BC consegue lucro de R$ 500 bi, mas Antônio da Luz não gosta nem um pouco...
Três meses após o início da pandemia, crédito ainda não chegou, diz Abiplast
Três meses depois da decretação da pandemia no Brasil, o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho, disse que o crédito ainda não chegou à economia.
"No Brasil, a realidade na economia real é muito preocupante. As empresas estão sofrendo muito com os reflexos da crise e o cenário para o futuro próximo é devastador." Segundo Roriz Coelho, fazer o crédito chegar às empresas é a questão central imediata para minimizar os impactos na economia.
O presidente da Abiplast elogia as medidas do Banco Central, mas afirmou que o dinheiro não está alcançando a ponta final. "O papel do BC foi muito importante porque houve mais liquidez, mais recursos liberados no mercado, sobretudo por depósito compulsório. O problema é que o dinheiro está represado nos bancos e não chega às empresas, que precisam de capital de giro para pagar salários, impostos, comprar matérias-primas, fazer manutenção de equipamentos", avalia.
Para ele, a recuperação do mercado de ações brasileiro, que apresentou alta nesta semana, é apenas reflexo da melhora no mercado internacional. O número contrasta com os dados da produção industrial em abril, que teve a maior queda da série histórica, iniciada em 2002. A atividade caiu 18,8% em abril, na comparação com março, impactada pela crise do novo coronavírus.
Depois da pandemia, o grande nó para o País é o chamado custo Brasil, segundo Roriz. A médio e longo prazos, esse deve ser o ponto de enfrentamento para que haja retomada de crescimento. "O País tem uma carga tributária muito elevada para quem produz, tem uma burocracia muito grande, tem uma instabilidade jurídica enorme, o que gera insegurança muito grande. A médio prazo, temos de retomar todas as discussões sobre as reformas, pois elas são fundamentais para diminuir esse custo Brasil", afirma.
Estima-se que o custo para produzir hoje no Brasil, se comparado à média dos países membros da OCDE, é superior a R$ 1,5 trilhão. "É um custo muito grande para as empresas produzirem aqui e faz com que o produto brasileiro não tenha competitividade para ser exportado e ainda perca competitividade aqui dentro, para concorrer com produtos que vem de fora", diz.
Reuters: Com Congresso focado na pandemia, reformas de Guedes seguem congeladas
BRASÍLIA (Reuters) - Com os esforços do Congresso voltados para votações relacionadas ao Covid-19, a agenda econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes, está com o andamento interrompido desde março, período que marcou o início das medidas de paralisações anunciadas por governadores e prefeitos no país em decorrência da propagação do vírus.
Naquele mês, com indicações ainda preliminares sobre os efeitos que a pandemia teria nas cadeias produtivas ao redor do mundo e no Brasil, Guedes encaminhou ao Congresso uma mensagem solicitando celeridade na aprovação de 19 medidas em tramitação. A preocupação do ministro era resguardar a economia do país em meio à crise, sem afetar a trajetória de melhoria fiscal.
O agravamento da pandemia, contudo, forçou uma mudança de rota, e o governo foi obrigado a adotar uma série de medidas emergenciais que geraram bilhões de reais em despesas. A expectativa agora é de forte elevação do déficit primário neste ano, com a dívida pública devendo alcançar o patamar de 93% do PIB, segundo o Tesouro. [nL1N2DA14O]
A equipe do ministério da Economia diz que o foco é retomar, tão logo possível, o trilho do ajuste fiscal, com a tramitação de projetos que compunham originalmente a agenda de governo do presidente Jair Bolsonaro.
Guedes e seus secretários têm reiterado que, passada a fase mais aguda da crise, estão entre as prioridades as reformas tributária e administrativa, marcos regulatórios e a autonomia do Banco Central, entre outros projetos.
O discurso é que essas iniciativas legislativas são essenciais para melhorar o ambiente de negócios no país, minimizar incertezas e cacifar o Brasil a receber investimentos externos em um mundo que estará inundado de liquidez.
