Estados produtores de cana se alteram em ritmo de crescimento
Publicado em 12/04/2010 13:26
Apesar da boa logística e da proximidade dos grandes centros consumidores, o Paraná tem enfrentado problemas para acompanhar o ritmo de crescimento da produção sucroalcooleira de outros polos do país. Nas últimas quatro safras - já incluindo a temporada que se inicia (2010/11) -, apenas três usinas novas começaram a moer cana no Estado, de um universo de 84 projetos que entraram em operação no Centro-Sul no mesmo período.
Além de menor disponibilidade de terra, parte dessa aparente desvantagem paranaense é explicada pelo elevado volume de chuvas que limita a quantidade de açúcar na cana, deixando-a menos "doce" do que a de outros "concorrentes" na região.
Na temporada recém-encerrado (2009/10), o Paraná perdeu a posição de segundo maior processador de cana do Centro-Sul para Minas Gerais. As dez usinas que entraram em operação nas últimas duas temporadas em território mineiro elevaram a moagem no Estado de 42,4 milhões de toneladas, em 2008/09, para quase 51 milhões em 2009/10. Nessa comparação, a moagem paranaense, que não contou com o reforço de nenhuma usina nova, cresceu timidamente, de 44,8 milhões para 45,5 milhões de toneladas.
Em 2010/11, o Paraná deverá moer 50,8 milhões de toneladas, novamente abaixo do volume estimado para Minas Gerais. E na safra 2011/12, que começará em abril do ano que vem, a expectativa é que os paranaenses sejam superados também por Goiás, que na temporada atual já deverá encostar no Estado do Sul, com o processamento previsto em 48 milhões de toneladas - 8 milhões a mais do que no ciclo passado. O avanço goiano reflete, em grande medida, a entrada em operação de 14 novas usinas novas nas últimas duas safras, além de outras duas que deverão estrear neste ano.
O zoneamento agrícola do Ministério da Agricultura estima que a área com vocação para a cultura da cana no Paraná é três vezes maior do que a atualmente cultivada. No entanto, ter vocação não significa necessariamente ter as melhores condições e, historicamente, as análises da quantidade de açúcar na cana do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) indicam que a do Paraná de fato não é a mais "doce" do Centro-Sul. A cana paranaense rende, na média histórica, 13 toneladas de açúcar por hectare, ante entre 15 e 16 em Goiás e 15 em Minas Gerais.
É verdade que o Paraná costuma apresenta uma produtividade da cana em si superior a dos outros dois Estados, como explica o coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do CTC, Jorge Luís Donzelli; mas, como essa cana tem menos açúcar, a indústria precisa transportar e moer mais cana para obter a mesma quantidade de açúcar de uma usina em Goiás, por exemplo. Os níveis de açúcar extraídos da cana goiana são comparáveis aos da região de Ribeirão Preto (SP), uma das mais eficiente de São Paulo.
No ciclo 2010/11, Goiás deverá responder por um terço de todo o crescimento previsto para o Centro-Sul, segundo André Luiz Rocha, presidente do Sindicato da Indústria de Açúcar e Álcool do Estado. "E o perfil da produção é de álcool e energia. Das 33 unidades que moeram na safra passada, 21 fizeram só álcool", informa Rocha. O movimento reforça uma evidente tendência de expansão sucroalcooleira para regiões mais quentes, que também aceleram as pesquisas, inclusive do próprio CTC, de novas variedades adaptadas a essas condições. Conforme Donzelli, o centro deverá lançar três novas variedades mais resistentes a períodos mais longos de seca.
As condições climáticas fazem grande diferença. As variedades utilizadas no Paraná, por exemplo, têm resistência mais baixa para a escassez de água, pois o déficit hídrico local em condições extremas é de, no máximo, 10 milímetros por ano. No norte goiano, esses níveis podem chegar a 150 milímetros, explica Donzelli. "Nessas regiões, há necessidade até de irrigação de salvamento do canavial".
Por outro lado, as condições mais frias e chuvosas do Paraná reduzem o "desfrute" da safra, segundo Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). "O aproveitamento dos dias de moagem durante a safra, que fica historicamente em torno de 88% em São Paulo, é de cerca de 70% no Paraná", compara. Pádua acrescenta que as chuvas mais intensas também dificultam o avanço da mecanização dos canaviais, já que os solos mais úmidos atrapalham o trabalho das máquinas.
Em contrapartida, o Paraná tem uma das melhores logísticas de escoamento do Centro-Sul. Praticamente 100% do açúcar produzido segue por ferrovia. O Estado ainda "ajuda" a transportar, por ferrovias, produtos de Mato Grosso do Sul e do sul de São Paulo. É bom lembrar que a logística chega a representar 20% do preço do produto final.
Os grupos já consolidados no Paraná, como o Santa Terezinha, normalmente estão nas melhores terras e aproveitam a logística ao máximo para garantir competitividade ao negócio. "As usinas de cooperativas que vêm sendo alvo de aquisição no Paraná também estão em terras privilegiadas. Há outros grupos locais que também expandiram em boas áreas", diz Pádua. Nos últimos meses, o Paraná foi alvo de alguns negócios, inclusive com multinacionais, como a compra das duas usinas paranaenses do Vale do Ivaí pela companhia indiana Shree Renuka. Mais recentemente também foi anunciada a aquisição da usina Cofercatu pelo grupo Alto Alegre, este de capital nacional.
