Vazio Sanitário para Broca-do-Café (Hypothenemus hampei), por Eng. Agrônomo André Luís Mattiello
No caso da broca-do-café, como ela precisa obrigatoriamente dos frutos para propagar-se e multiplicar-se, seria a definição de um período de ausência de frutos (no pé ou no chão), impedindo a propagação da praga, reduzindo a pressão de infestação entre safras.
É uma prática muito interessante, que vem se mostrando eficaz em cultivos como soja, feijão e algodão para compor o manejo de outros problemas. No café, poderia reforçar ainda mais o manejo da broca além do monitoramento bem feito, utilização de inseticidas e adjuvantes eficientes e qualidade de aplicação.
O vazio sanitário é um conjunto de práticas culturais que iniciam-se com uma colheita bem feita, uma vez que a mecanização na derriça intensificou-se muito nos últimos anos e com isso tivemos um aumento na sobra de café nas lavouras. Na sequência fazer o “repasse” (mais de um se necessário), depois lançar mão da utilização das práticas de varrição e rastelação (existem equipamentos e implementos modernos para tal); tudo na tentativa de eliminar todo e qualquer resto de café que possa sobrar.
Lembrando que esta remoção de frutos remanescentes gera receita através da comercialização deste café de qualidade inferior, mas que mesmo assim deve ser suficiente para cobrir o custo operacional. Atenção para lavouras esqueletadas no ano anterior, pois pode ter sobrado alguma gema viável, a qual pode florescer e gerar frutos, possibilitando a multiplicação da praga.
Por fim, podemos aproveitar outras práticas já existentes como a destruição dos restos culturais na entrelinha do cafezal com a utilização de trinchas mecânicas (para áreas que foram esqueletadas, por exemplo), o que destruirá também eventuais frutos que possam ter sobrado no chão; outra prática existente é a desbrota, onde podemos aproveitar para remover frutos/flores remanescentes nos pés de café; ainda temos a “distribuição de cisco” para debaixo da saia do cafeeiro, protegendo o solo e promovendo o desenvolvimento de diversos fungos benéficos, dentre eles a Beauveria bassiana, que pode suprimir o desenvolvimento da broca.
Enfim, o vazio sanitário deve se tornar uma prática difundida, conhecida e executada, para compor o manejo desta importante praga na cafeicultura.
Lembrando e reforçando que para o manejo eficaz da broca-do-café devemos conhecer (a) a biologia da praga (ciclo, formas biológicas, dispersão desuniforme no ataque, influência do clima), aplicar boas práticas na (b) tecnologia de aplicação (uso de adjuvantes apropriados como óleos emulsionáveis, eletrostática vs convencional, volume de calda adequado, época de aplicação), fazer o (c) monitoramento (levantamento inicial, acompanhamento, %brocados e %brocas vivas, atenção às floradas), além do (d) Vazio Sanitário, que acabamos de expor (colheita bem feita, repasse, varrição e rastelação, trincha, desbrota, distribuição do cisco); por fim, utilizar (e) produtos químicos (inseticidas) registrados visando sempre um manejo integrado de pragas (MIP) e/ou manejo integrado de resistência (MIR).
Eng. Agrônomo André Luís Mattiello é gerente de Desenvolvimento Técnico de Mercado para os cultivos de Café, Cana-de-açúcar e Citros na BASF.
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