Para as duas principais reformas encabeçadas pelo governo, a administrativa e tributária, o Poder Executivo ainda não encaminhou propostas oficiais. No âmbito da tributária, Guedes trabalhava para concluir contribuições a serem feitas a proposta que tramita no Congresso, buscando um texto que concilie as diferentes versões.
O próprio Congresso chegou a instalar, em fevereiro deste ano, uma comissão mista em torno do tema. Criada para produzir uma proposta de consenso entre deputados e senadores em até 45 dias, ela teve o prazo suspenso em 20 de março, em decorrência da pandemia.
Todas as comissões do Congresso estão sem funcionamento devido às restrições à circulação de pessoas no Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem dito, contudo, que quer retomar a reforma tributária em julho, ainda que inicialmente de forma remota. A retomada geral e gradual dos trabalhos no Congresso será avaliada nos próximos dias.
Já a reforma administrativa teve o seu envio ao Congresso sinalizado para o mês de março, com o presidente Jair Bolsonaro afirmando, em fevereiro, ainda antes do agravamento do coronavírus, que a versão final da proposta já estava pronta e iria ser encaminhada após o Carnaval. Isso não ocorreu ainda.
Além de propostas do lado fiscal, a agenda do Marco Legal do Saneamento Básico (PL 4.162/19) e do Setor Elétrico (PLS 232/16) são veementemente defendidas para destravar a agenda de concessões, elencada como um dos principais pilares de recuperação do país passada a pandemia.
Enquanto o PL do saneamento tramita na Comissão de Meio Ambiente do Senado, o marco legal do setor elétrico foi aprovado de forma terminativa em março pela Comissão de Infraestrutura do Senado, mas senadores apresentaram um recurso para que o texto seja levado a plenário.
O governo também aposta em outras frentes e, com o Banco Central (BC), comandado por Roberto Campos Neto, defende a importância da aprovação do projeto de autonomia da autarquia, que tinha previsão de ser votado na Câmara após o Carnaval.
O BC endossou Projeto de Lei Complementar (PLP 112/19) que está na Câmara, relatado pelo deputado Celso Maldaner (MDB-SC), e que foi apensado a outro projeto que circula na Casa desde 1989, tendo sua urgência já sido aprovada anteriormente, razão pela qual o texto pode ser votado diretamente em plenário.
PRIVATIZAÇÕES
Outra bandeira do governo, a meta de venda de ativos pela União em 2020, inicialmente prevista em 150 bilhões de reais, não será alcançada em razão do conturbado ambiente doméstico prejudicado pela propagação do coronavírus, segundo o secretário especial de Desestatização do ministério da Economia, Salim Mattar. [nL2N2CA22M]
Sobre um dos principais alvos, a privatização da Eletrobras, Salim disse que ela deverá ocorrer somente em 2021. O Poder Executivo havia encaminhado o projeto que viabiliza a privatização da estatal (PL 5877/19) ao Congresso em novembro, e, desde então, aguarda despacho do presidente da Câmara para deliberação.
Na mensagem encaminhada ao Congresso em março, Guedes também listou o chamado "Plano Mais Brasil", apresentado em novembro por ele e equipe, que engloba as propostas de emenda à Constituição (PECs) do Pacto Federativo (188), Emergencial (186) e dos Fundos Públicos (187).
Das três, a 187 é a que mais avançou no Senado. A proposta, que prevê amortização de parte da dívida pública da União com recursos parados em 248 fundos, em um total de 220 bilhões de reais, foi aprovada em março pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e encaminhada para deliberação do plenário. As outras duas estão em tramitação, também na CCJ do Senado.
PROMOÇÃO DE INVESTIMENTO
Dentre outras pautas mencionadas por Guedes, há o projeto que prevê flexibilizar a adoção do regime de partilha no polígono do pré-sal, de autoria do senador José Serra (PSDB-SP), que, apoiado pelo Ministério de Minas e Energia, se encontra com a relatoria na Comissão de Serviços de Infraestutura do Senado.
