Como em 2007 e 2008, a Região Sul terá bons volumes de chuvas em dezembro e janeiro, prevê Mauro Costa Beber
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Entrevista com Mauro Costa Beber - Administrador na Agropecuária Brasitália sobre o El Niño
DownloadCom base em anotações feitas diariamente durante os últimos 30 anos, Mauro Costa Beber -- experiente produtor de grãos do município de Condor (Região Missioneira, no centro-norte do RS) --, aponta que a safra gaúcha, daqui pra frente, vai se consolidar, vegetar, florir, crescer e muito provavelmente produzir uma quantidade de grãos bem próxima da média dos últimos anos.
Uma produtividade que vai fazer a maioria esquecer o início dramático desta safra 20/21, que, sob os efeitos do fenômeno La Niña, queimou a safra de milho do Sul do País, e praticamente levou ao desespero os produtores que viam a safra de soja também indo pelo mesmo caminho.
-- "Agora tudo está mudando - diz Mauro Costa Beber -, daqui pra frente teremos outras condições..., tanto que novas frentes estão chegando já neste fim de semana, e, até o fim de janeiro, teremos umidade chegando regularmente para todo o Sul brasileiro".
A incognita ainda é o mes de fevereiro, que pode sofrer corte das chuvas e ficar debaixo de muito calor, ou, ao contrário, continuar recebendo umidade e ter condições climática favoráveis para o fechamento da safra Verão. O que pode definir mais ou menos produtividade em fevereiro, segundo ele, será a condição de temperatura do Oceano Atlantico, mais precisamente do Atlantico Sul.
-- "Ali é a chave da nossa agricultura", diz Costa Beber. "Se o pessoal que costuma ir à praia nos relatar que a água está quentinha, acima de 29 graus, podemos ficar tranquilos... Agora, se o mar estiver com águas frias, aí é sinal que as chuvas cortarão para nós, aqui no interior".
Mauro evita usar a palavra "acho"... tudo que fala e demonstra é baseado em fatos, dados e informações coletadas, anotadas e comparadas, ano a ano, para fazer o planejamento da safra da Agropecuária Brasitália -- fazenda de 1.700 hectares no município de Condor, onde é administrador da parceira familiar dos Costa Beber.
Mauro adquiriu o hábito de anotar o dia-a-dia do tempo ao longo dos útimos 30 anos. Depois de perceber que o clima que rege as safras se repete em ciclos quase que constantes, ele juntou todos os numeros e dados numa planilha de Excell, cruzou com informações meteorologias dos oceanos Pacífico (informações de 70 anos) e do Oceano Atlântico (informações de 140 anos), para constatar:
--- "Não existe mudança climática..., o que existe é, sim, uma repetição climática".
Com os numeros coletados, Mauro passou a antever como será a safra seguinte. Nesta safra 20/21, por exemplo, ele sabia que a região de Condor (que recebe em média 159 mm/mensal) receberia menos chuvas que em anos anteriores. Dito e feito, seus dados comprovam que no mes de setembro a região das Missões recebeu, em média 78 mm de chuvas, em outubro, 55 mm, e em novembro (até agora), 79 mm.
-- "Uma safra com comportamento semelhante às safras de 2007 e 2008, que começaram muito mal e terminaram razoavelmente bem"...
-- "Foi a primeira vez nesses 30 anos que sofremos com a seca na safra de trigo; só que, como estamos debaixo do La Niña, e esse fenômeno é indutor de produtividade para o trigo, colhemos com alta produtividade -, diferente dos anos de El Niño, que traz muita chuva para nós, do Sul, mas prejudica a safra de trigo", conta ele.
A chave climática, como ensinam os climatologistas, é a temperatura do Oceano Pacífico, que quando tem temperaturas negativas (ano de La Niña) o fenômeno provoca a diminuição de chuvas para o hemisfério Sul e favorece as precipitações para o Norte.
-- "Eles estão certos, o Pacifico frio causa realmente essas alterações climáticas na safra de todo o País; mas como vivemos num País-continente, aqui para nós, do interior gaucho, quem efetivamente influencia a safra são as águas do Atlantico, mais precisamente as do Atlantico Sul, que, quando se aquecem, empurram novas frentes para o Sul Brasileiro.
E pelas contas, numeros e estatisticas que Mauro extrai de seu computador, ele pode antever:
_- Vamos ter um dezembro e janeiro, chuvosos... resta saber como ficará o fevereiro"...
Isso, pelo costume, quem vai dizer é o pessoal que vai nas praias e que coloca os pés na água. Se arrepiarem, não teremos chuvas, mas se a gauchada se esponjar nas ondas, é sinal que teremos uma safra perfeita...
--" Nesse momento, estamos com esperança de fecharmos a safra-21 de uma maneira bem satisfatória", finaliza Mauro Costa Beber.
Chuva deve retornar a Santa Catarina em dezembro, diz o Ciram (Epagri)
O verão inicia em 21 de dezembro e traz com ele a tão esperada chuva para Santa Catarina. Essa previsão otimista para o próximo trimestre é da Epagri/Ciram, que indica chuva próxima a média em dezembro e acima da média nos meses de janeiro e fevereiro. O indicativo de precipitação acima da média é maior para o Litoral.
