Mercado de açúcar: USINAS ACELERAM AS FIXAÇÕES PARA 2020/2021 (Archer)
O mercado futuro de açúcar em NY visitou os 15 centavos de dólar por libra-peso, nível que poucos acreditavam ser possível há menos de seis meses. Fundos contribuíram enormemente para a pujante reação dos preços que tem a ajuda de um déficit mundial crescente a cada dia, com a situação da Tailândia, que apresenta menor produção de açúcar e o Brasil, que mostra crescimento vigoroso no consumo de etanol, alimentado por boas perspectivas da economia.
Os fundos estão comprados 130,000 lotes e podem ter ainda fôlego para comprar mais. Quanto mais? Essa é uma pergunta de um milhão de dólares (ou mais). O recorde deles é uma posição comprada de 218,000 lotes. Se eles elevarem a posição para tal patamar, considerando o esforço hercúleo que tiveram para movimentar o mercado a cada dólar por tonelada (212 mil toneladas de açúcar para cada dólar por tonelada de alta), então, numa regra de três simples, o mercado bateria no máximo em 16 centavos de dólar por libra-peso.
Na sexta-feira, NY fechou a 14.92 centavos de dólar por libra-peso enquanto a cotação do dólar encerrava a R$ 4,3210, o que leva o fechamento do contrato futuro março/2020 a 1,481 reais por tonelada equivalente FOB Santos, o mais alto valor nominal desde a primeira semana de fevereiro de 2017.
Meu receio é que, nesse momento, algumas usinas comecem a olhar o mercado com insensibilidade e não aproveitem os bons preços. “Ah, mas você não acha que pode subir mais?”. “Sim, acho, mas ninguém quebra com lucro no bolso”. Convenhamos, se uma usina não ganha dinheiro com R$ 1,481 por tonelada, ela está no mercado errado. Você tem medo de fixar e o mercado continuar subindo? Compre uma call (opção de compra) fora-do-dinheiro no preço de exercício um pouco acima do valor de paridade do etanol, por exemplo. Existem outras tantas estratégias. Converse com o gestor de risco, desde que ele não seja ao mesmo tempo o médico e o dono da farmácia onde você vai comprar o remédio que ele receitou, se é que você me entende.
No momento, apenas dois fantasmas podem apavorar os produtores brasileiros: o real se valorizando frente ao dólar e/ou a cotação do petróleo no mercado internacional trafegando abaixo dos 50 dólares por barril. Se combinados, o preço da gasolina ao consumidor despenca, o hidratado perde competitividade e as usinas voltam os olhos para a produção de açúcar. Como o real alcançou mínimas nominais históricas, achamos que esses dois pontos tem poucas chances, embora reconhecemos que são nesses eventos improváveis que os cisnes negros se empanturram. Traduzindo para a gestão de risco, comprar puts (opções de venda) fora do dinheiro para os vencimentos mais longos é uma estratégia interessante se você tem constantes pesadelos com cisnes negros bicando a sua cabeça.
A ANP (Agência Nacional do Petróleo) fechou os números de consumo no Brasil no ano de 2019: 60.7 bilhões de litros total, o maior consumo da história, dividido em 22.5 bilhões de litros de hidratado, 10.3 bilhões de litros de anidro e 27.9 bilhões de litros de gasolina A. No entanto, em gasolina equivalente, o consumo de 2019 fechou em 53.95 bilhões de litros apenas 200 milhões abaixo do maior volume da história ocorrido no acumulado de doze meses em junho de 2015. Não temos dúvida que 2020 será um ano de consumo recorde e, consequentemente, de bom suporte nos preços.
A Archer Consulting divulgou sua quarta estimativa do volume de fixação de preços das usinas para a safra 2020/2021. Quase 62% do volume estimado de exportação de açúcar do Brasil já está fixado. O preço médio alcançado foi de 56,25 centavos de dólar por libra-peso, o maior desde a safra 2017/2018 e o segundo mais elevado nos últimos seis anos. O valor médio de fixação é de 1,292 reais por tonelada FOB Santos com polarização, resultado de uma fixação em NY de 13.63 centavos de dólar por libra-peso e um câmbio médio hedgeado no período de R$ 4,1210.
Nos últimos 20 anos, em 85% das vezes, o preço médio mensal mais alto obtido pelo açúcar ocorreu no período outubro/novembro/dezembro/janeiro/fevereiro. Também vale conferir que, no mesmo período de 20 anos, em apenas 40% das vezes o preço médio do mês de fevereiro foi maior do que o preço médio observado no mês anterior. No entanto, nosso modelo de previsão aponta que o preço médio de fevereiro deverá ser maior do que aquele observado em janeiro último: 14.51 centavos de dólar por libra-peso contra 14.16 em janeiro.
Histórias do Mercado: há muitos anos, no início de um abril chuvoso, uma conhecida trading passava por um enorme aperto no caixa em função da elevação do preço das commodities e da chamada de margem nas operações com futuros que mantinha junto às corretoras e que drenavam totalmente sua liquidez. O diretor financeiro da empresa, ávido por conseguir uma linha de crédito adicional junto ao mercado financeiro, mandou seu gerente para uma decisiva e importante reunião com um banco numa época em que não havia celulares. Terminada a reunião, o gerente precisava ligar para o diretor para informar se a negociação dera certo. “Bom dia diretor”, falava o gerente com a voz mostrando entusiasmo. “Fala, rapaz, como foi?”. “Chefe, conseguimos cinco milhões de dólares”. “Viva! Excelente, grande trabalho, você é demais, parabéns”, respondia o chefe, sem conseguir conter o entusiasmo, que desaparece quando o gerente interrompeu do outro lado da linha “Diretor, é brincadeira, hoje é primeiro de abril”. Descontrolado, o diretor proferiu meia dúzia de palavras impublicáveis e bateu o telefone na cara do atrevido gerente. Ato contínuo, correu na sala do presidente, pedindo a cabeça do funcionário amalucado, que foi devidamente despedido assim que retornou ao escritório.
Já garantiu sua vaga para o XXXIII Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos? Não perca tempo. O Curso vai ocorrer nos dias 24, 25 e 26 de março, no Hotel Wall Street, na Rua Itapeva, em São Paulo – Capital. Junte-se aos mais de 1.800 profissionais que já fizeram e aprovaram.
Um bom final de semana e excelente viagem para os que se destinam a Dubai para a Conferência de Açúcar que ocorre a partir deste domingo.
Arnaldo Luiz Corrêa
0 comentário
Estável nesta 6ª feira (20), açúcar encerra semana com baixas acumuladas de mais de 5% em NY
Preços do açúcar seguem com nova redução nas bolsas de NY e Londres nesta 6ª feira
Presidente da Comissão Nacional de Cana-de-Açúcar da CNA participa de encontro em João Pessoa
Açúcar abre próximo da estabilidade e caminha para perda semanal acima de 6% em NY
Câmara aprova programa de incentivo a fontes renováveis e inclui produtores de cana
Açúcar: Possibilidade da Índia exportar pressiona cotações e NY tem nova baixa acima de 1%