Soja: Pior reação de Chicago ao ataque já passou, diz Jack Scoville. Cenário segue positivo para o BR
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Entrevista com Jack Scoville - Analista da Price Futures Group sobre o Fechamento do Mercado da Soja
DownloadO ataque americano que resultou na morte do comandante iraniano Soleimani na madrugada desta sexta-feira (3) provocou uma bagunça generalizada nos mercados internacionais e as cotações da soja terminaram o dia perdendo mais de 1% na Bolsa de Chicago.
As baixas foram de 13,50 a 15 pontos nos principais contratos, com o janeiro fechando em US$ 9,30, o março, com US$ 9,41 e o maio/20, US$ 9,54 por bushel. O mercado operou durante todo o pregão com perdas intensas, porém, foi amenizando-as ao longo do dia.
Como explicou o diretor da Price Futures Group, Jack Scoville, o movimento é passageiro, mas deve ser monitorado. O Irã, afinal, já prometeu que irá "vingar a morte" de um dos seus mais importantes líderes, e as retaliações poderão vir nos próximos dias.
"Provavelmente, já vimos a pior reação, e o que nos indica é que isso não dure muito mais. A partir de agora pode seguir negociando mais 'misto'", diz o analista americano em entrevista ao Notícias Agrícolas.
Destroços em chamas em rodovia perto do aeroporto internacional de Bagdá - Foto: Reuters
Além da intensa aversão ao risco que provocou baixas em quase todas as commodities nesta sexta, à exceção do petróleo - que subiu mais de 3% depois da notícia do ataque - o mercado futuro norte-americano da soja ainda foi pressionado pelos fracos números das vendas semanais norte-americanas para exportação.
O reporte do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) indicou um volume de 330,3 mil toneladas na semana encerrada em 26 de dezembro e assim as vendas ficaram aquém das expectativas do mercado de 350 mil a 1,050 milhão de toneladas. O volume marcou a mínima da temporada. A China foi o principal comprador.
Em todo o ano comercial, as vendas somam 29.491,6 milhões de toneladas, abaixo de mais de 30 milhões no acumulado do ano comercial anterior. O USDA estima as exportações americanas 2019/20 em 48,31 milhões de toneladas.
Por outro lado, o mercado ainda carrega as expectativas de que China e EUA assinem a fase um de seu acordo comercial já no próximo dia 15, o que ajuda no suporte aos preços. E para Scoville, a assinatura acontece mesmo na data anunciada por Donald Trump.
"Os chineses precisam comprar nos EUA, nós precisamos vender para eles, e não há nenhum problema nisso. Entretanto, o produtor americano, que estava prestes a voltar ao mercado para vender sua soja volta a se retrair depois dessas baixas. Da mesma forma para o milho.
Assim, segundo o analista, as cotações deveriam voltar a se aproximar dos US$ 9,75 por bushel para retomar seus negócios.
"Depois de tudo o que passaram durante todo esse ano (2019), eles realmente precisam ser remunerados, isso significa que, especialmente para a soja, eles precisam manter estoques para venderem aos chineses", explica.
E Scoville acredita ainda que a China só está esperando para que tudo se oficialize para voltar ao mercado norte-americano agora, já que precisam da soja dos Estados Unidos.
NO BRASIL
No entanto, afirma ainda que o movimento não deverá tirar o protagonismo do Brasil nas exportações globais de soja. "Eu vejo o Brasil vendendo só um pouco menos de sua soja", acredita.
O ritmo dos negócios no Brasil nestes primeiros dois dias do ano foi bastante lento, com os operadores ainda terminando o feriado do Ano Novo. A partir da segunda-feira, dia 6, as operações deverão se mostrar mais fortes.
Nesta sexta, as cotações da soja no mercado nacional acompanharam as baixas na Bolsa de Chicago e terminaram o dia em queda nos portos e na maior parte das praças de comercialização do interior do país.
Em Rio Grande, a soja disponível perdeu 0,57% para R$ 87,50, enquanto cedeu 1,16% para março, encerrando a sexta-feira com R$ 85,50 por saca. No porto de Paranaguá. perda dde 0,56% para a oleaginosa disponível, com R$ 88,00 por saca, e estabilidade nos R$ 87,00 para março.
Do espectro mais amplo, o momento segue positivo para o produtor brasileiro e a formação dos preços no mercado nacional, segundo o consultor em agronegócio, Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios. No entanto, alerta para a chegada da nova safra nos próximos dias e qual será o posicionamento do produtor americano diante dessa oferta 2019/20 do Brasil para efetivar seus negócios.
"Se você é americano e sabe que a maior economia do mundo tem que comprar de você um volume alto, naturalmente, você retrai as vendas, vende paulatinamente, tentando capturar as melhores altas possíveis. Em sendo verdade, os preços lá fora sobem, os prêmios aqui se amenizam, mas isso faz com que a China tenha que ser muito hábil para comprar hora lá, hora cá", diz.