No mês passado, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou que tanto ele quanto o corpo técnico da petrolífera são "profundamente críticos" ao regime de partilha e defendem que sua eliminação, em movimento que se segue ao resultado frustrante do leilão do chamado excedente da cessão onerosa, em novembro, que atraiu pouco interesse de investidores estrangeiros.
Também está na lista proposta que trata da Nova Lei do Gás (PL 6.407/13), atualmente em análise na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados.
Falhas em linhas de crédito impedem retomada das pequenas empresas
SÃO PAULO (Reuters) - A maior parte das pequenas e médias empresas brasileiras, que respondem por metade dos empregos e 30% do PIB do país, não estão tendo acesso ao dinheiro prometido pelo governo federal para ajudá-las a atravessar a crise do coronavírus, colocando em risco a retomada econômica.
Os bancos até agora só distribuíram 5% dos 40 bilhões de reais da linha de crédito para ajudar no pagamento da folha de pequenas e médias empresas, fortemente afetadas pelas quarentenas.
José Eutimio Brandão Jr, dispensou 50 dos 170 funcionários que trabalhavam em seus empreendimentos: um bar, restaurante, padaria e uma boate em Alagoas.
Brandão tentou tomar um crédito para ajudar a pagar os funcionários que sobraram, mas diz que seu banco rejeitou o pedido porque o faturamento geral do seu grupo supera os 10 milhões de reais de limite máximo.
"A taxa de juros é baixa, próxima à Selic, os bancos não querem emprestar porque não vão ganhar dinheiro", disse Brandão à Reuters.
Uma pesquisa do Sebrae com mais de 10 mil empresas mostra que 86% das pequenas empresas que pediram crédito nos bancos não conseguiram. Desse total, 28% ainda estão esperando uma resposta e o restante foi rejeitado. Veja gráfico em: https://tmsnrt.rs/3dmQX6A
Enquanto isso, o BNDES continua negociando potenciais linhas de crédito para as empresas aéreas listadas em bolsa Azul e Gol, para a fabricante de aviões Embraer e até para as subsidiárias locais de multinacionais como Volkswagen e General Motors.
E, enquanto alguns pacotes de resgate de grandes empresas enfrentam obstáculos, as grandes limitações do programa de ajuda a pequenas empresas reforçaram a percepção de desigualdade no acesso ao crédito na América Latina.
Segundo dados do Banco Central sobre toda a carteira de crédito do país, os bancos concederam 442 bilhões de reais em novos créditos nos últimos dois meses, mas 60% foram para grandes empresas.
O Ministério da Economia disse em um comunicado à Reuters que está trabalhando para lançar programas alternativos de crédito e que já está subsidiando a linha de crédito para a folha de pagamento.
OTIMISMO EXCESSIVO
Muitos donos de pequenas empresas, que não conseguem prever sua receita futura e têm medo de tomar mais dívida que talvez não consigam pagar, preferem simplesmente não pedir os créditos públicos.
Ao contrário do programa de financiamento à folha de pagamento nos Estados Unidos, o U.S. Paycheck Protection Program, que perdoa o empréstimo se ele for usado para pagamento de salários, os financiamentos no Brasil precisam ser pagos e são adicionados à dívida mesmo que a empresa vá à falência. Então muitos optam por demitir ou cortar salários.
Luiz Soares, dono de salões de cabeleireiro e um restaurante, todos dentro de shoppings, viu sua receita desaparecer com as ordens de quarentena na cidade de São Paulo. Ele não tomou o crédito da folha de pagamento e demitiu 10 dos 25 funcionários que tinha contratado formalmente.
Soares, de 68 anos, tem outras 100 pessoas que trabalham como parceiros de seus estabelecimentos e agora está renegociando os empréstimos bancários existentes. Mas continua preocupado se haverá demanda no seu restaurante e quantas pessoas poderão ficar ao mesmo tempo dentro dos seus salões de beleza.
"Não posso tomar mais empréstimos, não faço ideia de quando poderemos reabrir e qual será meu faturamento", disse Soares.
