Sol aparece e mostra os estragos provocados pela chuva no PR
Degradação mundial do solo já custa até US$ 11 trilhões por ano
por MAURO ZAFALON, na coluna VAIVEM DAS COMMODITIES (Folha de S. Paulo)
A natureza tem um sistema próprio de produção. É um sistema operante ativo entre vegetal e animal. Proteção, alimentação e reprodução são condições-chave para a manutenção das espécies.
A avaliação é de Leontino Balbo Júnior, um praticante ferrenho do processo de revitalização da agricultura por meio da reestruturação dos solos.
Desde 1988 à frente das atividades de produção das fazendas São Francisco e Santo Antônio, em Sertãozinho (SP), Balbo desenvolveu o projeto "cana verde", com o objetivo de produção biológica da cana. Deu certo, e hoje a Native, empresa do grupo, é líder na produção de vários produtos orgânicos, tendo como carro-chefe o açúcar.
Mas todo esse processo de revitalização da agricultura passa pelo solo, cuja configuração vem da convivência entre organismos vivos.
Em um hectare de mata nativa há de nove a dez toneladas de organismos vivos embaixo da terra, além dos que estão na parte de cima. É importante a utilização de todas essas espécies em favor da agricultura, principalmente na decomposição de material orgânico, segundo Balbo.
Hoje já há uma consciência da importância desse processo. Até o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) já produz estudos indicando que a matéria orgânica é o combustível da teia alimentar, afirmou Balbo nesta quinta-feira (19) em Ribeirão Preto (SP).
Mas ainda há muita coisa a ser feita. Os ambientes agrícolas estão tão artificializados que são muito instáveis atualmente. Algumas culturas já necessitam de 12 a 14 pulverizações de inseticidas e fungicidas de tão vulneráveis que está esse ecossistema. E isso já ocorre em todas as principais regiões de produção do mundo, dos Estados Unidos ao Brasil.
Um estudo de solo nos Estados Unidos apontou que no Estado de Iowa, onde predomina o cultivo de milho e a utilização de agricultura de precisão, a produtividade, após ter atingido um pico, está caindo.
Isso ocorre porque o solo não aguenta mais as chuvas. Nos últimos 20 anos, as terras do Estado já perderam 25% da parte de cima do solo que é agriculturável. Essa camada, chamada de "top soil" e que tem 25 centímetros, está indo para o rio Mississippi.
O custo econômico da degradação é elevado no mundo todo, segundo Balbo. É o que mostram estudos de 30 grupos espalhados pelo mundo. Os números indicam que de 25% a 27% de solo está altamente degradado no mundo e que outros 25% estão em estágio de evolução de degradação.
Em apenas 8%, onde se aplicam práticas de reconstrução do solo, há uma melhora.
Esses estudos indicam para uma grande perda futura de produtividade. A contaminação dos recursos hídricos, a perda água, de animais e os efeitos para o homem dessa degradação de solo giram entre US$ 6,5 trilhões e US$ 11,3 trilhões por ano.
Portanto, nem sempre a busca da produção pelo menor custo é a mais apropriada para o ecossistema. Ela vai levar a perdas futuras de produtividade, afirma Balbo.
Fenômeno El Niño afeta produção de alimentos no Brasil
A produção de alimentos básicos no Brasil, como o trigo, o arroz e o feijão, está sendo afetada pelo El Niño, fenômeno climático que veio com força total neste ano e deve ser o mais forte desde 1997.
No Brasil, a principal característica do El Niño é potencializar as chuvas no Sul e a seca no Nordeste, segundo o agrometeorologista Marco Antonio dos Santos, da Somar Meteorologia. De quebra, as precipitações no Centro-Oeste e no Sudeste ficam mais irregulares do que o habitual.
De fato, as chuvas no Sul foram muito intensas e frequentes durante a colheita do trigo, que gosta do clima seco, levando a uma quebra na safra. A produção brasileira, que tinha potencial para atingir 7,3 milhões de toneladas, deve ficar em 5,7 milhões, uma perda de 22%, segundo a consultoria Safras & Mercado.
