido ao câmbio e o prêmio para a soja brasileira, que já subiu para US$ 2,5/bushel. Segundo o USDA nesta safra tanto EUA quanto Brasil produziram 119,5 milhões de toneladas de soja, mas nas previsões para 2018/19, devemos passar e atingir 120,5 milhões de toneladas, contra 117,3 milhões dos EUA.

Em relação a preços internacionais, tivemos quedas. O índice mundial dos preços das commodities alimentares (índice da FAO) alcançou 173,7 pontos, caindo 1,3% sobre o mês passado, graças às tensões comerciais. Cereais caíram bastante (3,7%) e os lácteos (0,9%). Óleos vegetais caíram 3% e carnes 0,3% e açúcar com ligeira alta de 1,2%.

Neste mês três grandes estudos analisando mais o longo prazo merecem destaque em minha análise e deram o título desta. O primeiro feito pela OCDE, analisando 51 países e suas subvenções à agricultura. Entre 2015 a 2017 foram gastos US$ 620 bilhões por ano. O valor médio da China foi de US$ 263 bilhões por ano nesse período, representando 15% da receita bruta dos produtores. Os campeões da ajuda são Japão, Coreia do Sul, Noruega, Suíça e Islândia onde aproximadamente 45% da receita bruta vem de apoio público. No Brasil o estudo mostra ser de apenas 3% este número, ou seja, uma das agriculturas que menos recebe apoio no mundo e consegue crescer como estamos vendo.

O segundo é do Ministério da Agricultura, que projeta nosso tamanho daqui dez anos. Iriamos de 233 para 302 milhões de toneladas de grãos (69 milhões, ou 30% a mais), com grande crescimento se dando na soja, com praticamente 40 milhões de toneladas a mais, e no milho, com 24 milhões. Nas carnes iremos de 27 para 35 milhões de toneladas, aumentando 7 milhões ou 27%, sendo 4 milhões em frango, 2 milhões em bovina e 1 milhão em suína. A área de grãos pula de 62 para 71 milhões de hectares, e a área total usada pelas lavouras brasileiras iria de 75 para 85 milhões de hectares (inclui cana, café, fumo, frutas e outros).

Em relação às exportações, o Brasil passaria a vender 96,5 milhões de toneladas de soja (70 milhões nesta safra), 42,8 de milho (32 milhões nesta), 37,2 milhões de açúcar (7,6 milhões a mais que 2017/18) e no café pularíamos de 29 para 34 milhões de sacas. As exportações de carne bovina em 2027/28 seriam de 800 mil toneladas a mais (de 2 para 2,8 milhões de toneladas), as de frango cresceriam 1,3 milhão de toneladas (de 3,9 para 5,2 milhões) e as de suínos aumentariam 300 mil toneladas (de 600 para 900 mil toneladas). Portanto, a exportação total de grãos do Brasil em 2027/28 pulariam de 102 milhões de toneladas para 139 milhões, e as de carnes de 6,5 para 8,8 milhões.

Em 2027 a China comprará 70% da soja comercializada mundialmente, seguida da União Europeia com 7% e México, Tailândia e Egito com aproximadamente 2%. Em relação às carnes, na bovina seria esta a ordem: China (17%), Estados Unidos (15%), Norte da África e Oriente Médio (12% cada), Japão e Coreia com ao redor de 8% cada. No caso do frango os maiores compradores mundiais seriam África Subsaariana e Oriente Médio (30% na soma), seguidos de México, América Central e Japão com 8% cada. Finalmente, das compras mundiais de carne suína, com aproximadamente 20% cada estariam China, México e Japão, seguidos de Coréia do Sul e EUA com 9 e 6% respectivamente.

Finalmente, o terceiro estudo é o "Perspectivas Agrícolas 2018-2027" da OCDE e da FAO/ONU. Tivemos grandes aumentos de produção no planeta, o que faz com que mesmo neste cenário de aumento de consumo, os preços tendam a permanecer como estão ou até caírem um pouco em termos reais. Há uma ligeira desaceleração na taxa de crescimento da demanda, que em alguns casos já estaria em seu índice de saturação. A produção agrícola deve crescer 20% em dez anos e o comércio mundial também cresce a taxas menores, praticamente metade dos seu crescimento anterior. A produção de carnes deve aumentar 15% e o Brasil e os EUA deverão representar quase 50% do total vendido. Percebemos nestes três estudos algo que venho trabalhando já há alguns anos: temos muito mercado pela frente, mas aos preços atuais, portanto temos que construir margens criativamente via redução de custos.

Terminamos estes 30 dias ainda com fatos negativos que foram as estripulias dos grupos contrários à modernização do marco regulatório dos defensivos agrícolas e da tentativa de tolhimento à liberdade empresarial de se exportar gado vivo por São Paulo. Que a primeira possa ser aprovada e que a segunda possa ser arquivada. Tivemos também a proibição da caça ao nocivo javaporco, que deve trazer grandes estragos na economia e no meio-ambiente de São Paulo. Gente cada vez mais agressiva e que joga contra o agro e contra o Brasil.

Contato: [email protected]

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Fonte:
Marcos Fava Neves

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