Muitos pequenos empresários estão tomando a mesma atitude. Segundo a pesquisa do Sebrae, só 40% das empresas procuraram empréstimo, embora 90% das empresas tenham perdido faturamento.
Mas, mesmo os que tentam também não conseguem devido às complexas exigências do programa, que incluem que a folha de pagamento seja gerenciada por um banco e que a empresa passe na análise de risco dos maiores bancos responsáveis pelo desembolso dos recursos: Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil.
Esses bancos desembolsam 15% de cada crédito, o que, segundo os críticos do programa, tornou os critérios de aprovação excessivamente restritivos, já que as instituições financeiras estão arriscando seu próprio capital e não apenas repassando dinheiro do Tesouro.
"As estimativas sobre o alcance da linha de crédito para folha de pagamento foram excessivamente otimistas, a maior parte das empresas não consegue cumprir os critérios necessários para a concessão", diz Cassio Schmidt, diretor de empréstimos de varejo do Santander Brasil.
Schmidt disse à Reuters que o banco tem sido menos rigoroso nas linhas de folha de pagamento, mas que considera riscos muito óbvios, como empresas que estão há mais de 30 dias em atraso com outros empréstimos. Itaú e Bradesco preferiram não comentar o assunto.
BATALHA LONGA
Mas muitos empresários dizem que os bancos estão simplesmente evitando o programa de crédito, que vêem como arriscado demais, e que praticamente não gera lucro.
"Os bancos não querem correr o risco, eles sabem que os restaurantes ficarão em dificuldades por muito tempo," diz Paulo Solmucci, presidente da associação Brasileira de Restaurantes, que representa 6 mil estabelecimentos. A maior parte deles não conseguiu empréstimos, diz Solmucci.
Outros empresários disseram que a linha de folha de pagamento não resolve seus problemas, porque as empresas precisam pagar também aluguéis e contas de consumo.
Uma das exigências é que as empresas processem suas folhas de pagamento nos maiores bancos, o que dificulta o acesso por empresas pequenas que pagam seus funcionários por transferência bancária direta, por exemplo.
Para aumentar o alcance do programa, o governo está considerando mudanças como autorizar empresas a tomar o crédito ainda que demitam 50% de seus funcionários, e elevar o limite máximo de receita para 50 milhões de reais, disse esta semana o presidente do Banco Central, Roberto Campos.
Em resposta às reclamações dos empresários que a linha de folha de pagamento não os ajuda em outros custos, haverá uma nova linha de crédito para todas as finalidades empresariais, chamada Pronampe.
Mas quem tomar o crédito via Pronampe, que ainda não está operacional, precisa começar a pagar o empréstimo no mês seguinte à concessão, o que é difícil para companhias que não têm idéia de quando poderão reabrir, segundo três pequenos empresários disseram à Reuters.
E ainda que o governo tenha prometido arcar com 85% de perdas potenciais com o programa, os bancos são responsáveis pelo valor total dos desembolsos, o que os torna ainda mais cautelosos, disse um executivo à Reuters.
O time econômico do governo divulgou um novo programa no fim de maio também para empresas médias, usando recursos de um fundo do BNDES. A medida, publicada na véspera, cria o Programa Emergencial de Acesso a Crédito a pequenas e médias empresas e vai garantir parte dos empréstimos feitos por bancos mediante aporte de até 20 bilhões de reais do Tesouro num fundo garantidor.
Carlos Chiaroni, dono de uma loja na Galeria do Rock, em São Paulo, acha que o governo deveria fazer mais.
"Se eu tivesse todas as garantias que os bancos me pedem, eu nem precisaria de empréstimo agora. Isso mostra que, se o governo não der o crédito, ninguém mais vai dar."
Toda vez que investidor privado entrou teve muita sacanagem, diz Campos Neto em reunião ministerial
- O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. 27/04/2020. REUTERS/Ueslei Marcelino
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou em reunião ministerial de 22 de abril que "toda vez que investidor privado entrou teve muita sacanagem", razão pela qual seria necessário o país trabalhar no tema da governança em projetos do Plano Pró-Brasil, para a retomada econômica.
