Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - De patinho feio, há algum tempo, a cisne da lagoa nas eleições deste ano, o articulado setor da agropecuária conseguiu evidenciar seu peso político e despertou o interesse de boa parte dos presidenciáveis.
Não à toa, o setor que segurou a economia brasileira nos anos de crise e serviu de porto seguro para as instabilidades que assolaram o país foi levado em conta para a formação de boa parte das chapas presidenciais.
"O papel político do setor agropecuário decorre do fato de eles serem a âncora da economia brasileira. Sobretudo depois da crise, que começou justamente no último trimestre de 2014, eles viraram a solitária âncora da economia brasileira", avaliou o cientista político da Universidade de Brasília e analista de empresas em análise de risco Paulo Kramer.
A força política do setor também decorre, na opinião de Kramer, da compreensão de seus representantes, ainda na época da redemocratização, da importância de se organizarem institucionalmente, inclusive no Legislativo do país.
"Eles perceberam muito cedo, mais até do que outros setores, que era necessário eles se articularem no Congresso", avaliou. "Por isso eles têm força e sabem se articular bem."
Tanto é que um dos grupos mais articulados e influentes no Congresso é a Frente Parlamentar Mista da Agropecuária, com 227 deputados e 27 senadores inscritos, alguns fora do exercício.
"A sociedade urbana brasileira está se dando conta da importância do agronegócio. A sociedade passou a reconhecer a importância do agro na economia, no PIB, nos empregos, e nas exportações", avaliou o ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues.
"Eu acho que está 'pegando' isto. A tal ponto que nenhum candidato hoje pode ignorar a agricultura. Mais do que isto, todo o candidato hoje tem que se referir à agricultura. Com maior ou menor ênfase", afirmou Rodrigues, lembrando das chapas presidenciais constituídas de olho no setor.
Uma delas é a do tucano Geraldo Alckmin, que escolheu como companheira na disputa a senadora Ana Amélia (PP-RS), aguerrida representante do setor, muito expressivo no sul do país.
Já o candidato Ciro Gomes (PDT), que não conta com a simpatia de ruralistas, convidou para sua chapa a ex-ministra da Agricultura e ex-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (PDT-TO).
Na mesma linha, Alvaro Dias, que disputa o Planalto pelo Podemos, traz como candidato a vice o economista Paulo Rabello de Castro. Ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem posicionamento economicamente liberal e iniciou sua carreira na Sociedade Rural Brasileira.
Outra chapa fortemente ligada ao setor é a do Novo. Encabeçada por João Amoêdo, muito bem visto pelo mercado financeiro, traz como candidato a vice o professor Christian Lohbauer, mestre e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP).
Lohbauer foi vice-presidente de Assuntos Corporativos da Bayer no Brasil e presidente executivo da CitrusBR, além de ter ocupado a diretoria executiva da Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos (ABEF). Atualmente, o professor é membro da diretoria da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG).
"Há uma mudança de comportamento entre os políticos brasileiros que significa não mais deixar a agricultura de lado. Agricultura é algo proeminente do cenário", disse Rodrigues.
Segundo a CNA, o setor é responsável por 32 por cento dos empregos gerados no país e registrou saldo comercial positivo de quase 82 bilhões de dólares, enquanto todos os demais setores tiveram déficit próximo de 15 bilhões de dólares. Ainda segundo a entidade, em 2017 as exportações do agronegócio corresponderam a 44 por cento do total.
RUMO
Ainda que não tenha uma ligação direta com o setor, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) é um dos que deve abocanhar boa parte dos votos do campo.
Segundo a coordenadora da Frente Parlamentar Mista da Agropecuária (FPA), deputada Tereza Cristina (DEM-MS), que chegou a ser cotada para a vice de Alckmin, há outras candidaturas que trazem propostas interessantes para o produtor rural, mas Bolsonaro conseguiu a simpatia da área com suas propostas mais conservadoras.
A principal delas, aliás, diz respeito à flexibilização das regras para o porte de armas, algo que colou entre produtores --pequenos, médios, ou grandes--, que temem a migração da violência da cidade para o campo.
"O setor se movimenta muito pelo Bolsonaro, é o que a gente tem visto, pelas propostas mais conservadoras, o setor é conservador", avaliou a coordenadora da frente.
"Mas tem muita gente falando em Alckmin, porque tem uma proposta interessante para o setor, e Alvaro Dias, pela sua experiência no Paraná bem-sucedida no agronegócio."
Segundo a deputada, o campo ainda encara "com receio" as candidaturas de Ciro e de Marina Silva (Rede).
Mesmo Kátia Abreu ainda é alvo de desconfiança de agricultores por ter mantido posição firme contra o impeachment da ex-presidente petista Dilma Rousseff. A vice do PDT, no entanto, disse à Reuters que continua "a mesma Kátia de centro-direita".
Já Marina, ex-ministra do Meio Ambiente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "não é a candidata do setor", segundo Cristina, mas já não persiste o antagonismo entre preservação e produção rural: "isso está ultrapassado".
A candidata da Rede, aliás, tem investido na relação com o setor e tem defendido que é possível dobrar a produção com crédito e assistência técnica, sem a necessidade de abertura de novas áreas.