Fernandes acredita ainda que o andamento do dólar também pode continuar favorecendo a formação dos preços no Brasil, com a moeda americana com pouco espaço para se distanciar muito dos R$ 4,00.
Nesta sexta, a moeda americana terminou o dia com alta de 0,74% e valendo R$ 4,056.
No link abaixo, veja a íntegra da entrevista de Ênio Fernandes ao Notícias Agrícolas nesta sexta:
Na Reuters: Assassinato do 2º homem mais poderoso do Irã pelos EUA pode causar conflagração regional
BEIRUTE (Reuters) - O assassinato de Qassem Soleimani, o homem mais poderoso do Irã depois do líder supremo, por ação dos Estados Unidos foi visto por Teerã como um ato de guerra que cria o risco de uma conflagração regional.
Ao ordenar o ataque aéreo desta sexta-feira contra o comandante das legiões estrangeiras da Guarda Revolucionária iraniana, o presidente Donald Trump levou os EUA e seus aliados a um território desconhecido em seu confronto com o Irã e com as milícias que atuam em seu nome em toda a região.
A liderança iraniana pode aguardar o momento ideal.
Mas a maioria dos analistas acredita que tal golpe em seu prestígio, somado ao comprometimento pessoal do aiatolá Ali Khamenei com Soleimani e sua campanha para forjar um eixo de poder paramilitar xiita em todo o Levante e dentro do Golfo Pérsico, levará a represálias letais do Irã.
O país pode entrar em um conflito direto com os EUA que poderia implicar toda a região.
"O assassinato direto de Soleimani por parte dos Estados Unidos é um desafio explícito, e o Irã se vê obrigado a realizar um grande ato como resposta", disse Mohanad Hage Ali, pesquisador do Centro Carnegie para o Oriente Médio de Beirute. "Não ficará por isso mesmo."
Soleimani, que firmou sua reputação na guerra Irã-Iraque nos anos 1980, assumiu o comando da Força Quds, a divisão estrangeira da Guarda Revolucionária, em 1988.
Após a invasão norte-americana do Iraque em 2003, que derrubou o governo sunita de Saddam Hussein e levou a minoria xiita iraquiana ao poder, a Força Quds formou uma gama poderosa de milícias por procuração para atormentar a ocupação dos EUA.
Elas se inspiraram no Hezbollah, força paramilitar xiita que o Irã criou no Líbano, mas se tornaram quatro vezes maiores no Iraque.
Quando uma rebelião sunita mergulhou a Síria na guerra civil em 2011, Soleimani mobilizou o Hezbollah e milícias xiitas iraquianas para salvar o presidente Bashar al-Assad e estabelecer uma nova fortaleza para a Quds.
Isso permitiu que o Irã firmasse elos com suas milícias por procuração em um eixo de poder xiita que se estendeu pelo Iraque e pela Síria até o Mediterrâneo, alarmando aliados de Washington como Israel e Arábia Saudita.
NEM ESQUECIDA, NEM PERDOADA
Soleimani, o arquiteto desta política vigorosa, se tornou uma lenda regional e um ícone popular no Irã depois que sua força liderou a luta contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque.
Mas o sucesso aparentemente inexorável da estratégia paramilitar de Soleimani --mobilizar milícias armadas com mísseis de precisão e drones de forma permanente-- cobrou um preço.
No Iraque, as Forças de Mobilização Popular, aliança paramilitar de 10 mil membros na ponta de lança da batalha de poder entre o Irã e os EUA, podem ter ido longe demais.
Instigadas por Soleimani e a Força Quds, as Forças de Mobilização Popular intensificaram o assédio a tropas dos EUA em solo iraquiano, mas a morte de um prestador de serviço norte-americano em uma base do norte do Iraque atacada pela milícia Kataib Hezbollah na semana passada provocou ataques aéreos dos EUA que mataram 25 combatentes pró-Irã.
Em reação, as milícias sitiaram a embaixada norte-americana de Bagdá, um lembrete da ocupação da embaixada norte-americana de Teerã em 1979 --uma humilhação que os norte-americanos nunca perdoaram. Isso pode ter incitado Trump, que encara uma tentativa de reeleição e um possível impeachment neste ano, a assinar a ordem de assassinato de Soleimani.
"Os americanos nunca esqueceram a invasão de sua embaixada de Teerã e a tomada de reféns", disse Sarkis Naoum, importante analista regional.
"Essa questão, para eles, era maior do que o assassinato de Soleimani", acrescentou. "A embaixada era o símbolo da nação e de sua influência."
(Reportagem adicional de Laila Bassam)
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