Além de menor disponibilidade de terra, parte dessa aparente desvantagem paranaense é explicada pelo elevado volume de chuvas que limita a quantidade de açúcar na cana, deixando-a menos "doce" do que a de outros "concorrentes" na região.
Na temporada recém-encerrado (2009/10), o Paraná perdeu a posição de segundo maior processador de cana do Centro-Sul para Minas Gerais. As dez usinas que entraram em operação nas últimas duas temporadas em território mineiro elevaram a moagem no Estado de 42,4 milhões de toneladas, em 2008/09, para quase 51 milhões em 2009/10. Nessa comparação, a moagem paranaense, que não contou com o reforço de nenhuma usina nova, cresceu timidamente, de 44,8 milhões para 45,5 milhões de toneladas.
Em 2010/11, o Paraná deverá moer 50,8 milhões de toneladas, novamente abaixo do volume estimado para Minas Gerais. E na safra 2011/12, que começará em abril do ano que vem, a expectativa é que os paranaenses sejam superados também por Goiás, que na temporada atual já deverá encostar no Estado do Sul, com o processamento previsto em 48 milhões de toneladas - 8 milhões a mais do que no ciclo passado. O avanço goiano reflete, em grande medida, a entrada em operação de 14 novas usinas novas nas últimas duas safras, além de outras duas que deverão estrear neste ano.
O zoneamento agrícola do Ministério da Agricultura estima que a área com vocação para a cultura da cana no Paraná é três vezes maior do que a atualmente cultivada. No entanto, ter vocação não significa necessariamente ter as melhores condições e, historicamente, as análises da quantidade de açúcar na cana do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) indicam que a do Paraná de fato não é a mais "doce" do Centro-Sul. A cana paranaense rende, na média histórica, 13 toneladas de açúcar por hectare, ante entre 15 e 16 em Goiás e 15 em Minas Gerais.
É verdade que o Paraná costuma apresenta uma produtividade da cana em si superior a dos outros dois Estados, como explica o coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do CTC, Jorge Luís Donzelli; mas, como essa cana tem menos açúcar, a indústria precisa transportar e moer mais cana para obter a mesma quantidade de açúcar de uma usina em Goiás, por exemplo. Os níveis de açúcar extraídos da cana goiana são comparáveis aos da região de Ribeirão Preto (SP), uma das mais eficiente de São Paulo.
No ciclo 2010/11, Goiás deverá responder por um terço de todo o crescimento previsto para o Centro-Sul, segundo André Luiz Rocha, presidente do Sindicato da Indústria de Açúcar e Álcool do Estado. "E o perfil da produção é de álcool e energia. Das 33 unidades que moeram na safra passada, 21 fizeram só álcool", informa Rocha. O movimento reforça uma evidente tendência de expansão sucroalcooleira para regiões mais quentes, que também aceleram as pesquisas, inclusive do próprio CTC, de novas variedades adaptadas a essas condições. Conforme Donzelli, o centro deverá lançar três novas variedades mais resistentes a períodos mais longos de seca.
As condições climáticas fazem grande diferença. As variedades utilizadas no Paraná, por exemplo, têm resistência mais baixa para a escassez de água, pois o déficit hídrico local em condições extremas é de, no máximo, 10 milímetros por ano. No norte goiano, esses níveis podem chegar a 150 milímetros, explica Donzelli. "Nessas regiões, há necessidade até de irrigação de salvamento do canavial".
Por outro lado, as condições mais frias e chuvosas do Paraná reduzem o "desfrute" da safra, segundo Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). "O aproveitamento dos dias de moagem durante a safra, que fica historicamente em torno de 88% em São Paulo, é de cerca de 70% no Paraná", compara. Pádua acrescenta que as chuvas mais intensas também dificultam o avanço da mecanização dos canaviais, já que os solos mais úmidos atrapalham o trabalho das máquinas.
Em contrapartida, o Paraná tem uma das melhores logísticas de escoamento do Centro-Sul. Praticamente 100% do açúcar produzido segue por ferrovia. O Estado ainda "ajuda" a transportar, por ferrovias, produtos de Mato Grosso do Sul e do sul de São Paulo. É bom lembrar que a logística chega a representar 20% do preço do produto final.
Os grupos já consolidados no Paraná, como o Santa Terezinha, normalmente estão nas melhores terras e aproveitam a logística ao máximo para garantir competitividade ao negócio. "As usinas de cooperativas que vêm sendo alvo de aquisição no Paraná também estão em terras privilegiadas. Há outros grupos locais que também expandiram em boas áreas", diz Pádua. Nos últimos meses, o Paraná foi alvo de alguns negócios, inclusive com multinacionais, como a compra das duas usinas paranaenses do Vale do Ivaí pela companhia indiana Shree Renuka. Mais recentemente também foi anunciada a aquisição da usina Cofercatu pelo grupo Alto Alegre, este de capital nacional.
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Fonte:
Valor Econômico
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