UE prevê corte acentuado nas importações de açúcar ucraniano após queda de preços, dizem fontes

PARIS, 20 de março (Reuters) - A Comissão Europeia está buscando reduzir drasticamente as importações de açúcar da Ucrânia depois que produtores da UE reclamaram que grandes remessas provocaram um colapso nos preços do açúcar, disseram três fontes à Reuters.

As importações de açúcar da Ucrânia são parte de um dilema maior que a UE enfrentou nos últimos três anos.

Bruxelas inicialmente forneceu livre acesso aos seus mercados agrícolas como parte de seu apoio após a invasão da Rússia, mas protestos de agricultores da UE levaram o país a reduzir o apoio.

Os agricultores da UE argumentam que as importações da Ucrânia prejudicaram a oferta local, reduzindo os preços e dificultando a obtenção de vendas.

As fontes disseram que a intenção de reduzir as importações de açúcar foi levantada pelo comissário de agricultura da UE, Christophe Hansen, quando ele se encontrou com os líderes dos sindicatos agrícolas franceses e representantes da indústria na feira agrícola de Paris, no final de fevereiro.

Hansen não disse precisamente quanto as importações poderiam ser cortadas, mas disse que elas ficariam "bem abaixo" dos níveis atuais, disseram as fontes que estavam presentes na reunião.

Ele também disse que abordaria outras importações da Ucrânia, como grãos, sem dar detalhes, disseram duas fontes.

Solicitada a comentar, a Comissão disse estar ciente das preocupações dos agricultores e estados-membros da UE em relação a certas importações agrícolas. Ela se recusou a fazer mais comentários.

O governo da Ucrânia não quis comentar.

NEGÓCIO JUSTO

O vice-ministro da Economia ucraniano, Taras Kachka, expressou esperanças de um acordo agrícola justo entre a UE e a Ucrânia durante uma conferência online na semana passada.

"A UE entende que não podemos bater a cabeça na parede e retornar aos termos de comércio que tínhamos há 10 anos", disse ele.

"Hoje ainda temos tempo para encontrar uma solução construtiva, ainda temos algumas semanas - estamos esperando. A Ucrânia é o mais flexível possível e está pronta para garantir transparência no comércio. Isso é mais uma questão de política do que de comércio", ele acrescentou.

A UE removeu impostos sobre produtos agrícolas ucranianos após a invasão da Rússia em 2022.

A medida levou a um aumento acentuado nas importações de açúcar ucraniano mais barato, que atingiram 400.000 toneladas na temporada 2022/23 e mais de 500.000 toneladas em 2023/24, excedendo em muito a cota pré-guerra de 20.000 toneladas.

Preços do açúcar europeu, abre uma nova abacaiu mais de 30% no ano passado, mostraram os últimos dados da UE. No entanto, os futuros do açúcar branco se recuperaram nos últimos dois meses, apoiados pela perspectiva decrescente nos principais produtores, incluindo a Índia.

As reclamações dos agricultores europeus contra a concorrência desleal levaram a UE a reintroduzir, em julho do ano passado, uma cota de importação de 262.650 toneladas.

A UE suspendeu as importações de açúcar da Ucrânia depois que a primeira parte da cota foi esgotada, forçando a Ucrânia a redirecionar as remessas de açúcar para outros países, com a Turquia se tornando o principal destino, de acordo com o sindicato açucareiro ucraniano Ukrtsukor.

A segunda parte da cota, para 109.440 toneladas de açúcar ucraniano, foi aberta em janeiro, mas a Ucrânia exportou pouco até agora.

A produção de açúcar da UE variou de 14,5 a 17,6 milhões de toneladas por ano desde 2018, dependendo da safra de beterraba, mostraram dados da UE. O consumo está estável em torno de 14 milhões de toneladas, enquanto as importações constituem 2 milhões a 3 milhões de toneladas.

Reportagem de Sybille de La Hamaide em Paris, Pavel Polityuk em Kiev e Phil Blenkinsop em Bruxelas; Edição de Nigel Hunt e David Evans