Trigo: Mercado brasileiro mantém preços historicamente altos e bons negócios apesar de correção nas bolsas internacionais
As baixas entre os futuros do trigo negociados na Bolsa de Chicago continuam no pregão desta sexta-feira (18). Perto de 11h40 (horário de Brasília), as cotações perdiam de 9,75 a 26 pontos, com as baixas mais agressivas sendo registradas pelos contratos mais próximos. Assim, o julho vinha sendo cotado a US$ 10,50 e o setembro a US$ 10,07 por bushel.
O mercado do cereal vem registrando dias de intensa volatilidade, com a guerra entrando em sua quarta semana. Os 23 dias do conflito mantém o abastecimento da região do Mar Negro interrompido pela ausência das ofertas da Rússia e da Ucrânia, maior e quarto maiores exportadores globais do grão. E as incertezas sobre a continuidade dessa guerra não se limita somente ao trigo e segue respigando em praticamente todas as commodities agrícolas, sem mencionar o petróleo.
O Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês) já reduziu sua projeção para as exportações ucranianas de grãos da temporada 2021/22, bem como alertou sobre a segurança alimentar do país em função do atual cenário. Assim, as exportações da Ucrânia passaram a 47,8 milhões de toneladas, contra a projeção anterior de 62,8 milhões.
As vendas externas de trigo foram revisadas de 24,5 para 20,8 milhões de toneladas, enquanto as de milho caíram de 31,9 para 21 milhões de toneladas.
"As ameaças imediatas estão concentradas, principalmente, na disrupção do fluxo de exportações. Os embarques nos portos do Mar Negro continuam suspensos na Ucrânia", trouxe a nota do IGC.
Além das exportações da Ucrânia, as da Rússia também foram corrigidas pelo Conselho, as quais passaram de 37,7 para 37,1 milhões de toneladas de grãos.
Ainda olhando para o Leste Europeu, a Reuters Internacional informou que os produtores ucranianos, onde é possível e seguro, deram início ao plantio de sua nova safra de grãos de primavera, segundo o vice-ministro da Agricultura do país, Taras Vysotskiy. No entanto, reforçou que projeções do tamanho da nova safra são, neste momento, impossíveis de serem feitas.
A consultoria agrícola APK-Inform, à Reuters, afirmou que a área destinada aos grãos de primavera na Ucrânia poderia apresentar uma dimunição de 39% para 4,7 milhões de hectares por conta do conflito.
E apesar de todos estes números, os futuros do grão na CBOT continuam recuando nesta sexta. Como explica a diretora da De Baco Corretora, Rita De Baco, o mercado segue se ajustando, corrigindo parte das altas das últimas semanas que foram bastante agressivas em movimentos de realização de lucros.
"O que passa é que os fundos não querem carregar as posições em aberto ou posições muito grandes, por muito tempo pelo risco de algum imprevisto que atenda o mercado", explica a executiva.
BOAS OPORTUNIDADES PARA O BRASIL
No Brasil, os preços seguem bastante elevados, ainda em patamares historicamente altos e com negócios que encontram espaço para se efetivarem. Afinal, ainda como explica Rita, "qualquer outra indústria pode se reorganizar nos grãos para acomodar seus custos, mas o mercado da moagem não existe outro produto a não ser o trigo".
A semana vai se concluindo para o mercado brasileiro de trigo com níveis de preços variando entre R$ 1900,00 e R$ 1950,00 por tonelada FOB, interior do Rio Grande do Sul. Esse valor liquidaria cerca de R$ 2000,00 posto porto de Rio Grande ou moinho, de acordo com o levantamento da Corretora. "Mas, na semana passada, tivemos preços de até R$ 2.150,00 a tonelada posto Rio Grande", afirma Rita.
Ainda segundo a diretora, "até a semana passada estávamos com as tradings comprando e indicando preços nunca vistos antes, onde o mercado interno precisou remodelar suas indicações, pois estavam perdendo o único produto que se tira a farinha de trigo".
Dessa forma, o quadro ainda é bastante favorável para o trigo brasileiro. Com as exportações fluindo melhor os preços se mostram também em melhores níveis, inclusive para o mercado interno. Mas o produtor deve estar atento aos bons momentos e às oportunidades que o atual momento tem oferecido.
"O produtor brasileiro é super bem informado, mas precisa estar atento aos bons momentos. Quando ouvir falar que as tradings estão comprando, não percam tempo, pois como se diz aqui no Sul, 'o cavalo não passa encilhado duas vezes na tua frente", orienta a diretora da De Baco Corretora.
Mais do que isso, lembra ainda que somente a partir de setembro é que o mercado terá uma nova safra brasileira de trigo. "Logo, quem inda tem trigo e não precisa vender, segure. Afinal, daqui para frente, entrando maio em diante, teremos preços ainda mais nunca vistos antes", completa.
Neste momento, além do Brasil - onde as exportações do cereal dispararam no início de março - os compradores têm se abastecido, principalmente, na Austrália e na Argentina. "A safra de inverno americana está praticamente comprometida no mercado. A China vem para o mercado para buscar 20 milhões de toneladas de milho e plantou 30% menos da área de inverno de trigo. E isso que nem fechamos o primeiro trimestre ainda", conclui a especialista.
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