"Nós fizemos uma conversa dos bancos centrais com investidores, inclusive de infraestrutura, e o problema principal que aparece em toda conversa no Brasil, do
investidor privado, é que no passado toda vez que investidor privado entrou teve muita sacanagem", disse Campos Neto.
"A coisa mais importante desses projetos, na minha opinião, é garantir que a governança é boa. Pro investidor privado ter certeza que ele vai estar junto com o governo, ou ele vai estar em grande parte tomando risco, às vezes o governo vai tomar um pouquinho, mas que é uma coisa que ele não precisa se preocupar na frente, com a governança", afirmou.
A reunião ministerial foi citada pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro em seus apontamentos sobre suposto desejo de interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal. A transcrição do encontro foi liberada nesta sexta-feira pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello.
Na reunião, em que vários ministros fizeram intervenções, tratando de diferentes temas, Campos Neto também ressaltou que a maneira de melhorar a governança no Brasil é "colocar agentes internacionais que fazem governança mundial".
Citando reuniões com banqueiros centrais de outros países, Campos Neto frisou que há percepção generalizada de que o mundo privado está com receio de tomar risco, por medo. Por isso, não haverá saída rápida para a crise sem que o governo assuma risco.
"E o fator medo é interessante porque, quanto mais informação você tem, mais medo você tem porque a mídia joga medo. Então, você tem hoje uma classe mais alta que tem mais medo que a classe mais baixa, exatamente porque eles têm mais acesso à informação e a informação é enviesada", disse.
Em outro momento da reunião, o ministro da Economia, Paulo Guedes, lembrou a fala de Campos Neto e disse que, após receber o embaixador dos Estados Unidos, ele ressaltou que teria centena de bilhões de dólares para investir, mas que queria um bom ambiente de negócios.
Concentração bancária cai para 81%, revela BC
A concentração bancária diminuiu levemente no ano passado, informou o Banco Central (BC) na quinta-feira (4), através do Relatório de Economia Bancária de 2019.
No ano passado, os cinco maiores bancos do país - Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander – detinham 81% dos ativos totais do segmento bancário comercial. No final de 2018, esse percentual era 81,2%.
Os cinco maiores bancos eram responsáveis por 83,4% dos depósitos no final do ano passado, contra 83,8%, em 2018. No caso do crédito, esse grupo respondeu por 83,7% do total das operações em 2019, contra 84,8% do ano anterior.
Segundo o relatório, houve redução das participações dos bancos públicos federais - Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“A redução da participação dos principais bancos públicos federais foi, em alguma medida, acompanhada por um aumento na concentração entre as instituições privadas, mas não o suficiente para aumentar a concentração total”, disse o BC.
Expectativas para o crédito
Em pesquisa junto a instituições financeiras sobre as condições de crédito, realizada entre 27 de abril e 5 de maio, o Banco Central mostra que os bancos esperam crescimento de 2,8% no saldo do crédito para as grandes empresas este ano, representando uma recuperação da queda observada em 2019.
Antes da pandemia da covid-19, a primeira pesquisa, realizada entre 2 e 10 de março, indicava expansão de 5%. De acordo com o BC, a expectativa de expansão é decorrente da busca por liquidez por essas empresas e da escassez dos recursos externos.
No crédito para as micro, pequenas e médias empresas, a mediana (desconsiderando os extremos nas projeções) das expectativas é de crescimento de 5% (6,5% na primeira coleta), semelhante ao observado em 2019.
Segundo o relatório, é no crédito para pessoas físicas onde há queda significativa nas expectativas. A estimativa para o crescimento no saldo do crédito para consumo passou de 12% na primeira pesquisa para 6,2%, na segunda. No crédito habitacional, a expectativa é de queda no saldo de 0,3%, ante crescimento de 9% na primeira coleta do ano.
