Vivenciando pior seca da história da citricultura, produtor já precisa começar a se planejar para evitar danos nas safras futuras
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Entrevista com Vinícius Trombin e Renato Bassanezi - Coord. da PES do Fundecitrus e Pesq. Científico do Fundecitrus
A safra de laranja 2021/22 do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/ Sudoeste Mineiro é reestimada em 267,87 milhões de caixas. Em comparação à expectativa inicial, divulgada em maio, a redução é de 26,30 milhões de caixas, o equivalente a aproximadamente 9%. O clima foi o principal fator que impactou o número, com a combinação da intensa falta de chuvas e as geadas ocorridas em julho.
O levantamento, realizado pelo Fundecitrus em parceria com a Markestrat, FEA-RP/USP e FCAV/Unesp, revela que as laranjas estão excessivamente miúdas e que a queda prematura de frutos atinge um de seus maiores índices.
“Esses fatores fazem a projeção recuar aos mesmos patamares da safra passada, que também foi bastante prejudicada por condições climáticas desfavoráveis e se encerrou em 268,63 milhões de caixas, apesar da carga de frutos atual ser 12,5% maior devido à bienalidade positiva”, explica o coordenador da Pesquisa de Estimativa de Safra (PES) do Fundecitrus, Vinícius Trombin. “Os dados são atípicos e mostram uma gradual piora da safra, que vem sendo constatada à medida que as colheitas avançam”, completa.
Impacto climático
A principal causa desta acentuada queda da safra é a piora no regime de chuvas, que já se configura na mais grave crise hídrica ocorrida no Brasil nos últimos 91 anos, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Volumes abaixo da média histórica já eram previstos, porém o déficit hídrico foi muito mais drástico e afetou todas as regiões do parque (veja no gráfico abaixo). “Uma seca como esta nunca havia sido vista no cinturão citrícola e está impactando fortemente os pomares de sequeiro, especialmente os mais adensados e com porta-enxertos menos tolerantes ao estresse hídrico”, destaca o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres.
Até mesmo os pomares irrigados, que abrangem mais de 30% da área total do cinturão citrícola, estão sofrendo com a seca, pois, em muitos casos, não há água suficiente para atender completamente à demanda desses pomares.
As geadas, que ocorreram de forma abrangente no estado de São Paulo, afetaram principalmente talhões localizados em baixadas, que tem relevo e microclima mais suscetível. Em casos isolados, foram severas e chegaram a provocar a morte de plantas, sobretudo, as mais jovens, mas, no geral, causaram danos nas folhas, ramos e frutos.
“Ressaltamos que esses dados da primeira reestimativa são uma fotografia do momento atual, e que as chuvas devem se reestabelecer dentro da normalidade em meados de outubro”, completa Ayres.
Queda e tamanho dos frutos
A projeção da taxa de queda de frutos sobe de 20,50% para 20,90% em média considerando todas as variedades, devido à intensidade do déficit hídrico, geadas e pressão de pragas e doenças.
E o tamanho médio projetado dos frutos passa de 259 para 283 frutos por caixa, peso de 144,2 gramas cada, 14,7% menor do que as das últimas cinco safras (média de 169 gramas).
Diante disso, e como a perspectiva é de que as condições climáticas adversas permaneçam até o encerramento das colheitas, o tamanho e a queda de frutos deverão chegar aos níveis mais críticos do histórico.
“Se este cenário for confirmado, não há o mais o incremento da safra atual em relação à temporada passada, que até então era de 9,51%, considerando a estimativa de maio. O volume deve ser menor que o produzido na temporada anterior [-0,28%]”, salienta Trombin.
A segunda reestimativa de safra será divulgada em 10 de dezembro.
Pior doença da citricultura cresce pelo quarto ano consecutivo e alerta para necessidade de endurecimento das ações de controle
O levantamento anual de greening realizado pelo Fundo de Defesa da Citricultura - Fundecitrus mostra que a doença está presente em 22,37% das laranjeiras do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, principal região produtora de laranja do mundo, o que equivale a mais de 43 milhões de árvores doentes dentre um total de 194 milhões de plantas.
Em relação ao ano passado, a incidência cresceu 7,2%, e este já é o quarto salto consecutivo da doença (2018: 18,15%; 2019: 19,02%; 2020: 20,87%), considerada a mais destrutiva da citricultura mundial devido aos sérios danos causados à produção e por não haver cura para as plantas contaminadas.
O levantamento revela ainda um aumento de 50% do greening em pomares jovens (até cinco anos), acumulando incidência de 10,21%, o que reflete uma maior dificuldade de controle nesta fase, em que as plantas são mais suscetíveis à doença. Outro dado relevante é o crescimento de 10% da doença em grandes propriedades, que representam 65% de toda a área cultivada, chegando a 15,4% nos pomares com mais de 100 mil plantas.
A análise do pesquisador do Fundecitrus Renato Bassanezi permite observar como o greening pode comprometer a competitividade da citricultura paulista e mineira.
Clima e manejo pouco rigoroso são as principais causas
O ano de 2020 registrou população recorde do inseto transmissor do greening, o psilídeo, devido uma combinação de fatores. Houve alta intensidade de brotações em um período atípico (abril a junho), quando costuma ser baixa e o controle do psilídeo menos frequente, o que favoreceu o aumento populacional do inseto, que prefere os brotos para se alimentar e se reproduzir.
A estiagem que veio no segundo semestre não foi suficiente para reverter o quadro, uma vez que o clima quente na maior parte do cinturão citrícola foi bastante propício para sua reprodução e dispersão.
Confira a entrevista completa no vídeo acima
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