Trigo: quais os impactos no mercado com os atrasos de plantio na França; confira análises da hEDGEpoint
Apesar de se tratar apenas do início da safra, o severo atraso do plantio e as piores condições de safra na França já pode ter impactos irreversíveis sobre o resultado do principal produtor da UE.
As fortes chuvas que caíram no país nas últimas semanas praticamente paralisaram a semeadura do trigo. A França registrou o maior nível de chuvas de todos os tempos em 26 dias consecutivos, com 215,4 mm entre 18 de outubro e 12 de novembro. Até a última semana, os produtores franceses plantaram apenas 74% da área esperada vs 98% no ano passado.
Dada a situação muito mais favorável observada nas safras do Mar Negro e nos EUA, esse cenário deve contribuir para a continuidade ao longo da safra 24/25 de duas tendências observadas nas últimas semanas: fracas exportações francesas e da UE por conta da baixa competitividade frente o trigo russo; e um fortalecimento do trigo Euronextfrente Chicago.
Com o período de dormência se aproximando para o trigo de inverno da safra 24/25 nos principais países produtores do Hemisfério Norte, os dados de plantio e condições nessas regiões vão ganhando cada vez mais relevância. Entre esses países, com certeza a situação mais preocupante até o momento se encontra na França, aponta relatório da hEDGEpoint Global Markets,.
“Os agricultores do principal país produtor da União Europeia (UE) têm enfrentado dificuldades para realizar o plantio da safra 24/25, o que pode trazer impactos importantes para os mercados de trigo nos próximos meses”, aponta Alef Dias, analista de Grãos e Oleaginosas da companhia.
Fortes chuvas levam a severo atraso do plantio
“As fortes chuvas que caíram na França nas últimas semanas praticamente paralisaram a semeadura do trigo. Os agricultores se beneficiaram de condições de semeadura muito favoráveis no início da temporada, mas a França registrou o maior nível de chuvas de todos os tempos em 26 dias consecutivos, com 215,4 mm entre 18 de outubro e 12 de novembro”, diz o analista.
De acordo com o Ministério de Agricultura Francês, os produtores franceses haviam semeado 74% da área de trigo mole esperada para a colheita do próximo ano até 20 de novembro, em comparação com 71% uma semana antes. Na mesma época, no ano passado, o plantio estava praticamente concluído em 98%.
“Além do atraso no plantio, as fortes chuvas também têm impactado as condições da safra. A quantidade de trigo mole em boas ou excelentes condições ficou em 83%, abaixo dos 86% da semana passada. No mesmo período nas últimas duas safras – 23/24 e 22/23 – 98% e 99% da safra se encontrava em condições boas e excelentes, respectivamente”, observa.
Situação deve levar a menor área e produtividade
De acordo com Alef, “a expectativa no início da safra já era de uma redução da área plantada na EU, devido principalmente ao cenário baixista dos preços, mas o atraso no plantio deve levar a uma redução ainda maior, dado que a janela de plantio “ideal” já está praticamente encerrada. Além da menor área plantada, a produtividade também deve ser afetada. O plantio durante o período ideal permite que o trigo forme um número suficiente, mas não excessivo, de perfilhos”, conclui.
A semeadura antecipada resulta em um número excessivo de perfilhos no outono, que podem competir entre si, ficar doentes e esgotar a umidade do solo, fazendo com que a produtividade dos grãos seja baixa. A semeadura tardia dá às plantas pouco tempo para desenvolver os perfilhos, resultando em um número inadequado de espigas para uma alta produtividade na primavera seguinte.
Conclusão
Apesar de se tratar apenas do início da safra, o severo atraso do plantio na França já pode ter impactos irreversíveis sobre o resultado do principal produtor da UE – cerca de 28% na média das últimas safras. Primeiras estimativas não-oficiais apontam para uma redução de até 8M mt da safra no bloco, dado que a Alemanha também tem enfrentado uma situação parecida.
Dada a situação muito mais favorável observada nas safras do Mar Negro (Ucrânia e Rússia) e nos EUA, esse cenário deve contribuir para a continuidade ao longo da safra 24/25 de duas tendências observadas no segundo semestre: fracas exportações francesas e da UE por conta da baixa competitividade frente o trigo russo; e um fortalecimento do trigo Euronext frente Chicago.
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