Soja: Com adversidades climáticas, produtores de Tupanciretã (RS) se preparam para o 4º replantio
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Entrevista com José Domingos Lemos Teixeira sobre o Acompanhamento de Safra da Soja
DownloadAs condições climáticas desfavoráveis ligaram o sinal de alerta para a região de Tupanciretã que é responsável por 14% de produção de soja no estado do Rio Grande do Sul. Até o momento, 80% de toda a área de 700 mil hectares está plantada, 20% dela já teve que ser replantada e outros 20% ainda correm risco de precisar recomeçar do zero.
O clima de novembro, mês em que o plantio acontece a todo o vapor na região, é o grande responsável por esses problemas. Já são 425 mm de chuvas acumuladas no período, o que aumente a umidade e diminui a luminosidade sobre a lavoura, obrigado alguns produtores a já terem feito até três ressemeaduras e não descartarem a necessidade de uma quarta.
“Dentro do conceito agronômico de fisiologia da soja, a falta de luminosidade faz um estanque de desenvolvimento. O saldo de fotossíntese não está adequado para o desenvolvimento e com isso a planta já parece que está se projetando para o final do ciclo. As áreas plantadas muito cedo já estão hoje no período reprodutivo em florescimento. A soja é uma cultura que com falta de luminosidade em seu vegetativo diminui o seu porte e, consequentemente, a matéria seca que ela tem que armazenar agora será reduzida e isso leva a diminuição de produtividade”, explica José Domingos Lemos Teixeira, produtor rural e coordenador do Núcleo da Aprosoja de Tupanciretã.
O alto índice de chuvas também preocupa devido a maior possibilidade de ocorrerem casos de doenças, como a ferrugem asiática por exemplo. “Esse clima está propenso a termos várias doenças das 42 do complexo soja muito efetivas na nossa região. Os fungicidas que temos hoje tem efeito para a folhagem e não para o solo, então é preciso ver quanto de solo temos descobertos e se vamos fazer a ressemeadura ou não. Como isso afeta o solo também, não tem como estancar e esses problemas vão seguir até o final do ciclo. A morte de plantas não vai parar, vai acontecer no período reprodutivo ainda. Assim temos que focar nas soluções buscando assistência técnica para tentar atingir uma maior capacidade de retorno, que hoje está muito diminuída. Os produtores tem que olhar a sua cultura e ver quantas gramas de soja tem de capacidade de produção por planta e quantas plantas você tem por metro quadrado. O cálculo, na nossa opinião, é que se for ressemear deve começar do zero, dar condições e tentar fazer o máximo possível para atingir o custo benefício”, comenta Teixeira.
Outro fator negativo que ronda a safra de soja local é a perspectiva ruim para as vendas da produção. Até o momento, a região de Tupanciretã comercializou apenas 18% do potencial produtivo e os preços futuros não animam. “O Brasil se encaminha para uma boa safra projetando 122 milhões de toneladas mais um estoque de passagem muito alto. O produtor gaúcho é muito conservador e ele não travou a comercialização da safra. Hoje a nossa comercialização está em 18% do potencial produtivo da próxima safra com o valor de R$ 80,00. Nós temos um preço que se fosse levar para o balcão seria 70/72 reais e um preço futuro que nós estamos vendo aqui de março até maio com 62/63 reais. O que pode mudar é um acerto comercial da China com os Estados Unidos e melhorar o nosso negócio, mas esse momento não é de comercializar. O produtor saiu do mercado e não está vendendo, está preocupado de fazer o estabelecimento da sua lavoura”, diz José Domingos.
Para o coordenador, mesmo com todo esse cenário negativo, o produtor rural do Rio Grande do Sul deve manter o cultivo da soja e buscar atingir a maior produtividade possível. “Nós não temos sementes de milho suficientes no Rio Grande do Sul para mudar de cultura. Talvez nós não tenhamos semente fiscalizada suficiente, vai entrar muito grão que vai virar semente para ressemear essa soja. Não podemos passar um período sem renda no verão onde já não teve renda no inverno. Nós não temos outra saída, temos que trabalhar com soja novamente e ela tem que virar algum lucro. Nós temos um passivo muito forte, um operacional de parque de máquinas muito forte que precisa ser operado e uma mão de obra que também precisa de retorno. E o único retorno que vem é da cultura da soja. Nós precisamos pensar a agricultura do Rio Grande do Sul com alternativas, mas a nossa única opção agora é ainda trabalhar com soja de uma forma que nós possamos ter volume de produção. Hoje temos condições de fazer melhor do que está, de ressemear e fazer uma área com potencial. Porém, o estado não voltará a fazer 17 milhões de toneladas. Temos que olhar para a nossa média histórica que é de 2.700/2.800 quilos, isso sim é real”.
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