A expectativa da taxa de inadimplência é de 2,8% para grandes empresas, 4,9% para as micro, pequenas e médias empresas, 5,9% para consumo e 2,3% para crédito habitacional para pessoas físicas, neste ano.
Projeção
A projeção do BC para a evolução do saldo de crédito bancário em 2020 passou dos 4,8%, divulgados na edição de março do Relatório de Inflação, para 7,6%.
O Banco Central costuma divulgar a projeção para o crédito trimestralmente no Relatório de Inflação, mas devido à mudança de conjuntura causada pela pandemia de covid-19, optou por antecipar a projeção.
“O aumento na estimativa reflete a ampliação do volume de empréstimos desde meados de março, repercutindo os impactos da pandemia. Em especial, a aceleração de concessões repercute, principalmente, a busca por recursos por parte de empresas face à redução dos fluxos de caixa. Ressalte-se, adicionalmente, que o movimento também está influenciado pelos efeitos das medidas que abrangeram o mercado de crédito, buscando mitigar [reduzir] danos econômicos causados pelo surto de covid-19”, disse o BC, no relatório. (Agencia Brasil).
Equipe econômica quer usar lucro do Banco Central para reforçar o caixa do Tesouro
BRASÍLIA - A equipe econômica deve pedir a transferência do lucro do Banco Central obtido no primeiro semestre deste ano para reforçar o caixa do Tesouro Nacional, segundo apurou o Estadão/Broadcast. A medida será importante para garantir os recursos necessários à gestão da dívida pública num momento de forte aumento de gastos e maior dificuldade para o País se financiar no mercado. O resultado positivo deve superar os R$ 500 bilhões e pode ser repassado no segundo semestre, mediante autorização do Conselho Monetário Nacional (CMN).
O valor exato do lucro dependerá do reflexo da variação do dólar nas reservas internacionais e do resultado do BC nas operações equivalentes à venda da moeda americana no mercado futuro, o chamado swap cambial. Até 15 de maio, o BC registrou um ganho de R$ 646,174 bilhões com as reservas e uma perda de R$ 79,838 bilhões com as operações de swap, o que dá um resultado positivo de R$ 566,335 bilhões em operações cambiais.
O Tesouro já queimou uma parte do seu caixa com o aumento dos gastos do governo para combater a pandemia e com as condições menos favoráveis para o País emitir títulos e se financiar. Em meio às incertezas trazidas pelo novo coronavírus e seus efeitos econômicos, investidores têm cobrado taxas de juros mais elevadas para emprestar ao governo, principalmente em papéis com prazo mais longo de vencimento.
O valor nominal da dívida pública federal tem até caído diante da cautela do Tesouro em novas emissões para evitar um aumento no custo com juros. Em março, fechou em R$ 4,214 trilhões, uma queda de 1,55% em relação ao mês anterior.
No caixa do governo, a subconta de recursos da dívida pública já caiu de R$ 750,4 bilhões em dezembro de 2019 para R$ 574,3 bilhões em março de 2020, segundo dados do Tesouro Nacional.
Sem pressa
Segundo um integrante da equipe econômica, ainda há espaço para o governo seguir administrando a dívida sem ter “pressa” para voltar ao mercado. “Não estamos desesperados para levantar os recursos ainda nesse ambiente tão incerto”, diz essa fonte. A transferência do lucro do BC, porém, será um reforço importante no segundo semestre.
O repasse do lucro do BC já foi adotado em outras ocasiões pelo governo, mas não de maneira tão significativa. No fim do ano passado, uma nova lei mudou o relacionamento entre Tesouro e Banco Central, mas ainda permite a transferência “quando severas restrições nas condições de liquidez afetarem de forma significativa o seu refinanciamento (da dívida)”. É esse dispositivo que o governo pretende acionar no segundo semestre. O lucro do BC é destinado exclusivamente ao pagamento de compromissos da dívida.
Apesar desse esforço na gestão, a dívida total do País deve continuar em alta porque, com a elevação nos gastos do governo, o BC precisa “enxugar” a liquidez de recursos no mercado por meio das operações compromissadas, que são contabilizadas na dívida bruta do País. A previsão do governo é que a dívida bruta feche o ano em 93,5%, patamar considerado elevado para países emergentes como o Brasil.
