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Mesmo com custos mais elevados, condição climática positiva traz otimismo para safra 2025/26 de cana-de-açúcar do Brasil

Publicado em 09/01/2025 06:00 e atualizado em 09/01/2025 16:51
Canaviais ainda devem sentir impacto das queimadas, mas cenário é melhor do que era esperado

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Após um 2024 marcado pelo tempo seco, que teve o ápice durante os episódios de incêndio sobre os canaviais do estado de São Paulo entre os meses de agosto e setembro, as chuvas no final do último ano trouxeram um otimismo para o desenvolvimento da safra 2025/26 de cana-de-açúcar.

“Estamos mais otimistas para esta safra em comparação com a anterior, impulsionados pelas condições climáticas mais favoráveis que temos observado recentemente. As chuvas regulares e as temperaturas elevadas proporcionaram um bom desenvolvimento vegetativo para a cana-de-açúcar”, é o que afirma Arnaldo Bortoletto, vice-presidente da Coplacana (Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo).

Segundo o que ele relatou ao Notícias Agrícolas, houve uma recuperação significativa dos canaviais impactados pela seca.  Entretanto, uma avaliação mais precisa da produtividade está planejada para acontecer entre o final de fevereiro e março. Como explica Bortoletto, nesse momento será possível obter um diagnóstico completo da safra, pois a produtividade final ainda vai depender da continuidade das condições climáticas positivas durante próximos meses.

Como explica o vice-presidente da Coplacana, o clima continua como o principal fator para o sucesso da safra e as perspectivas atuais são favoráveis, com  a combinação de chuva e calor, evitando períodos prolongados de tempo encoberto, que podem prejudicar o desenvolvimento da cana.

“Acreditamos que a continuidade desse padrão climático, com sol e umidade adequados, será fundamental para um bom crescimento da cana. Além disso, monitoramos atentamente o processo de maturação. Caso tenhamos uma safra com maior volume, poderemos antecipar o uso de maturadores para garantir que a colheita comece com a cana no ponto ideal de maturação, evitando atrasos”, acrescenta Bortoletto.

José Guilherme Nogueira, CEO da Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil), também destaca as condições climáticas positivas, sobretudo na reta final de 2024, o que trouxe um alívio para a safra 2024/25.

“Tivemos uma surpresa positiva no final do ano, com um volume da safra 24/25 um pouco maior das nossas projeções justificadas pela colheita até dezembro em algumas unidades, devendo chegar em março de 2025 com mais de 610 milhões de toneladas no centro sul”, afirmou.

Contudo, ele ressalta que há ainda todo ano pela frente e será  preciso analisar os possíveis efeitos climáticos que interferem na cana, como chuvas e sua periodicidade, se haverá ou não uma seca prolongada, se será um ano que favorecerá o florescimento, possíveis efeitos de geadas e os incêndios que ocorrem durante o inverno.

Há também, como frisa o CEO, fatores que não dependem somente do clima, mas também do manejo, além de outros que não estão na mão do produtor. “Tudo isso impacta na oferta e na produtividade. Um outro ponto é a área de cana a ser colhida no próximo ano, que deverá ser próxima a do ano passado, porém com uma taxa de renovação dos canaviais dependendo da qualidade da muda a ser plantada e os preços da cana para 2025”, acrescenta Nogueira.

ANALISTA AFIRMA QUE CENÁRIO NÃO SERÁ CATASTRÓFICO COMO ERA ESPERADO

Marcelo Filho, analista em inteligência de mercado da Stonex, afirmou em entrevista na última terça-feira (07) que a perspectiva da próxima safra no primeiro número divulgado em setembro era de uma moagem de 593 milhões de toneladas, o que seria uma queda em relação à safra atual 2024/25, mas seria ainda um volume alto para 2025/26, considerando a seca que a gente teve no ano passado e as queimadas. “Seria um número que que talvez estávamos ali num grupo mais otimista, o setor ele trabalhava mais na casa dos 580 milhões de toneladas”.

Porém, agora, apesar de não ser algo oficial, ele aponta a possibilidade de ser uma safra um pouco até maior que que esse número. “A  gente vai divulgar nossa estimativa em janeiro, a gente tá entrando em contato aos poucos com os nossos clientes, olhando os dados, e é uma certa análise que tem sido recorrente dentro das casas que a safra pode pode ser um pouco melhor do que se espera, porque a gente teve muito boas em novembro e dezembro, afirma o analista.

