Mercado de açúcar: UMA SAFRA DE BONS PREÇOS, por Arnaldo Luiz Correa
Ninguém pode reclamar que o mês de janeiro foi enfadonho para o mercado de açúcar. O início do ano foi excelente para as usinas, em especial para aquelas que - de maneira disciplinada - aguardaram o momento adequado para fazer o hedge do açúcar de exportação.
O mês veio recheado de acontecimentos que tumultuaram as commodities, como a crise americana com o Irã que afetou o mercado de energia, bem como o coronavírus que trouxe pessimismo nos mercados mundiais e tem feito com que o real atingisse baixa histórica nominal.
No começo do semestre passado, este escriba estava praticamente sozinho entre os analistas de mercado que acreditavam, com base nos sólidos fundamentos emanados principalmente do mercado de etanol, que os preços do açúcar se recuperariam no início deste ano. Também recomendamos aqui que os hedges de venda de açúcar apreçados contra o vencimento outubro fossem rolados para o vencimento seguinte, pois acreditávamos que os preços naquele momento estavam abaixo da média em 98% dos eventos observados nos últimos dez anos corrigidos pelo IGPM. Quem entendeu os argumentos apresentados melhorou seu valor médio de fixação.
Desde o nosso último relatório enviado aos leitores na semana anterior ao Natal, antes do período de recarga das baterias deste escrevinhador, assistimos à uma reviravolta na posição dos fundos e por consequência, um aumento substancial nos preços do açúcar em NY. Passamos pela fase de euforia, logo em seguida os fundos devem ter readequado seus livros e agora, assim entendemos, quando a poeira baixa e todos fazemos nossos cálculos, vimos que os preços estão muito bons para os produtores.
Observando o fechamento de NY nesta sexta-feira, o açúcar com vencimento para março/2020 encerrou a 14.61 centavos de dólar por libra-peso, equivalendo a 1,440 reais por tonelada. Até as usinas mais deficientes ganham dinheiro com esse preço. E isso merece um alerta.
Os preços atuais do açúcar em NY, olhando a extensa curva que se prolonga até 2021/2022 e usando o NDF (contrato à termo de dólar com liquidação financeira) remuneram satisfatoriamente grande parte das usinas, cujo custo médio de produção é estimado pela Archer em cerca de R$ 1,100 por tonelada FOB Santos.
O que se nota é que as usinas aproveitaram e continuam aproveitando a alta de preços em NY e aceleraram as fixações de açúcar para a safra 2020/2021 e iniciaram os hedges de venda também para 2021/2022. Embora ainda não temos o volume de fixação de preços acumulado até janeiro, não seria exagero afirmar que poderemos ver um percentual de fixação acima dos 50%.
Por esse motivo, ou seja, pela aceleração verificada nas fixações de preço vamos ter uma safra com mais açúcar este ano. Não acreditamos que essa ligeira mudança no mix pró açúcar vá impactar os preços da commodity, pois grande parte desse aumento da disponibilidade é resultado das fixações obtidas antecipadamente pelas usinas mais bem capitalizadas que compararam o resultado líquido dessas operações com açúcar com a curva provável do hidratado para o início da safra. Assim, grosso modo, fixaram antes de mudar o mix porque o açúcar mostrava boa rentabilidade. Preferiram o certo (fixar NY e câmbio) ao duvidoso (não há instrumentos para fixar hidratado para, digamos, julho de 2020, com exceção de uma provedora de OTC que desenvolveu um produto com esse fim).
Mais cana direcionada para a produção de açúcar vai reduzir a disponibilidade de hidratado. O consumo de combustíveis no Brasil deve crescer 5% este ano. A estimativa é nossa. Também devemos ter um acréscimo líquido na frota de veículos leves entre um milhão e um milhão e duzentas mil unidades. Esses dois fatores somados devem criar uma demanda adicional de 1.5-2.0 bilhões de litros para o ano de 2020. Por outro lado, a produção de ATR está estagnada há mais de uma década e não se vislumbra aumento de produção no horizonte próximo. São grandes as chances de o cenário econômico favorável acirrar a arbitragem entre açúcar no mercado internacional e o hidratado internamente.
Nossa visão é que o açúcar poderá ser negociado a prêmio no segundo semestre dependendo do comportamento do petróleo. As tradings deverão optar por contratos comerciais mais longos, pois estão preocupadas com o eventual estreitamento dos prêmios mais adiante. Usinas com eficiente planejamento financeiro e folga no caixa podem esperar para obter melhor rentabilidade futuramente. Vai ser um ano muito interessante que vai proporcionar boa remuneração para as usinas independentemente do mix de produção. A gestão de risco foi protagonista este ano e não apenas coadjuvante.
Os fundos aumentaram o long de 13,500 lotes para 125,500 de 13/12 para cá, enquanto o mercado passou de 13.50 para 14.61 centavos de dólar por libra-peso. Ou seja, cada acréscimo de um dólar por tonelada no preço do açúcar foi preciso que os fundos comprassem mais de 220,000 toneladas nos futuros NY. Quem estava dando liquidez para essa robusta compra dos fundos? As usinas no Brasil fixando preços e os exportadores na Índia muito felizes em poder maximizar o volume de exportação.
Conclusão: usinas deverão continuar aproveitando os preços remuneradores em NY. Hidratado vai ter um ano de bom consumo. Disponibilidade de produto pode ser afetada se o as projeções de PIB se confirmarem. Em contrapartida, o agravamento do coronavírus e a queda acentuada do petróleo são dois pontos que podem minar a estrada virtuosa que vimos adiante.
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Histórias do mercado: um trader me conta que há muitos anos tinha um chefe na mesa de operações que gostava de orientá-lo na execução do trabalho. Dizia ele: “se você sentir que o mercado vai subir, você compra; mas se você perceber que o mercado vai cair, aí então você vende”. Eu vivo e não vejo tudo.
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Um bom final de semana
Arnaldo Luiz Corrêa
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