A qualidade do algodão brasileiro no mercado internacional e a busca por espaço dando valor ao produto
O agronegócio e os setores urbanos estão intrinsecamente conectados, já que as cadeias produtivas de alimentos influenciam diretamente no cotidiano das cidades. Porém, muitos ruídos de comunicação entre as duas pontas geram discussões e desentendimentos que merecem atenção. Nesse contexto, o site Notícias Agrícolas e a consultoria MPrado desenvolveram o projeto Conexão Campo e Cidade, que visa debater diversas questões relacionadas aos negócios que envolvem os ambientes urbanos e rurais.
Confira aqui todas as edições do Conexão Campo Cidade
No programa desta semana, o tema discutido foi a produção de algodão no Brasil e o alcance internacional do produto. Para falar sobre o tema, o Conexão Campo Cidade recebeu o presidente da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), Júlio Cézar Busato, o qual fez um panorama da história da produção algodoeira no país e como o algodão nacional é visto no mercado internacional.
Trajetória da produção de algodão no Brasil
Primeiro momento no Brasil colonial
A produção de algodão no Brasil passou por três momentos de alta, como contou Júlio Cézar Buzato, que ele chamou como três grande oportunidades, sendo a terceira a atual, a qual Buzato espera que não acabe. A primeira tem início no ano de 1760, no estado Maranhão, quando a cultura é introduzida no Brasil. Naquela época, o Governo começa a cobrar grandes taxas para os produtores, fazendo com que a atividade deixasse de ser rentável.
Esse era o momento em que ocorria a Revolução Industrial na Europa, em grande parte com o uso do algodão na indústria têxtil. Assim, como afirmou o presidente, o Brasil perdeu uma grande oportunidade de se tornar um grande provedor mundial de algodão, condição que foi assumida pelos Estados Unidos.
Segundo momento interrompido por praga
Tempos após, nas décadas de 1970 até 1990, o algodão volta a ser cultivado em grande escala no Brasil, nos estados do Paraná, São Paulo, Goias até se espalhar pelo Nordeste. Naquele momento, chegou a ser plantado no Brasil 4,2 milhões de hectares. Em comparação, neste ano a expectativa é de que a área de algodão cultivado chegue a 1,5 milhão de hectares no território brasileiro.
Como explicou Buzato, era feita uma agricultura familiar enorme, principalmente de subsistência no Nordeste. Contudo, esse momento positivo para o setor foi interrompido pelo bicudo-do-algodoeiro, um besouro que dizimou a cultura no país, sendo reduzida a zero. Após isso, em 1997 o Brasil se torna o segundo maior importando de algodão do mundo, importando 1 milhão de toneladas para abastecer a indústria têxtil nacional.
Terceiro momento, a situação atual
Como relatou Buzato, no final da década de 90, agricultores começam a produzir o algodão de uma forma diferente em Mato Grosso. Ainda sendo agricultura familiar, porém empresarial e tecnificada. "O grande acerto foi quando os produtores se uniram através de suas associações estaduais e buscaram junto com a Embrapa e universidades pesquisas para que hoje tenham a maior produtividade de algodão irrigado do mundo", afirmou o presidente. Atualmente no Brasil é colhido o dobro de pluma por hectare que é colhida nos Estados Unidos.
O Brasil hoje é o quarto maior produtor de algodão do mundo e o segundo maior exportador. Um total de 96% da cultura está localizada no Cerrado, e 70% é de segunda safra. Essa é uma cultura que interessa muito, porque tem rentabilidade bruta três vezes maior do que a da soja e emprega cinco vezes mais pessoas, segundo Buzato.
Algodão brasileiro e a produção sustentável
O algodão brasileiro se destaca por sua produção sustentável, como destacou o presidente da Abrapa. Dois pontos são fundamentais para alcançar esse objetivo, a rastreabilidade, por meio da qual é possível saber onde e por quem cada fardo é produzido. Também existe o programa Algodão Brasileiro Responsável, com um selo entregue por empresas independentes.
Para ganhar o selo, o produtor precisa cumprir com 178 itens na parte econômica, sendo rentável para todos que participam da cadeia produtiva, estar 100% em conformidade com organização internacional do trabalho e se adequar à parte ambiental, que é onde o Brasil mais se destaca em relação às outras nações. "Essa é onde a gente bate no peito e diz que tem o programa de sustentabilidade mais completo a nível mundial", frisou Buzato. Segundo ele, existe partes do país onde 35% da vegetação nativa são preservas, frente a uma exigência de 20%.
Assim, o Brasil gera 38% do algodão BCI (Better Cotton Initiative, nome em inglês) do mundo, focado na produção sustentável. Além disso, do algodão produzido no país tem o brasileiro tem o selo Algodão Brasileiro Responsável e essa característica da agricultura nacional tem sido mostrada para outras nações.
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