A segunda quinzena de dezembro é mais chuvosa em relação à primeira. Em dezembro a média mensal será de 130 a 150 mm no Meio Oeste, Planalto Sul e Litoral Sul, de 150 a 190 mm no Oeste, Planalto Norte, Litoral Norte e Grande Florianópolis. Em janeiro e fevereiro a média a mensal será de 150 a 190 mm do Oeste ao Planalto e no litoral Sul, com média chegando a 200 e 230 mm na Grande Florianópolis e Litoral Norte.
Segundo boletim emitido pela Epagri/Ciram, boa parte da chuva do trimestre está associada à convecção devido ao calor da tarde e noite, em forma de pancadas passageiras, típicas de verão. Já a chuva mais significativa normalmente ocorre devido à passagem de frentes frias pelo litoral. Por sua vez, os episódios de chuva mais intensa estão associados a influência dos Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM), sobretudo no Oeste e Meio Oeste.
Como será a temperatura no verão
A previsão é de temperatura próxima a média climatológica em SC, calor típico da estação. Em dezembro ainda podem ocorrer episódios isolados com temperatura mais baixa na madrugada e amanhecer, com geada fraca e isolada nas áreas altas do Planalto Sul.
Com relação à temperatura do mar, nos meses de outubro e novembro de 2020 as águas no Pacífico Equatorial apresentaram ampla área de resfriamento com anomalia de -1,0°C e -2,0°C, configurando o fenômeno La Niña. Nos próximos meses persiste a atuação da La Niña, com intensidade moderada a forte e pico máximo em janeiro. O fenômeno se estenderá até o primeiro semestre de 2021.
As meteorologistas da Epagri/Ciram Gilsânia Cruz e Marilene de Lima destacam que no verão é frequente a incidência de temporais com granizo e ventania no território catarinense, por vezes com acumulados significativos de chuva em curto intervalo de tempo. Por isso, elas recomendam o acompanhamento diário das informações e dos boletins disponibilizados no site desse centro de pesquisa.
6 comentários
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Vilson Ambrozi Chapadinha - MA
No Norte e Nordeste temos a ZCIT - zona de convergência intertropical... Se a anomalia do oceano Atlântico norte for positiva, ela alivia as consequências do El Niño... porém, podemos antever a ocorrência a partir de dezembro, ou seja três meses antes da quadra climática... Então no sul, já dá pra colocar o pé na agua pra saber sobre chuvas em fev/março... O clima responde aos oceanos depois de três meses .. e até três meses depois da anomalia confirmada.
Jancarlos Foresti Iraceminha
Sou do extremo-oeste de SC... e não sei se vale isso para nós...., presto muito atenção no clima, mas infelizmente não tenho esses dados... talvez isso seja mais útil que a meteorologia, já que não acertam quase nada..., parabéns pelo trabalho, muito importante.
Carlos Massayuki Sekine Ubiratã - PR
Praticamente fechamos o mês de novembro. A média de 41 anos para o município de Ubiratã-PR é de 1.944 mm de chuva de janeiro a novembro. Neste ano foram 1.070 mm, ou seja, um déficit de 874 mm. Somados ao déficit acumulado no ano passado de 662 mm em relação à média, já acumulamos 1.536 mm de falta de chuva em 23 meses. De setembro a novembro choveu 134 mm quando, pela média, deveriam ser 587 mm, ou seja, choveu só 23% do que seria considerado normal. Imaginem a situação da reserva de água no solo. Tivemos chuvas significativas, de 30 a 40 mm na semana passada, mas o solo estava tão seco e a evapotranspiração diária está tão alta (em torno de 5,4 mm/dia) que o solo já secou de novo. Tomara que essa previsão esteja certa e inclua também o Paraná porque as perdas se intensificam a cada dia de atraso na volta das chuvas.
Bom dia! Aqui em Condor (RS) a média anual de 30 anos é de 2.136 milímetros. Este ano até ontem choveu 1.525 mm. Aqui este ano vai ficar bem abaixo da média e mal distribuídas as precipitações, pois, na soma de junho e julho, choveu 602 mm. Portanto, os outros meses todos ficaram bem abaixo da média! A estatística mostra que só uma vez em 30 anos tivemos dois anos com chuvas abaixo da média..., então provavelmente no ano que vem teremos chuvas mais volumosas! Um grande abraço!
Mauro Costa Beber Condor - RS
Coloquei uma imagem da anomalia da superfície do mar do mês de fevereiro de 2005, onde aparecem anomalias negativas no Atlântico sul, o que resultou na maior seca do Rio Grande do Sul destes últimos 20 anos. Isso para mostrar a influência do Atlântico Sul nas chuvas do Rio Grande do Sul.
Mauro Costa Beber Condor - RS
Quero fazer uma observação quanto ao título da reportagem. O ano de 2021 não é análogo a 1991 e 2005, pois estes anos não eram ano de La Niña e sim de neutralidade com viés positivo. Para que não assistir a entrevista, observe as imagens dos anos que coloquei e que foram anos de La Niña como este.
Show Mauro! Essa seca no começo da safra estava começando a preocupar. São 15 anos de Drakkar, 15 safras diferentes. É muito contar com teu conhecimento e sabedoria!!!
Rafael Antonio Tauffer Passo Fundo - RS
Mauro, parabéns pelas informações.