Clima e terra fértil ajudam Tibagi/PR a se consolidar como capital nacional do trigo
A combinação de clima, altitude, fertilidade e sanidade faz do trigo produzido em Tibagi, nos Campos Gerais, referência para o País. Quem diz isso tem conhecimento no assunto, é considerado por muitos uma espécie de catedrático da região. Guilherme Frederico de Geus Filho mal nasceu e já começou a percorrer os campos de trigo da propriedade.
Conta, com orgulho, que ainda menino de tudo já acompanhava o pai na lavoura. E se divertia entre os ramos dourados. Criou tanto amor pelo cereal que fez disso a sua profissão. Engenheiro agrônomo desde 2010, ele toca o dia a dia da fazenda, sempre sob a supervisão e os olhos atentos do patriarca.
A cada inverno, reserva um espaço entre 600 e 800 hectares para a cultura, o que rende uma colheita de até 3.600 toneladas, integralmente comercializada com a cooperativa Frísia. “É o que temos de mais forte na época de frio. E Tibagi é ainda mais privilegiada, com uma combinação perfeita de fatores que favorecem o trigo plantado aqui”, afirma ele, destacando que os diferentes negócios do grupo empregam 20 pessoas na região.
“Da cooperativa o nosso trigo ganha o Brasil e o mundo”, ressalta.
Os números corroboram a explicação do agricultor. Ninguém produz mais trigo no Paraná e no Brasil do que Tibagi, cidade com população estimada em 20,6 mil habitantes pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), o município colheu 111 mil toneladas em 2020, em uma área total de 30 mil hectares. Ou pouco mais de 15% de toda a produção paranaense de trigo.
“Tudo começou com meu avô, um holandês que veio para o Brasil e se estabeleceu em Tibagi. Hoje eu toco uma plantação de 160 hectares, que rende cerca de 400 toneladas de trigo por ano”, conta o agricultor Fredy Nicolaas Biersteker.
Impulsionado pelo trigo, Tibagi passou a figurar no seleto grupo dos bilionários no somatório das riquezas produzidas pelo campo – conjunto formado por aqueles municípios que alcançaram valores superiores a R$ 1 bilhão no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VPB). A cidade alcançou R$ 1,26 bilhão.
Toledo (R$ 3,48 bilhões), Cascavel (R$ 2,27 bilhões), Castro (R$ 2,26 bilhões), Guarapuava (R$ 1,60 bilhão), Marechal Cândido Rondon (R$ 1,47 bilhão), Santa Helena (R$ 1,35 bilhão), Assis Chateaubriand (R$ 1,34 bilhão), Dois Vizinhos (R$ 1,34 bilhão) e Palotina (R$ 1,32 bilhão), Carambeí (R$ 1,17 bilhão), São Miguel do Iguaçu (R$ 1,16 bilhão), Nova Aurora (R$ 1,08 bilhão) e Piraí do Sul (R$ 1,02 bilhão) completam o ranking.
DESEMPENHO ESTADUAL – O trabalho da turma de Tibagi isola o Paraná como maior produtor de trigo do País. Foram 3,2 milhões de toneladas no ano passado, pouco mais da metade de tudo o que foi colhido no País – 6,2 milhões de toneladas. Com isso, dentre o faturamento das principais culturas locais, o trigo foi o que teve o maior incremento no Valor Bruto da Produção (VPB), passando de R$ 1,92 bilhão para R$ 3,59 bilhões de 2019 para 2020. O crescimento real de 87% foi impulsionado pela produção 39% superior aliada aos preços valorizados, cuja média da saca passou de R$ 46,93 para R$ 67,99.
“Por causa do dólar alto, o mercado está mesmo muito bom. Não podemos reclamar”, afirma Biersteker.
Rendimento que segue alto. A projeção da Seab aponta para 3,7 milhões de toneladas, meio milhão a mais ao que foi colhido em 2020. “Em que pese a pandemia e as condições climáticas não tão favoráveis, a produção agropecuária paranaense foi bastante razoável e os preços acompanharam boa parte da evolução das principais commodities do mundo, o que trouxe renda para os agricultores e esse crescimento expressivo”, destaca o secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara.
“O Paraná tem ciência, conhecimento e materiais que nos permitem apoiar as culturas de inverno, reduzir nossa dependência de importação, reduzir os custos e aumentar a renda”, acrescenta.
0 comentário
Restrições tácitas à exportação de grãos pela Rússia causam confusão no mercado
Preços de exportação de trigo russo param de subir com melhora do clima
A qualidade do trigo de inverno dos EUA está entre as piores de todos os tempos, deixando analistas perplexos
Egito espera atraso no embarque de trigo russo em novembro, diz ministro do abastecimento
Trigo/Cepea: Clima prejudica lavouras no Sul; preços sobem com força em SP
Trigo cai em Chicago com previsão de tempo chuvoso nas planícies dos EUA