Nova taxa de juros colocará Brasil no patamar de pais "civilizado", diz Antonio da Luz
Nesta quarta-feria duas modificações em taxas de juros dos EUA e do Brasil provocarão mudanças profundas nas economias globais.
Os ganhos reais propiciados pela nova taxa a ser definida pelo FED (Banco central norte-americano) se aproximará de zero (0,25% / ano), enquanto a brasileira descerá dos atuais 6,5% (Selic) para 5,75% (ou 5,5%), permitindo, descontada a inflação, ganhos de 2 a 2,5% ao ano.
Uma profunda modificação para um país que a 3 anos praticava taxas de 14,5% (governo Dilma) lembrou em entrevista ao Noticias Agricolas, o economista-chefe da Farsul (Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul) Antonio da Luz, ressaltando que amanhã o Brasil estará fazendo "um movimento de retorno para a civilização";
_"Com as novas taxas veremos as aplicações e o dinheiro da sociedade serem direcionadas para atividades produtivas e não mais sendo entesouradas pelos rentistas".
Antonio da Luz diz que o Brasil deixará de ser um país-junk (lixo), deixará de ser piada, para retomar o caminho da credibilidade "com responsabilidade fiscal".
O Brasil ainda ocupa a 8ª posição entre os países que pagam as maiores taxas de juros do mundo. Com a mudança haverá impacto nas taxas de câmbio, com valorização do Real "pois muitos investidores vão trazer dólares para o Brasil e demandar reais, provocando essa mudança nas cotações", lembra o economista.
Outro impacto positivo será para a agricultura, pois as taxas cobradas no crédito rural vão mudar de posição, com as taxas livres tornando-se mais baratas que o crédito oficial do Plano Safra.
Fora isso, os novos títulos que estão sendo lançados pelo MInisterio da Agricutura, as LCAs, as CDCAs e, principalmente as CRAs, darão ganhos de 4 a 5% ao ano para o investidor, que deverá ser no minimo o dobro da oferecida pelo CDI (taxas oficiais do Banco Central brasileiro).
O mundo vive a morte dos juros, por Paulo Gala
A guerra comercial entre Estados Unidos e China se transformou em uma disputa tecnológica depois dos eventos de retaliação à empresa Huawei - as negociações ficaram mais complicadas e Donald Trump mais imprevisível. O presidente americano ameaça também a Europa com tarifas.
O resultado da queda de braço somado à alta de juros que vinha desde 2017 nos Estados Unidos foi uma forte desaceleração da economia mundial. O Federal Reserve parou de aumentar os juros e caminha agora para uma onda de cortes.
Novos programas de estímulo à economia começam a voltar à mesa para discussão, especialmente na Europa e no Japão. Os juros de 10 anos na Alemanha voltaram a 0% e nos EUA, chegaram a cair abaixo dos 2%. Hoje, US$ 12 trilhões em títulos públicos rendem juros nominais negativos e a inflação não dá sinais de alta em solo americano.
O crescimento mundial de 2019 será menor do que o de 2018. Trump voltou a criticar o Fed pelas altas de taxas de juros e a aproximação das eleições nos EUA deve aumentar a pressão sobre o banco central americano para efetuar cortes.
No Brasil, a atividade fechará estagnada ou em queda no segundo trimestre do ano. Os dados já divulgados do primeiro trimestre mostram uma provável queda do PIB e completaremos 20 trimestres com este indicador abaixo do registrado no início da crise, a pior marca em mais de 50 anos.
Os preços caminham para deflação e o mercado de trabalho continua muito fraco. O encaminhamento da reforma da Previdência avançou bem no Congresso e a chance de corte da Selic no segundo semestre é alta. A recuperação da economia brasileira é muito lenta, se é que há. Caminhamos aqui também para uma situação parecida com a do resto do mundo, onde não há mais juros.
O mundo rico está na situação mais endividada de sua história: governos com relação dívida/PIB em máximas históricas e também com déficits primários relevantes. As famílias e empresas do mundo rico estão ainda com estoques de dívida enormes, em geral acima de 100% do PIB nos países desenvolvidos, apesar de alguma desalavancagem ter ocorrido desde de 2008.
Com essa massa incrível de dívidas (e créditos como contraparte), a pergunta que fica é: os juros não deveriam estar nas alturas? Não são o custo de se endividar?
Os juros não sobem, pois o peso dessa dívida gigante dificulta o crescimento das economias ricas. Sem crescimento robusto não há pressão inflacionária e sem inflação não há juros.
A onda produtiva do leste asiático e a baixa qualidade dos empregos criados nos Estados Unidos também contribuem para a manutenção da inflação sob controle. Em um sistema extremamente alavancado, como o atual, os bancos centrais têm medo de subir as taxas de juros de curto prazo e colocar tudo a perder.
Ainda que a situação seja de pleno emprego nos EUA, Reino Unido e Japão, o estoque de liquidez criado pelos bancos centrais do mundo rico continua acima de US$ 10 trilhões e agora deve voltar a crescer. Os governos do mundo seguem se endividando em sua moeda doméstica para tentar ativar a economia. Mesmo com uma política monetária extremamente agressiva e algum estímulo fiscal, o mundo continua atolado em dívida, essa, sim, a causa mortis dos juros.
Para mais informações, acesse o Valor Econômico
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