Mercado de açúcar: "À espera de um milagre", por Arnaldo Luiz Correa
As tensões políticas entre os Estados Unidos e a China derrubaram as cotações do petróleo no começo da sexta-feira, com o WTI chegando a negociar a 30.71 dólares por barril recuperando-se no final do pregão e encerrando a semana em 33.54 dólares, que representa uma alta de mais de 13% em relação à semana anterior. O mesmo ocorreu com o mercado futuro de açúcar em NY, que encerrou a sexta-feira negociando pouco abaixo dos 11 centavos de dólar por libra-peso, valorizando-se pouco mais de 13 dólares por tonelada em relação à semana passada.
Foi esta uma semana de menor volatilidade? Dá para ficar animado e acreditar em recuperação do mercado? Penso que ainda não. Embora a variação semanal do açúcar tenha sido positiva ao longo de toda a curva de preços em NY, valorizando na semana de 9 a 13 dólares por tonelada e mesmo com o real se apreciando frente à moeda americana fechando próximo à mínima de R$ 5,5341, notícias acerca da enorme retração do consumo vindo de várias direções poderão afetar ainda mais os preços e os humores do mercado nas próximas semanas.
A indústria automobilística no Brasil disse contar com uma redução de 40% na venda de veículos novos no ano de 2020. Quem pensava em trocar de carro vai adiar a compra por um bom tempo. Com isso, estimamos que a frota brasileira de veículos leves que deveria encerrar o ano de 2020 com 38.7 milhões de veículos, deve encostar – com sorte - nos 38 milhões, reduzindo o consumo no Ciclo Otto em mais de 800 milhões de litros de combustíveis.
O consumo mundial de açúcar também pode sofrer uma queda maior do que aquela esperada pelo mercado. A Índia, por exemplo, estima que a pandemia vai reduzir o consumo daquele país em 2 milhões de toneladas de açúcar. O mês de maio normalmente é profícuo para o consumo de açúcar na Índia tendo em vista as festividades (muitos casamentos ocorrem durante este mês) e, desta vez, aditivamente, pela celebração do Ramadã. Num país que possui 150 milhões de muçulmanos, as festividades do Ramadã se encerram neste sábado após 30 dias e a pandemia afetou o consumo.
Boa parte dos analistas de mercado começa a revisar para cima suas estimativas acerca da produção de açúcar para esta safra. Os números superam os 37 milhões de toneladas (a primeira estimativa da Archer Consulting é de 35.6 milhões de toneladas). Por outro lado, quando analisamos as exportações brasileiras acumuladas nos últimos doze meses, de 19.4 milhões de toneladas, há de se fazer um enorme esforço para acreditar que o açúcar excedente a ser produzido este ano, de cerca de 9 milhões de toneladas, vai encontrar guarida no mercado internacional de braços abertos. Não vai.
O Brasil vai suprir, sem dúvidas, boa parte do vácuo deixado por Índia e Tailândia, mas não vai conseguir terminar a safra exportando 28 milhões de toneladas de açúcar. A média de exportação brasileira acumulada em doze meses, nos últimos dez anos, foi de 25 milhões de toneladas de açúcar. Nosso número está próximo de 23.5 milhões de toneladas.
Segundo estimativas da Unidade de Inteligência do periódico inglês The Economist, a economia na zona do Euro deve encolher 6.9% neste ano. No Reino Unido, espera-se uma queda de 8.7%. Os Estados Unidos, cujo número de desempregados em nove semanas escalou para mais de 38 milhões de pessoas, deve contrair 3.8%, enquanto o Brasil deve amargar 5.5% de redução na atividade econômica. Esse quadro desalentador dificilmente poderia dar respaldo a um extraordinário crescimento na exportação de açúcar. O derretimento é global.
Não é à toa que as usinas mais bem organizadas, aquelas que estão estrutural e financeiramente, por assim dizem, no primeiro quartil do setor, aceleram as fixações dos açúcares de exportação aproveitando os excelentes preços obtidos com a venda de futuros e NY e do câmbio. Pelo fechamento da sexta-feira, a média simples dos meses correspondentes à safra 2021/2022 trazidos para valor presente descontada a taxa SELIC, liquidavam o equivalente a R$ 1,432 por tonelada FOB Santos.
Na nossa visão, a redução drástica do consumo esperado de combustíveis para este ano no País, além do encolhimento na demanda interna de açúcar devido à queda na renda das famílias, é natural que haja um excedente de açúcar no final desta safra. Um estoque de passagem que se prevê alto e que pode pressionar imensamente os preços no último trimestre do ano, em especial se se confirmarem as previsões de respeitados economistas de que o pior ainda está por vir e, também, se houver um agravamento na saúde das empresas.
O mercado pode, no entanto, esperar por um milagre. A descoberta e imediata disponibilização, a baixo custo, de uma vacina que possa imunizar e colocar o mundo de volta ao passado, é sempre uma esperança. Até agora, isso é apenas um pensamento desejoso.
Os fundos não-indexados reduziram suas posições vendidas e agora possuem apenas 10,500 contratos vendidos à descoberto. Pode ser que tenham reduzido ainda mais, pois esse número refere-se à última terça-feira.
O recente desempenho do açúcar pode ser considerado espetacular. Em 28 de abril negociou a 9.05 centavos de dólar por libra-peso e nesta sexta-feira encerrou a 10.99 centavos de dólar por libra-peso. Foi uma bela recuperação, ainda que os fundamentos de outrora eclipsados pela pandemia mundial nos recomendem agora a aproveitar os bons preços.
Um consumidor industrial disse-me estar arrependido de não ter feito nenhuma posição de compra quando o mercado orbitava os 9.00-9.25 centavos de dólar por libra-peso. Raramente vimos o mercado futuro de açúcar em NY ficar abaixo dos 9.50 centavos de dólar por libra-peso por um longo período de tempo. Só mesmo em ocasiões de enorme ruptura nos fundamentos, ou situações de caos, normalmente provocadas por fatores exógenos.
De 2011 até hoje, NY ficou acima de 9,50 centavos de dólar por libra-peso em 99.9% das vezes. É isso mesmo, você leu certo: 99.9% das vezes. Se preferir um histórico mais longo, de 2000 para cá, NY ficou acima de 9.50 centavos de dólar por libra-peso em 74.36% das vezes. Mas ainda assim, muitos consumidores industriais não se animam a se protegerem quando o mercado bate nesse nível.
A esquerda brasileira virou um cadáver insepulto. Nesta semana Lula e Dilma fizeram uma live na internet para animar a corriola de protozoários que ainda os seguem babando. Havia menos de 1,000 pessoas na live de Lula e pouco mais de 400 na de Dilma. As eleições de 2022, que ainda estão longe, mas já começam a ferver alimentadas pela inépcia e ausência de um robusto plano de governo do presidente Bolsonaro, deverão se concentrar entre a extrema direita, a direita e a centro-direita. Até lá, vamos procurar sobreviver.
Um bom final de semana a todos
Arnaldo Luiz Corrêa
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