Mercado de açúcar: "A crise ensina", por Arnaldo Luiz Correa, da Archer
O real conseguiu leve recuperação esta semana contra o dólar, fechando a 5.1078. Só para lembrar que a cotação média da moeda norte-americana em março foi de R$ 4.8966, portanto pode ser que tenhamos uma estabilização do real em níveis mais palatáveis. O VIX, um índice de mercado que mede a expectativa de volatilidade das ações, mas que de certa forma, contamina outros ativos de risco, está caindo. Portanto, pode ser que tenhamos dias mais calmos.
Mas, é claro que o cenário não está cor-de-rosa, muito longe disso. No entanto, 10 centavos de dólar por libra-peso talvez seja um nível muito desconfortável para ficar vendido a descoberto. O vencimento maio/2020 encerrou a semana encurtada pelo feriado de Páscoa cotado a 10.50 centavos de dólar por libra-peso contra 10.29 na semana passada, um incremento de 4.63 dólares por tonelada. Em reais houve uma melhora de 22 reais por tonelada no mesmo período.
No longo prazo vejo com extrema preocupação como o setor sucroalcooleiro vai atender às demandas de açúcar e etanol dos mercados interno e externo projetadas para os próximos quatro anos. O que está ocorrendo hoje vai impactar imensamente as decisões acerca de possíveis expansões na produção de cana e também nos projetos de etanol de milho que tem ocupado razoável espaço nas discussões do dia-a-dia das empresas do setor. Muitas empresas colocaram suas fichas na fabricação de etanol de milho que hoje está economicamente comprometida devido não apenas à queda do petróleo e o derretimento do etanol em função da demanda, mas também pela evolução do preço da matéria prima no Brasil.
O país que é o maior produtor de cana do planeta é também o que praticamente produz a mesma quantidade de ATR desde a safra 2009/2010. O espaço que o Brasil ocupava anteriormente na participação do mercado internacional de açúcar foi sendo paulatinamente preenchido pela Índia (com pesados subsídios) e pela Tailândia. A recessão mundial que se avizinha vai reduzir a arrecadação dos governos e coloca em xeque o aumento dos subsídios que hoje são insuficientes para cobrir o custo de produção da Índia, por exemplo.
Enquanto boa parcela das usinas no Centro-Sul consegue produzir açúcar e ter margem com os preços atuais do mercado internacional, muito em função da desvalorização do real, o mesmo não ocorre com outros países concorrentes. A desvalorização do real frente ao dólar nos últimos doze meses foi de 26%, enquanto que a Índia viu sua moeda desvalorizar 8,4% e a Tailândia 3.7%. Se os preços atuais vão afastar os concorrentes, é prematuro afirmar, mas o fato é que o Brasil pode sair fortalecido dessa situação atual. Só precisa sobreviver.
A gestão de risco ganha importante papel em situações como as que estamos vivendo. Criatividade, pensar fora da caixa e buscar soluções alternativas é o nome do jogo. Esta semana, numa concorrida live promovida pela XP Investimentos, o presidente da Raízen, Ricardo Mussa, afirmou que “o que podemos aprender com essa crise é muita gestão de risco”. Para garantir margem na venda do etanol, exemplificou o uso de cross-hedging (técnica que consiste em neutralizar o risco de um ativo mediante a tomada de posição de outro ativo), atuando no mercado futuro de gasolina. Já Fábio Venturelli, presidente do Grupo São Martinho, argumenta que “a crise ensina, mas não se sabe se quem não teve a chance de aprender no passado, vai aprender dessa vez”. Uma coisa não dá para negar, o setor evoluiu excepcionalmente nesse quesito.
Ciosos da alta volatilidade do câmbio, alguns bancos estão repassando esses riscos na hora de cotar o NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, para 180 dias ou mais, para seus bons e velhos clientes. Em vez de incorporarem o cupom (grosso modo, a taxa de juros local menos a taxa de juros externa) no valor da operação, os bancos descontam de R$ 0,0800 ou mais da cotação à vista, que em alguns casos equivalia naquele momento a um desconto de quase 3% ao ano. Inacreditável, pois qualquer empresa pode simplesmente vender o câmbio, aplicar os reais em um título público e no resgate pagar a dívida e embolsar a diferença. É como disse um contrariado executivo financeiro do setor, com muita propriedade, “onça pode até se vestir de gato, mas é onça”.
E o Nassim Taleb, hein? O fundo para o qual ele dá consultoria gerou um retorno de 3,600% em março para seus cotistas. Imagine isso. Quem colocou US$ 10,000 dia 29 de fevereiro no fundo tinha US$ 370,000 no dia 31 de março. O fundo chama-se Universa Tail Fund, e trabalha com riscos enormes de cauda (tail), isto é, esquadrinha minuciosamente eventos improváveis objetivando ganhar muito dinheiro caso eles ocorram. Eles preferem chamar de seguro contra catástrofes. Quanto valia uma put (opção de venda) de 12 centavos de dólar por libra-peso para vencimento em maio/2020 quando o mercado negociava acima de 15 centavos de dólar por libra-peso há apenas 30 dias? Ë mais ou menos essa a abordagem.
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A ativista política disfarçada de jornalista Miriam Leitão disse que “essa crise é a maior e mais complexa que o país já enfrentou em muitas décadas e no comando está o mais insensato dos presidentes da República”. Certamente, uma afirmação como essa poderia vir de alguém que estivesse vestindo uma camisa de força ou que tenha tido um completo apagão no cérebro suficiente para remover da memória os anos de martírio que o país viveu sob o domínio da esquerda que a Sra. Leitão sempre aplaudiu, em especial daqueles fatídicos anos em que a pascácia Sra. Rousseff brindava os brasileiros com suas parvoíces. O Brasil carece de jornalismo imparcial.
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Há exatos 50 anos, numa época em que a internet e os smartphones ainda não existiam e as fontes confiáveis de informação eram basicamente o rádio e os jornais, dois assuntos inquietavam os garotos da minha idade que eram recorrentes nos encontros das turmas no bairro: se os astronautas da Apolo XIII conseguiriam retornar vivos à Terra depois da fracassada missão em direção à Lua e, por que diabos, Paul McCartney anunciara o fim da maior banda de todos os tempos: The Beatles. Bons e saudosos tempos aqueles em que as nossas preocupações eram tão pueris.
Uma Feliz Páscoa para todos
Arnaldo Luiz Corrêa
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