COP 26: a imagem internacional do agro brasileiro e o desafio de assumir exemplo de sustentabilidade

Publicado em 08/11/2021 18:50 e atualizado em 15/12/2021 09:19
Conexão Campo Cidade (08/11)
O presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA conversou de Glasgow, onde ocorre a conferência sobre mudanças climáticas COP 26, e comentou a imagem passada internacionalmente pelo agronegócio brasileiro e como as principais potências mundiais têm enxergado as iniciativas sustentáveis brasileiras

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Conexão Campo Cidade (08/11)

O agronegócio e os setores urbanos estão intrinsecamente conectados, já que as cadeias produtivas de alimentos influenciam diretamente no cotidiano das cidades. Porém, muitos ruídos de comunicação entre as duas pontas geram discussões e desentendimentos que merecem atenção. Nesse contexto, o site Notícias Agrícolas e a consultoria MPrado desenvolveram o projeto Conexão Campo e Cidade, que visa debater diversas questões relacionadas aos negócios que envolvem os ambientes urbanos e rurais.

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Nesta semana, o time do Conexão Campo Cidade conversou com Ricardo Arioli, presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, que falou diretamente de Glasgow, na Escócia, onde participa da conferência sobre mudanças climáticas COP 26. Na segunda-feira (08), o evento teve como foco a agricultura e Arioli representou os produtores brasileiros – com muita honra, como afirmou. A entrevista completa está disponível no vídeo acima; a seguir você confere os principais assuntos que estiveram em discussão durante o programa.

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Brasil na vanguarda mundial de sustentabilidade agropecuária

Mesmo que satisfeito com a apresentação feita na COP deste ano, a quarta edição da qual participa, Arioli afirmou que ainda existe um discurso muito forte, feito pelas outras nações, de que o Brasil destrói a Amazônia para aumentar as áreas de produção agropecuárias. Para ele, o caminho para mostrar ao mundo que isso não é verdade é apresentar as inovações brasileiras de sustentabilidade, que estão na vanguarda mundial.

Conforme destacou também Roberto Rodrigues, presente na primeira COP, realizada no ano de 1992, um dos principais temas em destaque hoje é reduzir a emissão de carbono e, para isso, regulamentar esse mercado. “O Brasil, nas COPs, sempre está oferecendo um pouco a mais. Nós oferecemos código florestal com as reservas legais, as APPs, nós oferecemos 10 anos para tornar o Brasil neutro em emissões de carbono, agora encurtamos de novo esse prazo, mas quem tem que botar o dinheiro na história são os maiores poluidores”, afirmou Arioli.

A ideia do mercado de carbono é que os países que emitem o gás de efeito estufa paguem para aqueles que o tiram da atmosfera. Contudo, nem todas nações têm se comprometido a assumir essa responsabilidade. Além disso, ainda há conflitos de qual a melhor maneira de medir a emissão do gás. Tanto para Arioli quanto para Rodrigues, é necessário criar uma instituição com papel de organizar essas medições. No Brasil, a Embrapa e o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) têm desenvolvido séries de pesquisas com o objetivo de definir métricas precisas capazes de determinar quanto de carbono tem sido emitido ou sequestrado na atmosfera pelas propriedades rurais.

Desafio brasileiro: a comunicação

“A gente já faz mas parece que está pedindo para fazer”, foi assim que José Luiz Tejon descreveu a maior dificuldade do Brasil em mostrar os trabalhos que são desenvolvidos no país. A comunicação é o principal desafio hoje do país, pois já executa as medidas que servem de exemplo para todo o mundo, mas não consegue desfazer a imagem negativa que muitas vezes carrega. “A gente comunica, comunica, mas as pessoas ouvem o que querem ouvir, e não a verdade”, afirmou Roberto Rodrigues. Segundo ele, muitas vezes o fato não importa e não querem ouvir o brasileiro que é concorrente no mercado.

A apresentação na COP 26, como contou Arioli, foi bastante robusta, com bons argumentos e números. Um dos destaques que chamaram atenção de outros países foi a carne de carbono zero, ou seja, propriedades de pecuária com emissão neutra de carbono. “É primeira COP em que nós brasileiros estamos muito confortáveis com a mensagem que temos para trazer com aumento de sustentabilidade”, declarou. “Nossa comunicação está muito boa, os elementos estão aí e está todo mundo falando nisso. Mas agora, realmente, será que estamos pregando para os convertidos, como fazer essa mensagem chegar para quem precisa”, questionou o representante da CNA.

