USDA terá de refazer levantamento de área em 14 estados e rever seus dados
Os números de área do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) para a safra 2019/20 dos Estados Unidos foram, finalmente, divulgados nesta sexta-feira (28) e surpreenderam o mercado em todas as frentes. Com números completamente contrários do que vinham sendo especulados, consultores e analistas nacionais e internacionais buscaram entender as contas da instituição.
O próprio USDA, inclusive, já informou que um novo boletim de área deverá ser divulgado no dia 12 de agosto com uma recoleta de dados que será feita em 14 estados. Estão na lista a Dakota do Sul, Dakota do Norte, Nebraska, Kansas, Minnesota, Illinois, Iowa, Missouri, Michigan, Arkansas, Wisconsin, Ohio, Indiana e Nova York.
A imagem abaixo ilustra a área do USDA em que o levantamento será refeito.
O relatório desta sexta-feira trouxe dados colhidos nas duas primeira semanas de junho e, apesar de todos os problemas enfrentados à época, os produtores ainda tentavam avançar com seu plantio do milho. A tendência, portanto, é de que os números que chegam no mês tragam uma revisão, principalmente no milho.
Além disso, as novas estimativas já irão considerar, podendo observar com mais clareza, as áreas não plantadas, destinadas a outras culturas e, principalmente, ao programa de seguro Prevented Planting.
O USDA trouxe apenas uma leve correção na área destinada ao cereal de 37,55 para 37,11 milhões de hectares, quando a média das expectativas do mercado era de 35,07 milhões de hectares. Se esperava uma redução bastante agressiva na área destinada ao cereal depois da primavera extremamente chuvosa e que impediu o avanço adequeado dos trabalhos de campo em muitos estados.
"Analisando os números divulgados pelo USDA referentes ao milho, a Labhoro entende que os mesmos não condizem com a realidade atual (...) Esta área de milho divulgada hoje é simplesmente muito maior do que as expectativas e é
basicamente igual as projeções iniciais de março, quando não tinha se quer iniciado o plantio", disse o Grupo Labhoro em um boletim nesta sexta-feira.
A área de soja foi estimada em 32,38 milhões de hectares (80 milhões de acres), a menor desde 2013 e 10% menor do que a do ano passado. A expectativa do mercado era de 34,14 milhões, e em março, no relatório Prospective Plantings, a estimativa foi de 34,25 milhões. O levantamento mostra uma redução de área em todos os 29 estados pesquisados.
Os números não foram bem recebidos e provocaram um rebuliço no mercado de grãos na Bolsa de Chicago. Ao longo do dia, as cotações do milho chegaram a bater em seu limite de baixa diante da surpresa do relatório. No encerramento dos negócios, as perdas ficaram entre 17,25 e 21 pontos nos principais contratos, como dezembro valendo US$ 4,31 por bushel.
Do mesmo modo, com a baixa considerável observada na área de soja, os futuros da oleaginosa terminaram o dia subindo entre 10,75 e 12 pontos nos seus principais contratos. O julho terminou o pregão valendo US$ 8,99 e o agosto, US$ 9,04 por bushel.
Plantio de milho maior que o esperado nos EUA gera dúvidas sobre exportação do Brasil
SÃO PAULO (Reuters) - Tudo indicava exportações recordes de milho do Brasil em 2019, com uma safra nos Estados Unidos possivelmente menor após problemas de plantio, mas números surpreendentes divulgados pelo governo norte-americano nesta sexta-feira colocam em dúvida os volumes previstos para os embarques brasileiros.
O relatório anual da área do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) mostrou que os agricultores plantaram 91,7 milhões de acres de milho, enquanto analistas esperavam 86,6 milhões de acres, versus previsão de 92,8 milhões de acres em março.
A surpresa, após um atraso histórico no plantio de milho diante de uma primavera chuvosa no Hemisfério Norte, fez os contratos futuros do grão na Bolsa de Chicago atingirem limite de baixa de 25 centavos de dólar por bushel durante o pregão.
O USDA voltará a pesquisar as áreas plantadas em 14 Estados e deve divulgar uma atualização do plantio total mais adiante, o que leva o Brasil, segundo exportador global do cereal, a acompanhar o desenvolvimento da safra norte-americana com atenção, segundo especialistas.
"Com uma safra normal nos EUA, não bateremos recorde de exportação", disse o analista da AgRural, Fernando Muraro, falando diretamente de Chicago.
Ele lembrou que, além de uma concorrência maior dos EUA, há ainda a Argentina, com uma grande safra do cereal.
Analistas, incluindo a AgRural, têm apostado em volumes recordes de exportação de milho pelo Brasil neste ano.
A consultoria Céleres elevou recentemente sua previsão de exportação para 34 milhões de toneladas, enquanto a Agroconsult apontou recentemente 38 milhões de toneladas de embarques.
"Se esse cenário dos EUA permanecer, a perspectiva é de que tenha disponibilidade bastante elevada, e pode acabar reduzindo espaço para o Brasil aumentar a exportação", acrescentou o analista sênior de Agronegócio do Itaú BBA, Guilherme Bellotti.
