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Manchas Foliares causam prejuízos no algodão e demandam atenção dos produtores

Publicado em 14/04/2021 10:38
José Otávio Menten - Presidente do CCAS
Cuidados passam por escolha de cultivares mais resistentes e aplicação de fungicidas específicos. Na safra 19/20, somente a Ramulária demandou US$ 360 milhões entre perdas nas lavouras e custos do controle químico

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Manchas Foliares causam prejuízos no algodão e demandam atenção dos produtores

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Manchas foliares: ameaça permanente à cultura do algodão

Por José Otávio Menten, Presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo e Professor Sênior da ESALQ/USP e

Alderi Emídio de Araújo, Fitopatologista, Pesquisador e Chefe Geral da Embrapa Algodão, Coordenador da Rede Ramulária

 

A cultura do algodoeiro vem sendo afetada por um expressivo número de doenças desde quando migrou para o cerrado brasileiro tornando a região a maior produtora de algodão do Brasil e o país o quarto maior produtor e segundo maior exportador mundial da fibra. Embora os patógenos habitantes do solo representem uma ameaça permanente são as manchas foliares que tem ocasionado os maiores prejuízos.

Nos primeiros anos predominava a ramulose, causada por Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides como a doença com mais danos à cultura. Entretanto as cultivares resistentes e a emergência da mancha de ramulária de forma mais precoce conduziu os produtores a aplicar fungicidas nas primeiras fases de desenvolvimento para deter o avanço da doença. A combinação de cultivares mais resistentes e aplicação precoce de fungicidas fez a ramulose praticamente desaparecer do cenário da cotonicultura brasileira.

Outras manchas foliares chegaram a causar preocupação aos produtores ao longo dos anos, tais como as manchas de Alternária e Estenfílio (Alternaria alternata e Stenphylium solani), de mirotécio (Mirothecium roridum) e a mancha angular, causada por Xanthomonas citri subsp. Malvacearum.

Entre as doenças que ameaçaram o algodoeiro, aquela que veio para ficar e representa hoje a maior ameaça ao seu rendimento é, sem dúvida, a mancha de ramulária. A doença é considerada a principal do algodoeiro no Brasil. Sua ocorrência é verificada em todas as regiões produtoras do cerrado, onde é produzido mais de 90% do algodão brasileiro. Também pode ser encontrada em regiões mais frias e úmidas do semiárido, bem como em São Paulo e no Paraná, em menor intensidade. Como a propagação da doença na planta se dá de forma ascendente é comum a ocorrência de queda de folhas no terço inferior, quando não são adotadas medidas de controle em tempo adequado, ou quando o controle químico não atua de maneira efetiva, ocasionando perdas expressivas. A desfolha intensa também pode ocasionar a abertura precoce dos capulhos, prejudicando a qualidade da fibra.

Os danos causados à cultura do algodão são expressivos e os prejuízos econômicos são de grande magnitude. Estudos realizados por Araújo, et al., (2020) demonstraram que a mancha de ramulária ocasionou prejuízo de, aproximadamente, US$ 360 milhões na safra 2019/2020, considerando-se as perdas na lavoura e o custo do controle químico. Deve-se levar em conta que, o melhor fungicida aplicado hoje na cultura do algodão para controle da doença, alcança, em média, um nível de controle de 84%.

O controle da mancha de ramulária se baseia no uso de cultivares resistentes e no controle químico. Considerando que a maioria das cultivares em uso no Brasil não possui resistência completa à doença, este último é ferramenta indispensável para o seu manejo. As aplicações de fungicidas devem ser iniciadas logo que os primeiros sinais da presença dos patógenos ou as primeiras lesões forem identificadas nas folhas mais velhas. O monitoramento da lavoura deve ter início cedo, uma vez que é comum lesões antes dos 40 dias após a emergência.

