Produtor americano nunca iniciou um plantio com preços tão elevados para soja e milho, o que pode promover surpresas no relatório de área
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Entrevista com Luiz Fernando Gutierrez Roque - Analista da Consultoria Safras & Mercado sobre o Fechamento de Mercado da Soja
O mercado da soja registrou uma sessão de intensa volatilidade, mas sempre operando do lado positivo da tabela na Bolsa de Chicago, encerrando o pregão desta quarta-feira (30) com ganhos de 18,75 a 21,50 pontos nos principais vencimentos. Dessa forma, o contrato maio terminou o dia com US$ 16,64 e o julho com US$ 16,42 por bushel.
Os preços recuperam uma pequena parte das perdas intensas registradas na sessão anterior, quando o mercado foi pressionado e passou por uma liquidação de posições diante de notícias mais otimistas sobre um possível acordo entre Rússia e Ucrânia.
No entanto, o foco do mercado de grãos está cada vez mais sobre a divulgação dos novos relatórios que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) traz nesta quinta-feira, 31 de março, em especial sobre os dados de área de plantio da safra 2022/23. Para o analista de mercado Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado, trata-se de um dos mais importantes relatórios do primeiro trimestre, principalmente diante do atual quadro de oferta e demanda.
"O produtor americano nunca tomou a decisão de plantar com preços de soja e milho tão elevados, e com margens de lucro tão elevados (...) O mercado está muito volátil e o que ainda mexe com ele são questões secundárias, como a guerra na Ucrânia e os novos lockdowns na China. E o mercado está há muito tempo respeitando essa faixa de US$ 16,50 a US$ 17,00 na soja, então é normal que tenhamos essa volatilidade frente às notícias. E o que pode mexer com o mercado de forma mais contundente é esse relatório. O potencial de surpresa é grande", diz.
Para Gutierrez, embora as expectativas do mercado indiquem uma pequena redução na área de milho, a evolução do conflito no Leste Europeu pode ter estimulado um olhar ainda mais focado no milho, podendo também ampliar a área dedicado ao cereal.
Em se confirmando um aumento das áreas dedicadas à soja e milho, o relatório poderia exercer uma pressão considerável - mesmo que seja pontual - sobre as cotações em Chicago. De outro lado, o analista lembra que mesmo com uma área maior e uma safra cheia nos EUA, as perdas na CBOT podem ser pontuais porque as relações de oferta e demanda ainda estariam bastante desequilibradas, o que manteriam as cotações ainda em bons patamares.
EXPECTATIVAS DE ÁREA
Para a soja, as projeções variam de 34,8 a 37,31 milhões de hectares, com média de 35,91 milhões. No fórum o número veio em 35,61 milhões de hectares, já superando a área da safra passada, de 35,29 milhões.
Já no caso do milho, os números trabalham em um intervalo de 36,3 a 37,84 milhões de hectares, com a média das expectartivas em 37,23 milhões, alinhada com a projeção de 24 de fevereiro. Na safra 2021/22, os EUA cultivaram 37,78 milhões de hectares com o cereal.
As expectativas indicam também um considerável aumento na área plantada com trigo nos EUA, a qual poderia ficar entre 18,58 e 19,79 milhões de hectares, com média em 19,33 milhões, e frente aos 18,9 milhões da safra anterior. No fórum, o USDA estimou a área dedicada ao cereal em 19,43 milhões de hectares.
MERCADO BRASILEIRO
No Brasil, os preços seguem pressionados pelo dólar em queda frente ao real. No entanto, Gutierrez afirma que a pressão maior sobre as cotações pode já ter ocorrido e que apesar das baixas, os preços ainda são boas referências.
"Oportunidades ainda podem acontecer, embora os preços ainda sejam bons, mas acredito que haja espaço para eles voltarem, principalmente se o câmbio voltar para um patamar um pouco mais alto. Olhando para a questão interna, a disputa pela soja brasileira está muito forte, os prêmios tendem a ficar altos ao longo de todo ano e no segundo semestre, quando a soja ficar mais essa escassa, a briga pode ficar mais forte", afirma Luiz Fernando Gutierrez.
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