Por outro lado, ele disse que o avanço do milho para máximas de vários anos em Chicago anteriormente também poderia perder força, o que beneficiaria as indústrias de carnes brasileiras, compradoras do insumo.
"E não podemos esquecer que isso beneficiaria os produtores de etanol de milho do Brasil", disse ele, em referência a uma indústria que tem crescido no país.
VOLATILIDADE
Mas Bellotti destacou que os números estão sendo revisados, o que deixa um ponto de interrogação sobre como será a safra norte-americana, indicando um mercado nervoso em 2019.
"Toda essa volatilidade acaba testando muito a gestão de risco de uma trading. Se não travou o preço de venda, pode ser que tenha que negociar a um preço mais baixo", disse ele, ponderando que parte da produção que está sendo colhida no Brasil já foi comercializada, especialmente em Mato Grosso, e o produtor conseguiu "pegar preços bastante bons".
Muraro, da AgRural, concorda que o mercado verá um período de nervosismo até a definição de safra dos Estados Unidos.
6 comentários
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SERGIO BOFF São João - PR
Que coisa né, como deu abaixo o numero de acres plantados gerou duvidas e agora o USDA fará nova revisão , se tivesse dado conforme "eles" queriam, estava tudo certo. Esse é o mundo.
Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR
Nós, produtores de commodities agrícolas, ficamos indignados quando os prognósticos de projeções futuras não condizem com a realidade presente... Aí que surge o que não entendemos (ainda). O produto mais valorizado do mercado não são os bens físicos mas, outro "bem" diferente. E, qual seria esse "bem"?
O poder da narrativa! Veja que são inúmeras projeções que deixam àqueles que têm nas mãos, o "bem" físico, à mercê das ondas das notícias. Infelizmente "essa" é a única realidade!!!Ou seja, as raposas continuam almejando o queijo que esta' na boca do corvo... Nós precisamos ficar espertos..
O USDA omitiu os graves problemas que enfrenta a cultura do milho, provavelmente com uma área importante já abandonada... O fato é que os fundos de investimentos construíram uma imensa posição comprada (long) de contratos futuros da CBOT, o que se tornou uma ameaça para o suprimento interno.
Foi conveniente para os produtores americanos, -- muitos dos quais não irão produzir nenhum bushel por acre..., estavam com elevados compromissos de vendas de milho, a preços abaixo do mercado -- e para as industrias de etanol que não anteciparam o suprimento e estão com dificuldades na aquisição do produto.
Se o USDA confessasse neste relatório toda a verdade sobre as lavouras, poderia haver uma um crash no mercado de grãos, com uma incontrolável disparada dos preços agrícolas em geral.
É muito provável que isto poderá acontecer, mas o anncio precisa ser diluído no tempo, como provavelmente tenha sido a opção utilizada pelo USDA.
Neste último relatório, o objetivo do USDA foi aplacar o ímpeto dos fundos nas compras de contratos de milho e trigo, na Bolsa de Chicago.
O tratamento para a soja foi diferenciado porque os fundos de investimentos ainda continuam vendidos em seus contratos da Bolsa de Chicago.
Ademais o preço da soja esta díspar ou negativo em relação aos seus parceiros, milho e trigo.
A comunicação do USDA --- de que fará nova avaliação das áreas de plantio durante o mês de julho, para ser divulgada no relatório mensal de agosto (12) --, bem demonstra que precisava dar uma satisfação para o mercado sobre esse relatório, sonegando completamente as atuais condições das lavouras de milho, a pior condição entre todas as culturas.
José Jorge Ribeiro Neto Tatuí - SP
O produto sempre sai perdendo..., o mercado abaixa para nós vendermos e sobe para o mercado ganhar na costa do produtor...
Gleidson Santos
Não acredito nesta projeção de safra, acho que que vai se muito mais baixa -- estou nos Estados Unidos e aqui não pára de chover, o tempo está muito nublado ... o milho não gosta de tempo assim e, com muito chuva, as plantas não gostam de tanta água --- Preciosamente no início do plantio.. Água demais .
Paulo Roberto Nicola Santiago - RS
Novo relatório em 12/ago? Se vcs não se enganaram na data, esse detalhe nos deixa sem tempo hábil para um bom planejamento financeiro para a safra 219/20. Quem tem soja disponível estará complicado pois ficará nas mãos das empresas compradoras. Se fosse ao contrário, nós de briga com a China, altos estoques e essa confusão climática toda, a soja americana já estaria na casa dos 12,50 U$. Agora mais essa? ...
Tem algo de anormal, sei o que digo. Me apresento através dos dois livros que escrevi. "A Lógica da Economia Rural" e "Lucre Sempre com a Soja"... Trabalho na área financeira e administrativa. Caros colegas produtores, nosso soja já está valendo muito. MUITO. Tanto a soja disponível como a soja a ser colhida. Considerem isso. O resto é fumaça.WELLISTON FRANK TEIXEIRA DOUTOR CAMARGO - PR
O mercado de grãos virou pura especulação nesse momento. Uma tremenda falta de coerência no relatório apresentado!