"Também haverá uma piora na qualidade do trigo, mas ainda não temos certeza da dimensão", diz Élcio Bento, analista da consultoria. A estimativa preliminar é de que, do total colhido, pelo menos 1 milhão de toneladas será de baixa qualidade e inadequada para o consumo humano.
Para abastecer o mercado interno, o Brasil precisará aumentar as importações do cereal em 12% na safra 2015/16, para 6,6 milhões de toneladas, segundo Bento.
Com o dólar valorizado, a tendência é de alta para os preços do trigo no país e de seus derivados, o que deve afetar o bolso do consumidor.
ARROZ E FEIJÃO
Outros alimentos presentes na dieta básica do brasileiro também têm a produção afetada pelo El Niño.
As chuvas no Rio Grande do Sul, maior produtor de arroz, atrasam o plantio, o que deve reduzir a produção. Para o Irga (Instituto Rio-Grandense do Arroz), haverá uma redução de pelo menos 10% na produtividade das lavouras gaúchas. Na semana passada, o plantio chegou a 62% na área, ante 85% no mesmo período de 2014.
"Em anos bons, nessa época já tínhamos 90% da área cultivada", afirma Vlamir Brandalizze, consultor especializado no setor.
Em razão dos problemas na safra gaúcha, a produção nacional deve ser inferior a 11 milhões de toneladas, enquanto o consumo ultrapassará 12 milhões. "O abastecimento será bem apertado em 2016. O Brasil terá de importar e os preços vão subir", diz.
Cenário semelhante é traçado para o feijão. A primeira safra, que tem o Paraná como o maior produtor, está em desenvolvimento e também sofre com o excesso de umidade. No Nordeste, onde também há lavouras em desenvolvimento, a situação é preocupante porque não chove.
Segundo Brandalizze, de 10% a 15% do potencial de produção no país já está comprometido. "Isso é um sinal de que o mercado do feijão em 2016 terá demanda maior do que a oferta e de que as cotações vão subir", afirma.
No caso do feijão, o impacto dos problemas atuais ainda pode ser compensado pelas duas safras seguintes –o Brasil tem três safras por ano.
Por causa do clima seco no Centro-Oeste, o plantio da soja está atrasado, o que pode limitar o plantio da safrinha de milho. Se o produtor perder a época adequada para o plantio do milho na segunda safra, poderá optar pelo feijão, que precisa de menos tempo para se desenvolver.
Além do clima, o agricultor terá outros estímulos para escolher pelo feijão. Na crise, cresce o consumo de alimentos básicos, que, mesmo em alta, são mais baratos do que as carnes, por exemplo.
(na Folha de S. Paulo)
3 comentários
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Luis Kurati Recife - PE
Boa noticia!!!..., A EXPECTATIVA É DO PREÇO SUBIR! ATRASAREI TODA MINHA VENDA...
Otima reportagem, deixou mais aliviado...pois o preço em Chicago de 845,00 está CRUEL...fala serio.
"Boa noticia" porq não é sua área que tá cheia de erosões
Angelo Miquelão Filho Apucarana - PR
Caro amigo João Batista, aqui em nossa região de Apucarana (PR) mesmo com os terraços e curvas de nível, as chuvas fizeram estragos, abriram caminho em meio à plantação! Nas curvas onde a água está parada a soja já morreu, outras foram aterradas... Tem caído fortes chuvas, acompanhadas de ventos..., são dezenas de milímetros em poucos minutos..., não tem terra que dê conta de absorver. Os únicos locais que ainda estão resistindo à formação de erosões são onde foram feitas a descompactação do solo no inverno.... Lugares mais úmidos estão encharcados, brilham de tanta água que tem no solo. A combinação das chuvas e dos ventos rasgam as folhas da soja, falta luz, falta ânimo até para sair e vistoriar as lavouras!
Vilson Ambrozi Chapadinha - MA
"Sol aparece e mostra os estragos provocados pela chuva no PR": Um ano pra ficar na história...
desde que trabalho com soja esse é o pior ano que já vi