Para que o controle químico apresente resposta satisfatória devem ser feitas entre quatro e oito pulverizações, não raros sendo os casos em que são exigidas até 12 aplicações durante o ciclo da cultura (LAMAS e CHITARRA, 2014). Neste sentido a escolha do produto, o conhecimento do seu modo de ação, a época e o intervalo de aplicação, bem como o uso alternado de ingredientes ativos com diferentes modos de ação, representam aspectos fundamentais para a eficiência do controle químico, além de ser uma estratégia importante para reduzir os riscos de surgimento de populações resistentes do patógeno (DIAS, 2017).

Estudos recentes sobre a eficiência de fungicidas para o controle da doença têm apontado a redução na eficiência de alguns fungicidas Triazóis e, ao mesmo tempo, identificado fungicidas com alta performance e com diferentes modos de ação que já se encontram no mercado e outros em fase de Registro Especial Temporário no Ministério da Agricultura. Fungicidas multissítio à base de cobre e clorotalonil apresentaram efeito sinérgico quando associados à fungicidas sítio-específicos e podem representar uma alternativa para o manejo da resistência dos patógenos aos ingredientes ativos (ARAÚJO et. Al. 2020).

O sistema de produção de algodão no cerrado está associado ao plantio de soja e milho, seja em rotação ou em sucessão. Esse sistema tem se repetido ao longo dos anos e a sucessão desses cultivos pode ser a causa da adaptação de alguns patógenos de uma cultura para a outra. Na Bahia e em Minas Gerais, já há algum tempo, foi detectada a presença do mofo branco causado por Sclerotinia sclerotiorum em algodão (CHARCHAR, 1996). A ocorrência se dava em plantios de algodão sob pivô central previamente cultivados com feijão. A doença foi propagada para quase todo o cerrado brasileiro, embora os surtos epidêmicos sempre tenham sido eventuais. O plantio de crotalária como cultura de cobertura é um fator de grande relevância para a multiplicação de escleródios do patógeno dada à sua suscetibilidade a S. sclerotiorum.

Outra doença que se tornou uma ameaça para a cultura do algodão é a mancha alvo (Corynespora cassiicola), anteriormente um problema restrito à soja. A maior parte do algodão plantado no cerrado ocupa as áreas recém colhidas de soja. O patógeno foi relatado pela primeira vez no Brasil, no Mato Grosso, em 1995. A doença vem causando em função de sua prevalência ao longo das safras e de seu dano expressivo. Ainda não existem estudos que determinem as possíveis perdas ocasionadas, mas a doença é agressiva, uma vez que as lesões necróticas podem alcançar o diâmetro de até 20 mm e a queda de folhas é intensa e prematura.

Já ficou demonstrado que isolados de C. cassiicola tanto oriundos de algodão quanto de soja podem causar mancha alvo em ambos os hospedeiros (GALBIERI 2014). Neste sentido a produção de inóculo do fungo nas lavouras de soja pode se constituir em fonte de inóculo primário no cultivo subsequente de algodão na segunda safra ou mesmo na safra subsequente no algodão de safra única (SUASSUNA et al, 2015).

Mais recentemente foi observado o fungo Colletotrichum truncatum, patógeno historicamente associado à cultura da soja, afetando lavouras de algodão na região do Vale do Rio Araguaia, precisamente nos municípios de Canarana e Bom Jesus, no Mato Grosso (JULIATTI et al., 2020). Não se sabe ainda a extensão dos danos e as perdas ocasionadas por essa nova doença, mas o fato é que se faz necessário manter o seu monitoramento para evitar surpresas em um futuro próximo. Como vemos, há ajustes que precisam ser feitos no sistema de sucessão de cultivos envolvendo as culturas do milho, soja e algodão, para que a emergência de novos problemas fitossanitários não possa causar prejuízos maiores aos produtores de algodão do cerrado.

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Por:
Guilherme Dorigatti
Fonte:
Notícias Agrícolas

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