La Niña traz chuvas irregulares e ainda geadas tardias, diz especialista
Na última safra, o comportamento do clima preocupou os produtores rurais brasileiros e deixou grandes prejuízos. E, depois de um forte El Niño, os institutos de meteorologia indicam que a safra 2016/17 será marcada pela influência do La Niña. Como característica, o evento climático traz a possibilidade de geadas tardias e chuvas irregulares para o Sul do Brasil.
“Essa irregularidade associada a uma diminuição das chuvas em relação à média histórica, quando o evento se expressa de maneira mais intensa causa algumas expectativas e preocupações no setor produtivo”, pondera o engenheiro agrônomo e gestor da área de produção sustentável de grãos da Emater/PR, Nelson Harger.
O especialista reforça que os produtores rurais devem estar atentos à distribuição das chuvas. “De maneira geral, teremos períodos mais chuvosos e outros com falta delas. E o veranico pode comprometer um pouco da safra de verão do Paraná. É uma produção de risco e precisamos colocar isso no nosso planejamento para tentar minimizar as possíveis perdas”, completa.
Trigo
No caso do trigo, as lavouras já foram cultivadas e estão em pleno desenvolvimento. Porém, a preocupação se dá por conta da possibilidade de geadas tardias, entre os meses de agosto e setembro. No próximo mês, as geadas podem ocorrer principalmente nas áreas mais altas do estado, como a região Centro-sul.
“No cereal também é uma preocupação, sabemos os produtores plantam mais tarde justamente para escapar dessa geada tardia, mas esse risco existe nessa safra. Caso tenhamos a ocorrência do evento climático, as lavouras podem sofrer algum impacto”, afirma Harger.
O engenheiro agrônomo ainda explica, o trigo é sensível às geadas nos períodos de espigamento e enchimento de grãos. “Quando temos a geada, a planta bloqueia todo o enchimento de grãos, temos a interrupção do processo de fotossíntese. Há um rompimento e os grãos ficam chochos, menores e sem qualidade para a indústria”, diz.
Safra de verão
Para a safra de verão, os agricultores devem observar as chuvas e o momento de plantio. Por enquanto, as previsões indicam precipitações a partir do dia 15 de setembro e para o mês de outubro também. Contudo, o especialista ainda sinaliza que é importante o planejamento da semeadura para não concentrar toda a lavoura em um período de risco.
“A melhor saída é escalonamento do plantio da soja. Acho que o produtor do Oeste do PR irá plantar mais cedo esse ano, pode ser uma boa estratégia. Com isso, as lavouras poderão crescer bem, passar bem pela fase vegetativa e enfrentar a fase reprodutiva, poderemos ter plantações com bom porte e bom desenvolvimento. Se atrasarmos o cultivo, para o final do mês de outubro, a lavoura pode sentir o maior impacto da falta de água na fase vegetativa, consequentemente plantas com porte baixo e florescimento precoce”, destaca Harger.
Paralelamente, o especialista ainda chama atenção para as temperaturas mais baixas. “Quando tivermos as chuvas em setembro também poderemos ter frio. Os produtores devem evitar plantar a soja nessas condições, pois a germinação da semente pode ficar amarrada”, reforça.
Manejo de pragas e doenças
Em meio ao clima mais seco, os produtores podem ter mais problemas com a incidência das pragas nas lavouras de soja nesta safra, especialmente na fase reprodutiva. “Os agricultores devem estar atentos ao aparecimento da falsa medideira na soja, que fica escondida nas plantas e há dificuldade de controle. Consequentemente, os produtores precisam de uma aplicação com mais qualidade”, acredita.
Por outro lado, as doenças devem entrar mais tarde nas lavouras nesta temporada. “Podemos associar o El Niño com maior preocupação com as doenças devido à umidade e o La Niña com as pragas, dada às condições mais secas. No caso da ferrugem asiática, para ocorrer à germinação do esporo da ferrugem na folha é preciso umidade. E com condições de pouco orvalho e poucas chuvas a doença terá mais dificuldade para se instalar”, sinaliza Harger.
Janeiro 2017
Há divergências entre os especialistas para o clima de janeiro. No geral, a perspectiva é de um início de mês mais chuvoso e no final do período um clima mais seco. “Ainda é cedo para fazer essas previsões, os produtores precisam acompanhar diariamente as informações de clima”, finaliza Harger.
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