Além da cautela nas emissões, o governo tem elevado os gastos para fazer frente à crise. Só o auxílio emergencial de R$ 600 pago a trabalhadores informais deve custar R$ 151,5 bilhões.
O governo já cancelou R$ 164,4 bilhões em dotações destinadas à rolagem da dívida pública para abrir caminho aos gastos emergenciais da pandemia, como o próprio auxílio emergencial de R$ 600 pago a trabalhadores informais. Depois disso, recursos do caixa que só podem ser usados no pagamento da dívida pública foram remanejados para cobrir o “buraco” deixado, numa sequência de operações apelidada por técnicos de “triangulação de fontes”.
Outras despesas foram bancadas diretamente com recursos sacados da conta única do Tesouro Nacional.
Na prática, a transferência do lucro do BC dará mais conforto para que o governo continue administrando os compromissos da dívida sem necessidade de pagar qualquer preço para emitir novos títulos da dívida para levantar os recursos. Isso é importante porque grande parte da dívida pública brasileira (21,41%, ou R$ 902 bilhões) vence nos próximos 12 meses.
Para o economista Daniel Couri, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, um “colchão” da dívida desidratado poderia gerar insegurança no mercado em relação à capacidade do Brasil de honrar sua dívida. Por isso, a transferência do lucro do BC deve ser inevitável. “As condições que o governo vai encontrar no mercado para emitir títulos não vão ser boas. Acho que esse ano vai diminuir bastante (o colchão), dificilmente o auxílio emergencial vai durar só três meses”, afirmou.
Para economista Natan Blanche, "ou o País retoma as reformas ou corremos o risco da volta da inflação"
Apesar de o Brasil ser motivo de preocupação quanto ao avanço de novos casos da covid-19, os resultados positivos da Bolsa brasileira têm elevado as expectativas de que o fim do confinamento na China e em países europeus pode ser um sinal de alento para a economia brasileira. Para alguns analistas ouvidos pelo Estadão, no entanto, pode não ser bem assim.
Os resultados recentes do Ibovespa, principal índice da B3, mostram esse "otimismo". No fim do primeiro trimestre, com a propagação do novo coronavírus pelo País e a adoção das medidas de isolamento social para conter o contágio, houve uma queda de 47% em relação ao início do ano. Estava em quase 120 mil pontos e chegou aos 63 mil em março. Mas, nas últimas semanas, com as notícias de reabertura na China e em países europeus, a Bolsa subiu mais de 40% desde o ponto mais baixo. Ontem, voltou para perto dos 100 mil pontos, fechando em alta de 0,86% aos 94 637,06 pontos.
O dólar também teve trajetória semelhante. Estava cotado na casa dos R$ 4 em janeiro, chegou a R$ 5,97 no mês passado, mas depois disso engatou uma sequência de quedas e ontem terminou o dia a R$ 4,99, queda de 2,73%.
Para o economista Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria, porém, é uma melhora artificial. "O câmbio e o preço dos ativos do Brasil não têm hoje influência de melhora ou piora dos preços ou dos ativos. Há uma disfuncionalidade no mercado. Ela é provocada pelo excesso de liquidez no mundo. E vai piorar, porque vai aumentar a liquidez no mercado internacional", diz. "Hoje, a maior parte dos países ricos já está com juros negativos. O próprio Brasil pode passar a ter juros negativos em breve."
Para Blanche, o Brasil enfrentará daqui para a frente um desafio para colocar a situação fiscal em ordem. "Teremos dois caminhos: ou o País retoma as reformas e reequilibra a situação fiscal ou corremos o risco da volta da inflação."
Também para a economista Monica De Bolle, do Peterson Institute, o mercado brasileiro não tem razão alguma para ficar otimista. No Brasil, nada vai melhorar, as coisas estão em franca trajetória de piora, diz. "O excesso de otimismo é uma marca do mercado brasileiro, que só sabe apostar para cima."
