Alessandra Mello: Dólar volta a subir após sinalizações do Fed sobre economia
Dólar engata alta ante real após sinalizações do Fed sobre economia
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar passou a mostrar forte alta e voltou a se aproximar de 5,50 reais nesta terça-feira, acompanhando a aceleração dos ganhos da moeda norte-americana no exterior, depois que autoridades do Federal Reserve emitiram alertas sobre o futuro da inflação, dos juros e da recuperação econômica dos Estados Unidos.
Em declarações feitas mais cedo ao Congresso norte-americano, Jerome Powell, chair do Fed, disse que o caminho à frente na retomada da atividade da maior economia do mundo permanece incerto, apesar de uma "melhora acentuada" desde que a pandemia de coronavírus levou o país a uma recessão.
Ainda nesta terça-feira, Charles Evans, presidente do Federal Reserve de Chicago, reforçou a mensagem de Powell ao dizer que a economia corre risco de enfrentar uma recuperação mais longa e lenta caso o Congresso dos EUA não aprove um pacote fiscal para apoiar os norte-americanos desempregados e governos estaduais e locais.
Evans também chamou atenção dos mercados por comentários feitos sobre a inflação e os juros norte-americanos, dizendo que o Fed poderia elevar sua taxa básica antes que a alta dos preços alcance a meta do Fed, agora de uma média de 2%.
Na esteira das sinalizações do banco central norte-americano, o dólar à vista subia 1,43%, a 5,4773 reais na venda, por volta de 14h55.
Perto das 14h, a cotação bateu a máxima intradiária, de 5,4975 reais (+1,81%), bem distante da mínima de mais cedo, de 5,3839 reais (-0,30%), atingida ainda no meio da manhã.
O índice do dólar contra uma cesta de moedas fortes subia 0,43%, enquanto a maioria das moedas arriscadas pares do real --como peso mexicano, rand sul-africano, lira turca e dólar australiano-- engatava perdas.
"Percebemos o impacto das várias falas do banco central norte-americano, sinalizando que os juros podem subir antes da inflação chegar a 2% e insistindo na necessidade de medidas fiscais", explicou Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos.
A perspectiva de possível aumento dos juros pelo Fed --e consequente melhora na atratividade dos rendimentos nos Estados Unidos-- é vista pelos mercados como fator positivo para o dólar, que recentemente apresentou fraqueza generalizada depois que uma mudança no arcabouço de política monetária do Fed sugeriu que os juros por lá ficariam baixos por um período prolongado.
"Além disso", acrescentou Carvalho, "alguns receios ficam no radar, como a nova onda de contaminações por coronavírus e novas restrições que podem dificultar retomada econômica como um todo".
Sinais de estagnação nas negociações sobre um novo pacote de estímulo fiscal na maior economia do mundo, devido a impasses entre republicanos e democratas antes das eleições norte-americanas, também seguiam pesando sobre o sentimento.
A queda de 0,30% do dólar mais cedo foi associada à falta de surpresas na ata da última reunião de política monetária do Banco Central do Brasil.
O documento, divulgado pelo BC nesta terça-feria, indicou que as condições para sua sinalização de que a taxa Selic não deve subir seguem de pé e reforçou considerar adequado manter a chamada prescrição futura como instrumento de política monetária adicional.
Na semana passada, o BC manteve a taxa Selic na mínima histórica de 2%, decisão que veio dentro das expectativas dos mercados e marcou uma pausa em um prolongado ciclo de redução de juros pela autoridade monetária.
O patamar extremamente baixo da Selic, além de preocupações com a saúde das contas públicas brasileiras e incertezas políticas locais, é apontado por analistas como um dos principais fatores para a disparada do dólar em 2020, que já supera os 36%, em termos nominais.
"O real é uma das piores moedas do pacote de pares do dólar e o preço (do dólar) está exagerado", comentou Vanei Nagem, responsável pela mesa de câmbio da Terra Investimentos, destacando que esse contexto pode levar a eventuais ajustes no patamar da moeda brasileira, que parece estar resistindo ao nível 5,50 reais.
O último fechamento do dólar interbancário acima desse patamar foi em 27 de agosto, quando encerrou o pregão cotado a 5,5789 reais na venda.
Na véspera, o dólar à vista registrou alta de 0,43% no fechamento, a 5,4000 reais na venda.
(Edição de José de Castro)
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