Café: Mesmo com quadro de sérias dificuldades no início da safra brasileira a bolsa de NY ignora os fundamentos

Publicado em 22/07/2016 17:36
A CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento, com bastante atraso, divulgou hoje seu “Levantamento de Estoques Privados de Café do Brasil” em 31 de março último. O levantamento confirma que iniciamos o novo ano-safra brasileiro (julho de 2016 a junho de 2017) com estoques de passagem praticamente zerados. Segundo a CONAB, no último dia 31 de março nossos estoques privados de café somavam 13 589 036 scs de 60 kgs. As exportações brasileiras nos meses de abril, maio e junho somaram 7 360 524 scs e o consumo interno brasileiro no mesmo período foi de aproximadamente 5 milhões de sacas (Adotando-se, conservadoramente, um consumo anual de 20 milhões de sacas). Um desaparecimento de 12 360 524 scs nos meses de abril, maio e junho. 

Portanto, em 30 de junho último, o estoque brasileiro de passagem para a nova safra 2016/17 era de 1 228 512 scs, em mãos da iniciativa privada, mais 1 489 961 scs de estoques governamentais, totalizando 2 718 443 scs. Se adotarmos uma exportação média no ano-safra de 35 milhões de sacas (a média dos três últimos anos-safra, 13/14, 14/15 e 15/16 é de 35,38 milhões de sacas) e um consumo interno de 20 milhões de sacas, nossos estoques de passagem cobrem 18 dias de exportação e consumo interno. Os estoques privados de passagem estão em mãos de produtores capitalizados e os governamentais, cafés desmerecidos, de várias safras atrás, deverão ser leiloados para atender o consumo interno, que está encontrando dificuldade para se abastecer em pleno início de ano-safra!

Na madrugada da última segunda-feira, dia 18, os cafeicultores brasileiros foram surpreendidos pela chegada de uma frente fria mais forte do que a prevista pelos institutos de meteorologia. Aconteceram geadas moderadas desde a alta mogiana do Estado de São Paulo até Araxá e Campos Altos no início de cerrado mineiro. Os relatos de cafezais queimados são diários e preocupantes. Alguns operadores tentam minimizar as perdas para o próximo ano-safra nos cafezais atingidos nessa extensa área produtora de arábicas finos, mas elas existiram e alguns agrônomos já falam em perdas acima dos 5% nas regiões atingidas. A safra de 2017 será de ciclo baixo e como estamos sem estoques, essas perdas farão falta para nossas exportações no próximo ano-safra. 

Operadores continuam pressionando as cotações em Nova Iorque e mesmo com o quadro de sérias dificuldades no maior produtor, exportador e segundo maior consumidor de café do mundo, os contratos futuros na ICE operaram em forte baixa hoje, sexta-feira. Essa mesma tática, de ignorar os fundamentos, foi usada quanto aos problemas com a seca na produção brasileira de conilon, onde a realidade acabou por se impor. A queda em nossas exportações de conilon e as dificuldades de nossas indústrias para se abastecerem em pleno início de ano-safra são resultado dos problemas climáticos e da falta de informações confiáveis sobre o que estava ocorrendo no Espírito Santo e sul da Bahia. Em nossa opinião, o mesmo processo vai se repetir no mercado de arábica. 

Surpreendentemente a bolsa de café de Nova Iorque não reflete esse quadro, tanto que na prática, no mercado físico, cafés finos, lavados, são comercializados bem acima de suas cotações na ICE, que, teoricamente, cota cafés lavados colombianos postos em armazéns americanos. 

O mercado físico brasileiro continuou lento com poucos negócios realizados. Preocupados com os vários problemas que enfrentaram neste início de safra e com os custos de colheita em alta, Os cafeicultores continuam vendendo apenas o necessário para fazer frente às despesas imediatas. Acreditam que os preços atuais não remuneram corretamente os custos e o trabalho envolvido na produção. 

Até dia 21, os embarques de julho estavam em 893.114 sacas de café arábica, 28.470 sacas de café conilon, mais 118.747 sacas de café solúvel, totalizando 1.040.331 sacas embarcadas, contra 1.365.990 sacas no mesmo dia junho. Até o mesmo dia 21, os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em julho totalizavam 1.419.118 sacas, contra 1.771.062 sacas no mesmo dia do mês anterior. 

A bolsa de Nova Iorque – ICE, do fechamento do dia 15, sexta-feira, até o fechamento de hoje, sexta-feira, dia 22, caiu nos contratos para entrega em setembro próximo 565 pontos ou US$ 7,47 (R$ 24,55) por saca. Em reais, as cotações para entrega em setembro próximo na ICE fecharam no dia 15 a R$ 637,06 por saca, e hoje dia 22, a R$ 616,80 por saca. Hoje, sexta-feira, nos contratos para entrega setembro a bolsa de Nova Iorque fechou com baixa de 495 pontos. 

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Fonte:
Escritório Carvalhes

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