Mercado de café: Brasil se aproxima da colheita, por Rodrigo Costa
A pandemia do COVID-19, com mais de 1.2 milhões de pessoas infectadas no mundo, provocou uma queda de 701 mil postos de trabalhos em março nos Estados Unidos, onde o número de infectados rompou 300 mil pessoas até agora.
Na semana do dia 20 de março outros 6.6 milhões de americanos aplicaram para o auxílio-desemprego, acumulando em duas semanas 10 milhões de cidadãos contando com o benefício.
O governo Trump estima que as mortes no país relacionadas à nova gripe podem chegar a 200 mil pessoas, com o pico de contágio acontecendo daqui a duas semanas, motivo pelo qual o presidente recomendou as pessoas manterem a distância social até o fim de abril – o que provavelmente deverá ser prorrogado novamente.
Na Europa a situação infelizmente não melhorou e os dados das vítimas são tristes e alarmantes principalmente para a Itália, a Espanha e a França.
No Brasil as estatísticas não são das piores, muito embora a falta de testes pode estar escondendo a realidade. Os líderes políticos, entretanto, parecem estar mais focados em brigar entre si do que em passar uma mensagem clara e segura à população.
As bolsas acionárias caíram novamente nos últimos cinco dias – após o DowJones ter tido a pior perda em um trimestre desde 1987 e os índices dos principais mercados caírem entre 14% e 31% de janeiro a março (o Ibovespa desmoronou 41% em reais e 51% em dólares).
O índice CRB de commodities apreciou nos últimos cinco dias puxado pela alta de 34% do petróleo e 22% da gasolina – antecipando um suposto corte de produção do primeiro a ser anunciado pela Rússia na segunda-feira.
Curioso notar que tanto o S&P500 quanto o CRB caíram em cinco das últimas seis sextas-feiras, (ou seja, antes do fim de semana) – quando os lockdowns começaram - talvez em função dos investidores reduzirem suas exposições com o receio do crescimento dos casos de coronavírus nos dois dias de mercados fechados.
O café em Nova Iorque encerrou a semana praticamente inalterado, mas testou os US$ 120 centavos por libra-peso não conseguindo sustentar com o Real fazendo novas mínimas nominais históricas.
Os diferenciais na principal origem enfraqueceram com a combinação do terminal e do cambio, permitindo os preços no mercado físico romperem os R$ 600.00 por saca – excelente timing dada a aproximação da colheita.
Regiões produtoras do conilon já começaram a colher, mas só devem acelerar a partir do meio de abril. Para o arábica a expectativa é de a Zona da Mata e algumas outras áreas iniciarem em maio.
Muito tem se discutido entre os participantes sobre o impacto do vírus no Brasil por eventualmente não permitir a movimentação de trabalhadores no campo. Alguns analistas têm alertado para a perigo de o café ficar mais tempo do que o ideal na arvore, prejudicando a qualidade dada uma possível falta de mão-de-obra.
Outros mencionam que a necessidade dos trabalhadores de ganhar dinheiro atrairá pessoas o suficiente, ainda mais contando com o apoio do estado, como fez o Espírito Santo criando uma cartilha para a colheita com a utilização de métodos de prevenção do coronavírus.
Há também a questão da mecanização das fazendas.
Em conversas com leitores e amigos colaboradores pude notar uma maioria acreditando que em torno de 50% a 60% do que é produzido de arábica é colhido com máquinas, necessitando poucos trabalhadores.
Já para o conilon, mesmo onde se usa colheitadeira alguns dizem que é preciso de mais gente para apanhar o café – comparando com o arábica.
Ponto importante a ser mencionado é que nós estamos chegando a um novo ano safra e a disponibilidade não diminuiu o suficiente para causar aperto no Brasil, como comprovarão as exportações de março e abril.
Do lado da demanda os torradores continuam ativos no mercado spot, reabastecendo as prateleiras dos supermercados para atender os consumidores que estão bebendo mais café em suas casas e por ora recebendo (ou em vias de receber) ajuda dos governos.
Os estoques certificados da ICE caíram abaixo de 2 milhões pela primeira vez desde o dia 24 de abril de 2018, e a firmeza dos diferenciais dos suaves juntamente com a falta de café nas origens produtoras da qualidade pode acelerar o uso do inventário nos próximos meses.
Voltando ao terminal, nesta terça-feira os fundos de índice vão começar a rolar seus contratos de maio para os meses futuros e por isso o spread já enfraqueceu novamente, com os agentes antecipando o movimento – pode ser apenas temporário.
A incerteza da duração da quarentena ao redor do mundo deixa conturbada a análise e permite opiniões para todos os gostos. Para o café, assim como para os alimentos com um todo, parece que a queda das cotações deve ser limitada após tanto dinheiro estar sendo injetado no sistema.
Não haverá comentário na próxima semana, voltarei a escrever no dia 18 de abril.
Uma ótima semana santa e uma Páscoa de paz e saúdo a todos,
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
0 comentário
Cooabriel fala sobre a expectativa da safra do café conilon para o Espírito Santo e Bahia
Café Produtor de Água: em visita à Cooabriel, presidente do CNC anuncia implantação do projeto no ES
Sustentabilidade, tecnologia e tendências de consumo são destaques no primeiro dia da Semana Internacional do Café
Preços do café mantêm alta nesta 5ª feira (21) diante preocupação com as safras futuras
Café/Cepea: Robusta renova recorde; preço do arábica é o maior desde 1998
Preços do café sobem mais de 4% na Bolsa de NY nesta 4ª feira com oferta ainda preocupando