Para Marcelo Prado, o que é falta é um investimento financeiro em comunicação. Tejon, dando sequência ao assunto, lembrou que o valor bruto da produção do agronegócio brasileiro é semelhante ao faturamento da Coca-Cola. Uma parcela desse dinheiro, conforme o que disse, deveria ser investido em mídia para mostrar a real imagem da agropecuária do país.

 

A pecuária e o acordo para reduzir as emissões de metano

Na última semana, um grupo de 103 países, incluindo o Brasil, assinou um acordo se comprometendo a reduzir as emissões de metano, o principal gás poluente. Contudo, os três maiores emissores – Chinra, Rússia e Índia – não estão inclusos na lista. O Brasil, na lista dos cinco que mais jogam metano na atmosfera, logo atrás dos Estados Unidos como quarto, teve a atividade pecuária como principal alvo de críticas.

Assim, o melhoramento genético dos animais e das rações consumidas e, principalmente, o aprimoramento das pastagens são as apostas nacionais para cumprir o acordo. “´Nós tivemos um painel surpresa aqui pela manhã, infelizmente madrugada no Brasil, apresentado pelo pesquisador brasileiro Rafael de Oliveira Silva, da faculdade de Edimburgo, comprovando que um pasto de melhor qualidade diminui as emissões, a produção de carne pode ser um fator de redução das emissões quando o pasto é bem cuidado”, contou Arioli.

Porém, essas inovações precisam ainda chegar aos pequenos pecuaristas brasileiros. No Brasil há muitos produtores com propriedades de meio hectare onde criam gado, é preciso que as novas iniciativas cheguem para eles, de acordo com que declarou o presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas.

 

Gestão do agronegócio e o desafio de garantir rentabilidade em 2022

Outro tema que esteve em destaque durante o programa foi o desafio que será para os produtores nacionais garantir a rentabilidade no próximo ano. Marcelo Prado lembrou que a soja, alguns meses atrás estava no patamar dos US$ 16,00/bushel na bolsa de Chicago, mas com cenário baixista. Agora, a oleaginosa perdeu o patamar dos US$ 12,00/bushel. Por esse motivo, Prado afirmou que “a gente não pode ter uma super ambição de querer acertar o olho do mosquito, ou seja, acertar o pico do preço. Isso tem induzido o agropecuarista brasileiro a perder grandes oportunidades. Vamos fazer fechamentos escalonados”. De acordo com ele, o impacto apenas não foi maior por causa da valorização do dólar.

Entretanto, a preocupação da rentabilidade cresce ainda mais devido à elevação nos preços de fertilizantes e defensivos. “É muito importante que o agricultor faça gestão, tome decisões, planeje, construa sua estratégia comercial para que no final da safra ele colha bons frutos” concluiu Prado. Roberto Rodrigues, dando seguimento ao tema, ressaltou que houve variações muito grandes na inflação, na taxa cambial e na Selic durante um período muito curto de tempo, o que dificulta ainda mais o planejamento dos produtores. Serão pelo menos dois anos muito complicados.

Sobre os fertilizantes, Arioli destacou que a Embrapa tem pesquisados novos produtos, que poderão ser fundamentais no plantio em 2022. “Tem notícias boas aí, a Embrapa lançou agora um inoculante para milho. Talvez a gente faça a mesma coisa no milho a mesma coisa que a gente faz na soja, que é não usar o adubo nitrogenado, que é um dos maiores emissores, inclusive, na questão do agro. Tem também outro produto que é o BiomaPhos, que solubiliza aquele fósforo preso no solo e leva para as plantas. Quem sabe em uma crise global de fertilizantes nós vamos ter algumas soluções caseiras biológicas para tornar nosso agro mais sustentável ainda, afirmou Arioli.

 

Marília Mendonça e a representação sertaneja na agropecuária

Para encerrar o programa, o time do Conexão Campo Cidade homenageou a cantora Marília Mendonça, que morreu na sexta-feira (05), em um acidente de avião. Tejon citou um trecho da música “A flor e o beija-flor”, composta com participação da cantora:

“E a flor conhece o beija-flor
E ele lhe apresenta o amor
E diz que o frio é uma fase ruim
Que ela era a flor mais linda do jardim
E a única que suportou
Merece conhecer o amor
E todo seu calor”

Conforme disse Tejon, a música, principalmente a sertaneja, tem um poder muito grande em falar com o campo e com a cidade, ainda mais através de pessoas humildes que têm o carinho das pessoas, como era o caso de Marília. “Quando se fala com o coração, com a alma, você conquista mais as pessoas”, completou Marcelo Prado.

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