Trigo: Bolsa de Chicago despenca 8% somente nesta 6ª feira, mas tendência altista permanece
Embora qualquer cenário de guerra seja devastador, sempre respeitando suas proporções, o mercado de commodities agrícolas nesta sexta-feira (25), segundo dia do conflito entre Rússia e Ucrânia, registrou perdas muito agressivas. Quem liderou as baixas entre os grãos foi o trigo, que somente neste pregão perdeu mais de 8% na Bolsa de Chicago, o que siginifica baixas de mais de 70 pontos entre os vencimentos mais negociados.
Assim, as cotações deixaram para trás o patamar dos US$ 9,00 por bushel, levando o maio a US$ 8,59 e o julho a US$ 8,51 por bushel, valores bem próximos das mínimas do dia. Na Euronext, em Paris, as cotações do trigo caíram forte.
Milho, soja e derivados de soja também despencaram nesta sexta na Bolsa de Chicago.
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O mercado promoveu uma correção agressiva depois das baixas da sessão anterior, quando trabalhou durante quase todo o período no limite de alta, precificando preocupações com o fornecimento de trigo de dois dos principais mercados globais do cereal. A Rússia é a maior exportadora mundial e a Rússia a quarta maior, juntos, o volume exportado da commodity tem um peso considerável no quadro geral.
Todavia, segundo explicam os especialistas, um pior cenário para o agronegócio e a cadeia de suprimentos pode ter sido evitado, mesmo com a guerra em andamento, já que a região do Mar Negro é a que mais exporta trigo no mundo. A capital da Ucrânia, Kiev, segue sob o ataque de tropas russas, enquanto os governos discutem a possibilidade de um encontro entre representantes das duas nações para a busca de uma solução.
"O ponto mais importante é que o pior cenário parece que será evitado: A destruição dos portos e ferrovias na Ucrânia e a exclusão total da Rússia do comércio com o Ocidente. As sanções sobre a Rússia foram muito mais brandas do que o previsto", explicou a equipe da Agrinvest Commodities. "Os investidores estão precificando uma solução rápida para a invasão da Rússia, a qual manteria a Ucrânia como um estado independente sob alguma condições estabelecidas pela Rússia", completa.
Ainda assim, o mercado ainda conta com uma série de incertezas e, como explicam especialistas, tende a continuar bastante volátil, uma vez que ao lado das questões geopolíticas atuais, os fundamentos desta commodity também são fortes e deverão voltar ao centro dos negócios e das atenções.
“Haverá um grande impacto em relação aos preços do trigo e do pão para as pessoas comuns, os consumidores finais”, disse o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, Ngozi Okonjo-Iweala, nestaa sexta-feira.
O analista de mercado Élcio Bento, da consultoria Safras & Mercado, explica que caso os problemas continuem se agravando e de fato haja uma disrupção no fornecimento de milho por Rússia e Ucrâia, os compradores terão de buscar outras alternativas, as quais deverão ser, principalmente, Estados Unidos e Canadá. "Por isso que as bolsas de Chicago e Kansas explodiram terça, quarta e quinta-feira".
Agora, o mercado passa por um expressivo movimento de realização de lucros depois de tantas altas. "O mercado é assim, estamos vivendo de especulação, o mercado está vivendo de incerteza, e depois de tanta elevação, o pessoal está realizando. E não necessariamente quer dizer que a tendência de alta já acabou. O que vai acontecer daqui pra frente vai depender das notícias que virem da região", explica Bento.
E essas notícias incluem informações sobre a duração do conflito, a força das sanções e como tudo isso irá impactar o comércio global como um todo. "E estamos falando de uma situação específica em que pode se travar a principal fonte de fornecimento de trigo do mundo", diz.
Desde quinta-feira (24), primeiro dia do conflito efetivo, os 18 portos da Ucrânia estão fechados. E de acordo com associações locais, as exportações de grãos da Rússia deverão ficar paradas, pelo menos, pelas próximas duas semanas, segundo a agência de notícias Bloomberg.
À agência, Eduard Zernin, chefe da União Russa de Exportadores de Grãos, afirmou que "é difícil planejar qualquer transação no momento. Acho que pode levar algumas semanas", disse.
Assim, os maiores compradores de trigo tem buscado também alternativas como Índia e União Europeia. Para o trigo soft, a Tunísia acionou mercados como Uruguai, Bulgária e Romênia. No Marrocos, os importadores foram buscar oferta na Argentina, França e Polônia.
Todas essas demais origens poderiam, porém, ser limitadas, uma vez que os estoques globais de trigo já vinham bem pressionados, apertados depois de quebras bastante expressivas nos principais países produtores na última temporada em função de adversidades climáticas.
"Isso realmente pressiona um mercado já apertado e cria uma enorme incerteza para as próximas semanas, se não meses. Para trigo e milho, isso empurra a demanda para outras partes do mundo onde sabemos que os estoques estão apertados", disse James Bolesworth, diretor administrativo da CRM AgriCommodities, com sede no Reino Unido, à Bloomberg.
IMPACTOS PARA O BRASIL
O analista da Safras explica também que o Brasil não importa trigo diretamente da Rússia, porém, tem se feito cada vez mais presente diante da força e da competitividade do mercado russo que vem crescendo no mercado internacional. No entanto, chega trigo russo ao Brasil por intermédio da Argentina.
"A partir do momento que há a ausência de um grande fornecedor e se começa a buscar outras alternativas, a Argentina é uma dessas alternativas. Ontem já vimos os preços da Argentina subindo, não na mesma intensidade do que nos EUA, mas a tendência é essa. A demanda vai se deslocando, o mercado vai se ajustando e a Argentina não vai ficar fora dessa realidade, já que é uma tomadora de preço no mercado global, e forma preços no Brasil", afirma Élcio Bento.
Outro ponto de atenção para o mercado brasileiro é o movimento do dólar. Se tornou mais caro importar a partir das altas nos mercados internacionais - apesar das baixas desta sexta - além do dólar, que voltou a se valorizar nos últimos dois dias dada a aversão ao risco instalada no mercado global dado o atual momento.
"Temos uma situação de elevação do custo de importação porque sobe o trigo nos principais fornecedores, inclusive no nosso maior fornecedor, a Argentina. E isso faz com que a paridade de importação determine o preço internamente. Estava em baixa, começou a subir e já justificaria uma elevação das cotações do trigo no Brasil. Mas o mercado está muito travado. Os produtores venderam bem e agora estão esperando a safra de verão. Não tem comercialização de trigo, os moinhos já compraram muito e fica de olho nessa incerteza toda, e não está se posicionando", conclui o especialista.
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