Milho: Produtividade média prevista pelo USDA pode não ser alcançada e preços podem voltar aos US$ 4, acredita produtor
O Notícias Agrícolas e a Labhoro Corretora, no tour Missão Mulheres do Agronegócio, estiveram em Sullivan, no centro do estado de Illinois, para visitar a propriedade de Bill Voyles. O produtor, que cultivou 10 mil acres nesta temporada - sendo 50% de soja e 50% de milho, ao contrário dos demais, não aposta em um ano de safras recordes, principalmente no caso do milho. Abaixo, confira a tradução da entrevista de Voyles sobre o presente ano safra.
Carla Mendes: Este é um bom ano para a safra. Mas será um ano de recordes?
Bill Voyles: Não, definitivamente não será um ano recorde para a safra. Quando começamos a plantar estava mais frio e úmido, no mês de abril. O mês de maio foi OK, mas o mês de junho foi bem quente, e não frio o suficiente durante a noite o que comprometeu muito a polinização. Então, não vamos nos aproximar do recorde estimado pelo governo. E se o clima continuar bastante úmido, podemos ter problemas com mofo, fungos ou até mesmo alguma complicação na colheita com os equipamentos.
Preparação para o plantio na fazenda Bill Voyles, em Sullivan, IL
CM: Então, você não acredita nos 175 bushels (185 sacas por hectare) estimados pelo USDA para o milho, certo?
BV: Não acredito! As pessoas com quem eu tenho conversado nas áreas rurais por todo os EUA acreditam em uma média na casa de 168 (177 sacas por hectare), e acreditamos que possa cair para ago perto de 165 bushels por acre (174,62 sacas por hectare).
Lavouras de milho em desenvolvimento na fazenda de Bill Voyles, em Sullivan, IL
CM: Os seus rendimentos não devem mudar muito em relação ao ano passado?
BV: No ano passado, minha média em 4500 acres de milho foi de 196 bpa (207 scs/ha) e eu não espero colher muito mais do que isso, mas espero ficar ao menos próximo desse número, o que eu ainda acho que poderá ser complicado.
CM: Para a soja, você tem a mesma opinião? O USDA aposta em algo entre 48 e 49 bpa (entre 54,42 e 55,57 sacas por hectare).
BV: Sim! Eu acredito que (a média) será menor, mas não com uma diferença tão grande como a do milho, mas algo perto de 3 a 4 bushels a menos do que eles estão projetando agora. A soja realmente parece muito boa, contou com um bom período de plantio, mas plantas altas não significam, necessariamente, boa produtividade. Elas estão boas, mas não alcançarão um recorde nacional.
Lavoura de soja na fase de floração na fazenda de Bill Voyles, em Sullivan, IL
CM: Mas agora temos boas condições de clima para o enchimento de grãos!
BV: Sim, temos um ótimo clima agora, com chuvas significativas. Mas agora elas estão tão altas que, com algumas chuvas e vento, elas estão começando a deitar. E isso poderia trazer um problema mais adiante, também com mofo, e a falta da luz do sol em alguns pontos, impendido-a de secar. Mas, por agora, elas contam com boas condições e apresentam um bom potencial, principalmente no tamanho dos grãos.
CM: As chuvas podem trazer problemas na época da colheita?
BV: Com certeza! Entrar com as máquinas no solo muito úmido não toma só mais tempo, como também traz mais chances de os funcionários se machucarem com os equipamentos. Além de que o excesso de umidade causa a compactação do solo e isso também não é bom.
CM: Bill, apesar de não ser uma safra recorde, é uma safra grande! Você se preocupa com os preços diante disso?
BV: Eu acredito que, para o milho, já estejamos próximos das mínimas, isso porque a média nacional de produtividade não será essa que está sendo estimada. Por isso, acredito que o (preço do) milho tenha o maior potencial de aumento. Na soja, com a produtividade relativamente próxima da média e com as chances de uma boa safra, acredito que os preços podem cair. E os preços do milho precisam subir e alcançar os US$ 4,00 por bushel, ou o financiamento daqui em diante ficará muito difícil em função do preço dos insumos.
CM: E assim, você acha que, neste momento, os produtores americanos estão observando o mercado e esperando preços melhores?
BV: Definitivamente! Os produtores vão colocar sua produção em seus silos e esperar por esses US$ 4,00. Mesmo se alcançarmos os 168 bpa de média nacional, está bom, já que temos uma boa demanda para a produção de etanol, o volume dos rebanhos está alto e continua crescendo e precisamos alimentá-los. Mas com os preços dos insumos mais altos, precisamos de melhores preços para os grãos.
CM: Você acredita em uma média de US$ 10,00 para a soja?
BV: Acredito que este seja um valor OK, podemos fazer as coisas funcionarem com US$ 10,00 por bushel. Há alguns anos, quando tivemos US$ 16,00 / US$ 17,00 por bushel foi muito bom, mas foi como um tiro no pé. Os consumidores finais, os granjeiros e pecuaristas, as esmagadoras, eles não queriam pagar aquele preço. Então, temos que ter um meio termo para fazer as coisas darem certo. Há alguns anos, quando tivemos o milho na casa dos US$ 8,00 por bushel, os insumos foram às alturas e demoraram pra descer novamente.
CM: Você acredita em toda essa força da demanda sobre qual fala o mercado?
BV: Eu vejo um bom momento para o etanol, para os biocombustíveis em geral, mas tudo tem de ser economicamente viável. E agora, tenho visto alguma desaceleração ou alguma cautela no setor. Então, eu realmente espero que nosso governo e toda a indústria continue a dispor de mais alternativas para o uso do milho, eu acredito que podemos usar tudo o que produzimos.
CM: Bill, você acredita que seus custos de produção podem ser menores na próxima safra?
BV: Eu tenho que dizer que eles têm que ser se formos continuar com essa média de preços entre US$ 3,20 e US$ 3,50. Se isso não acontecer, você verá muitos produtores trocando alguns acres de milho por soja, será uma decisão difícil se não virmos os preços do milho se recuperando.
Aplicação de nitrogênio no milho na fazenda de Bill Voyles, em Sullivan, IL
CM: O preço de equilíbrio - o breakeven price - para o milho, este ano, está próximo dos US$ 3,50?
BV: Sim, perto disso. Mas, buscando os US$ 3,70 se você colocar um extra para garantir uma boa sanidade das lavouras e bons rendimentos.
CM: E para a soja?
BV: Para a soja, algo entre US$ 9,50 e US$ 10,00 po bushel.
CM: Bill, muito obrigada por nos receber e, principalmente, por dividir essas informações conosco e com os produtores do Brasil! Precisamos saber o que acontece aqui e vocês, o que acontece lá.
BV: Absolutamente! Eu adoro essa comunicação no Brasil, eu estive lá somente uma vez e ainda não consegui tempo para voltar! Mas eu gosto muito, sinceramente, dessa troca de informações.
O plantio na fazenda Bill Voyles foi realizado, para a soja e o milho, entre abril e junho. As imagens foram enviadas por Renato Kalkmann, um jovem brsileiro, paranaense, que trabalha com o produtor há um ano e meio. Voyles, que conta com mais funcionários do Brasil, diz que adora trabalhar com eles pelo amor e dedicação que têm à profissão e pelo conhecimento do campo que levaram daqui pra lá. "O Renato é um ótimo funcionário, uma ótima pessoa. Tem um coração bom e ama o que faz e isso é difícil de vermos por aqui", diz.
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