Os dados de comércio exterior, por exemplo, dão pouca margem para otimismo. "A Bolsa tem decisões que não têm sentido prático É um indicador, mas não é um fato por si mesmo. A pandemia jogou as exportações de manufaturados para 23% do total, o País voltou ao patamar em que estava em 1974", diz José Augusto de Castro, da Associação Brasileira de Comércio Exterior.
Ele avalia que o mercado pode achar que a crise não é tão feia, mas isso não quer dizer que não seja. "Basta olhar para o que está acontecendo nos EUA e na falta de gestão federal da crise aqui no Brasil para saber que não está tudo bem. Enquanto não houver uma vacina testada e eficaz, não haverá motivo para ficar otimista com o cenário internacional."
Pessimismo
Mesmo os países que já começaram a reabrir suas economias após a quarentena ainda estão pessimistas quanto ao futuro, segundo dados mais recentes do Índice de Confiança nos Negócios, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) Nesse indicador, em que números abaixo de 100 mostram pessimismo com o rumo dos negócios, o Brasil estava na lanterna entre as 20 maiores economias, com 95,8 pontos em abril. Mas em nações que já passaram pelo pior da pandemia há mais pessimismo também, como China (98,8), Itália (99,3) e Espanha (98,1).
Há pessimismo quanto ao futuro mesmo na Alemanha, país europeu considerado um caso de sucesso na contenção da doença e que começou a relaxar as medidas de isolamento. "Estamos caminhando sobre gelo fino", disse a chanceler Angela Merkel em abril.
"É preciso cuidado para dimensionar os primeiros sinais de retomada pós-covid", avalia Castro, da AEB. "Na China, as informações disponíveis nunca são completas e algumas medidas tomadas pelo governo sugerem que o comércio internacional ainda esteja longe da normalidade." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
3 comentários
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Elton Szweryda Santos Paulinia - SP
Pois é, mas o BC e a caixa do governo gostaram..., mais duas dessas, e já ganham o ano...
Gilberto Rossetto Brianorte - MT
Muito boa aula do economista Antonio da Luz. Realmente já passou da hora do Brasil fazer as reformas que todos sabem que tem que ser feitas, trazer os bancos internacionais para atuar aqui. Já trabalhei com um banco europeu (lá no Paraguai) , fiz diversas operações, no final do ano, tirava um extrato e constava lá o dinheiro depositado e os saques, nada mais, tudo enxuto e barato. Vejo aí pessoal fazendo campanha para que as pessoas compre da industria nacional, o que eu concordo, mas essa não tem preço, e porque não tem preço, hora não tem porque o sistema tributário e burocrático não permitem que ela tenha preços competitivos, já que tudo é onerado. Privilégios dos funcionários públicos: o Brasil não pode arcar com custo de mais de R$-1.000.000,00 anuais para um promotor de justiça, juiz, etc. Que serviços eles fazem que justifique isto? Enfim, precisamos agir logo ou a crise será eterna, até para nossos netos.
Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC
Sr. Rensi, veja que bom exemplo de corrupção da linguagem,...o estadão afirma que a queda no PIB foi devido à pandemia... pergunto: devido à pandemia ou devido à ação de politicos contrários ao governo? Cade a pandemia? Como é que se responsabiliza essa pandemia? O virus chines? Também veja o posicionamento do Antonio da Luz...ele não explicou que o lucro foi no mercado de futuros e que se o BC lucrou alguém perdeu,,, Quem estava lucrando com as medidas economicas? Paulo Guedes arrebentou quem especulava com o enfraquecimento da moeda brasileira. É um sujeito que sabe ganhar dinheiro e sabe se posicionar contra os grandes e vencer. Quanto à essa avaliação de que a bolsa sobe em contradição com o que ocorre agora, queda do PIB e tais...é só lembrar que o mercado de futuros estima, projeta uma expectativa do que vai acontecer no..FUTURO. O que acontece é que os canalhas não querem que o Brasil melhore.