Fertilizantes: Ureia sobe 15% em uma semana e compromete relações de troca com o milho safrinha 23
Ao contrário do que se observava há algumas semanas, os preços da ureia voltaram a subir e, somente na semana passada, registraram uma alta de 15%, enquanto os valores do milho cederam expressivamente tanto no mercado internacional, quanto no brasileiro. O movimento impactou diretamente nas relações de troca para o produtor entre os dois produtos, saindo de 61 para 77 sacas do cereal - base Sorriso/MT -, em apenas sete dias, como explica o analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza.
"A partir do momento em que eu tenho esse aumento tão forte, acendo um novo sinal de alerta: será que esse movimento pode perdurar? Vai voltar? A ureia está subindo, mais uma vez, com a pressão do gás natural", diz o especialista, afirmando também que essa escalada do gás continua e que pode alcançar todos os demais nitrogenados.
Dessa forma, com toda a incerteza sobre o mercado do gás natural - que está muito ligado à continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia - a incerteza sobre o fertilizante também continua. "Não fosse isso, os preços da ureia registravam um tendência de baixa até o início de julho", explica. "Há duas semanas o gás natural explodiu na Holanda e os preços da ureia refletiram isso rapidamente".
Ao lado da movimentação dos preços em dólares por tonelada, os preços em reais também subiram dada alta da moeda americana frente ao real. Mais do que isso, o analista ainda destaca um movimento maior dos compradores - nacionais e internacionais - diante do aumento dos preços e acreditando que este pode ser um movimento mais duradouro, o que também ajudou a puxar pra cima os indicativos.
DEMAIS GRUPOS DE FERTILIZANTES
No mesmo período em que a ureia subiu forte, o cloreto de potássio conseguiu manter-se estável, considerando um intervalo de US$ 1075,00 a US$ 1100,00 por tonelada, custo e frete Brasil. Para o MAP, a tonelada também está próxima de US$ 1000,00, contra algo perto de US$ 1300,00 no início de março.
Todavia, em função de uma baixa nos preços da soja, as relações de troca no caso da oleaginosa também mostraram certa deterioração para a safra 2022/23.
QUAIS OS SINAIS DE ALERTA?
Diante dos últimos acontecimentos e dos sinais que o mercado ainda dá - em especial aos nitrogenados pelo movimento do gás natural - e dos impactos sobre as relações de troca, o produtor tem de se manter atento ao caminhar das relações de troca e às janelas de compras de seus insumos, as quais estão se mostrando cada vez menores e menos frequentes. E isso se dá para a soja e para o milho.
"O produtor tem uma janela cada vez menor, isso é um fato. Ele tem que ficar atento à logística. Já tivemos problemas com isso no ano passado e acho que, além de preços, ele tem que estar atento à essa janela de entrega do seu fertilizante para não ter preocupações na hora do seu trabalho de semeadura", orienta Jeferson Souza.
E com as relações de troca, apesar das recentes quedas, ainda estarem muito acima e distante das médias, a probabilidade de que o produtor possa reduzir sua adubação é cada vez maior e mais próxima. "Fizemos um levantamento recente, uma pesquisa aqui com os nossos clientes e a grande maioria deles comentou que irá reduzir (o uso de fertilizantes) nas áreas que são possíveis. Nas áreas novas é uma outra conversa, mas nas áreas consolidadas eles irão reduzir a adubação", alerta o analista.
ABASTECIMENTO E IMPORTAÇÕES RECORDES
As importações recordes de fertilizantes pelo Brasil este ano ajuda na garantia de que o abastecimento será adequado para a safra 2022/23, porém, ainda segundo Jeferson Souza, impressionam. Já para o segundo semestre, esse ritmo pode ficar menos intenso.
"O importador deve ficar mais atento à demanda. Hoje vemos algumas empresas com situação complicada em relação aos estoques aqui no Brasil. Então, ficarão mais atentos à essa demanda por parte do produtor. Acho que não vamos terminar o ano com tantas importações assim, já que tende a diminuir em função da demanda do produtor, que tende a ser menor este ano", diz.
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