Após sabatina na CNA em que conseguiu até algumas risadas da plateia, Marina saiu com saldo positivo: "Não tem meu voto, mas gostei da fala dela", disse uma integrante da entidade após a palestra da candidata.
Na opinião de Frederico D'Ávila, um dos diretores da Sociedade Rural Brasileira e um dos coordenadores de Bolsonaro para o setor agropecuário, o candidato do PSL é o único a ser "assertivo" e "direto nos temas caros" ao setor.
"Os outros candidatos, uns não têm nenhuma ligação com a gente, alguns são até contrários ao nosso modelo produtivo. E outros tentam se fazer passar por uma coisa que não são. E tem outros que não têm posição firme porque na sua aliança tem gente que não coaduna daquela posição", disse D'Ávila.
Segundo ele, a identificação de agricultores com Bolsonaro deve-se, em boa medida, à sua promessa de segurança jurídica, a "tranquilidade de saber que amanhã não vão invadir a sua propriedade"; à posição contrária aos entraves burocráticos, principalmente relacionados à questão ambiental, e a propostas de investimento em logística.
"O agronegócio brasileiro é um 'case' de sucesso... Então um setor que era até marginalizado, que era como o patinho feio da economia --os agricultores, no passado, tinham frustração de safra, o governo não dava o devido apoio financeiro de custeio para o produtor--, agora virou o cisne da lagoa", afirmou.
Outro ponto que alimenta a simpatia diz respeito aos costumes, segundo D'Ávila.
"O agricultor é muito família", avaliou. "Existe uma questão de tradição, de família, isso está muito mais arraigado."
Elio Vicente Rossato, produtor de soja no Tocantins, compartilha do sentimento de apatia de grande parcela da população com os candidatos postos, mas reconhece que o nome de Bolsonaro tem apoio entre agricultores. Também relata um forte sentimento antipetista entre seus pares.
"A eleição não tem foco ainda, o país perdeu o 'oriento'. Está todo mundo com medo do que vai acontecer. O pessoal não sabe ao certo em quem votar, mas quem sabe quer armamento, quer Bolsonaro. O povo não aceita mais ninguém desses que estão aí", disse à Reuters por telefone.
Pesquisa Datafolha divulgada na última semana aponta que Bolsonaro alcança seu índice mais alto --23 por cento, nas respostas espontâneas, e perto de 30 por cento nas estimuladas-- nas regiões Sul e Centro-Oeste, fortemente agrícolas.
Lucro do BNDES cresce 178% no 2º trimestre
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou nesta segunda-feria que teve lucro líquido de 2,7 bilhões de reais no segundo trimestre, um salto de 178 por cento ante mesma etapa do ano passado.
Segundo o presidente do BNDES, Dyogo Oliveira, o lucro do primeiro semestre (4,7 bilhões de reais), ante 1,3 bilhão no mesmo período de 2017, foi o melhor para o período desde 2014 e foi impulsionado por venda de participações em empresas, redução em provisão de risco e intermediação financeira. A inadimplência acima de 90 dias do banco, fechou o primeiro semestre em 1,45 por cento ante 2,08 por cento um ano antes.
No semestre, o banco vendeu participações na Eletropaulo, operação na qual levantou 1 bilhão de reais. Com os papéis da Petrobras, o banco levantou 1,8 bilhão de reais e sua fatia na empresa saiu de 16,54 para 15,24 por cento.
"A justificativa principal para a venda foi o enquadramento a 25 por cento do patrimônio de referência que é o nosso limite de exposição", declarou Oliveira. "Com essa movimentação, estamos enquadrados e uma folga até 2021", adicionou o diretor da área jurídica, Marcelo Siqueira.
A carteira de participações do BNDES no fim de junho baixou para 69 bilhões de reais ante 75 bilhões no fim de março. A meta do banco para 2018 é vender ao menos 10 bilhões de reais da sua carteira de participações.
Técnicos do banco dizem que parte da operação de fusão da Suzano com a Fibria poderá ser contabilizada no trimestre atual, mesmo que os recursos não entrem no caixa do banco. A operação pode render 8,5 bilhões de reais mais uma fatia na nova empresa.
Oliveira disse esperar um segundo positivo para o banco.
"As perspectiva são boas porque acreditamos que o provisionamento para risco de crédito continuará baixo, estamos fazendo grande esforço de redução de tempo para contratação de recursos e a redução da burocracia deve resultar em volume maior de desembolso e contratação", disse ele.
Em 2018, o BNDES vai pagar até 60 por cento de dividendo ao governo. A partir do ano que vem, o percentual será de no máximo 25 por cento. O novo limite faz parte do acordo costurado com a Fazenda para o novo cronograma de devolução de empréstimos ao banco feitos pelo Tesouro nos últimos anos.
O BNDES devolveu 60 bilhões de reais este ano e deve devolver outros 70 bilhões em agosto. No fim do ano, o passivo do BNDES com o Tesouro ainda será de quase 300 bilhões de reais.
(Por Rodrigo Viga Gaier)