“Não somente as chuvas foram boas, mas a gente tem observado por exemplo uma condição climática geral muito boa. Chove bastante, aí tem três dias ensolarados, volta a chover alguns dias e para, chuvas que estão sendo acompanhadas de uma insolação muito boa, o que é muito importante também para essas fases de crescimento da cana, seja a cana que ainda está brotando ou seja cana que tá ali no começo da fase de crescimento”, acrescenta.

Dessa maneira, Filho diz que atualmente tem se visto um cenário climático quase que o contrário do que foi ano passado. Como ele aponta, na entressafra passada houve uma das piores chuvas em 15 anos no setor. “A gente deve ter uma moagem menor, pois deve ter uma área disponível menor justamente por conta das queimadas e um canavial menos jovem, mas talvez não seja tão catastrófico quanto se esperava, e esse fator assim tem trazido esse teor mais baixista com os preços internacionais”, finaliza.

SAFRA 2025/26 DEVE TER CUSTOS MAIORES NA COMPARAÇÃO COM A ANTERIOR

Em relação aos custos de produção, José Guilherme Nogueira aponta três fatores principais que devem aumentar os valores na safra 2025/26. O primeiro é o dólar. Conforme ele explica, com a moeda norte-americana mais valorizada em relação ao real, insumos cotados em dólar aumentam e impactam diretamente o custo de produção (adubos e defensivos).

Arnaldo Antonio Bortoletto também cita o dólar valorizado como fator importante de pressão sobre os custos, principalmente em relação aos defensivos e fertilizantes. “Como mais de 70% dos fertilizantes e praticamente 100% dos defensivos são importados, a variação cambial impacta diretamente os preços desses insumos. A competição entre diferentes produtos pode, de certa forma, amenizar esse impacto, mas caso o dólar se mantenha em patamares elevados, é inevitável um aumento nos custos. Consequentemente, isso deve refletir em outros custos operacionais, como salários e diesel, tornando a safra mais cara em comparação com a anterior”, explica.

O custo financeiro é também outro fator citado por Nogueira, o qual destaca também a taxa de juros “ Esse custo tem um impacto grande na canavicultura, uma vez que é intensiva em capital e uma taxa de juros alta impacta no custo para pagar os juros dessas operações”.

O terceiro e último fator destacado por Nogueira é em relação ao manejo. “Com impacto da seca prolongada e em alguns casos com os incêndios, o uso de herbicidas, e controle de plantas daninhas deve aumentar esse ano. Além disso, outras pragas e doenças que não estavam afetando a cana, tem tornado um ponto de preocupação como a síndrome da murcha”, alerta.

“Não devemos ter isso prejudicado, mas o produtor tem comprado os insumos bem próximos a sua utilização, sem fazer estoques e usando muito o aparato logístico de cooperativas que facilitam essa venda e distribuição a eles”, completa o CEO da Orplana.

CEPEA DESTACA O CONSUMO COMO SUPORTE DOS PREÇOS EM 2025

De acordo com perspectiva do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o açúcar “mantém-se como um pilar no cenário global em meio a adversidades climáticas e desafios de produção”. Segundo análise,  Apesar dos severos desafios climáticos enfrentados, especialmente no estado de São Paulo, o encerramento da safra surpreendeu com resultados superiores ao que os produtores haviam inicialmente antecipado.

Com isso, segundo o Cepea, a posição de liderança do País no comércio internacional de açúcar será consolidada em 2025, ano em que se espera preços sustentados em um bom patamar tanto no mercado interno como externo.

“As perspectivas para o mercado de açúcar na região Centro-Sul do Brasil para 2025 são desafiadoras, mas promissoras. Com uma demanda global robusta e a necessidade contínua de adaptação às condições climáticas e de mercado, o Brasil segue consolidado como um líder incontestável na produção e exportação de açúcar”, indica o Cepea.

No mercado internacional, embora os preços tenha desacelerado o consumo em regiões como a América do Norte e Ásia, espera-se uma normalização e retomada. Mesmo com um aumento de produção previsto para Índia, Tailândia e União Europeia, a demanda de mercados emergentes como  Paquistão e Indonésia, somada a baixa reposição dos estoques mundiais nos últimos dois anos, podem sustentar os preços em patamares acima de 18 cents/lb nos futuros da Bolsa de Nova York.

“Historicamente, a queda na relação estoque/consumo tem sido um dos principais fatores de preços em alta, o que deve beneficiar as exportações brasileiras, somando-se a isso a expectativa de que o patamar do câmbio também pode continuar elevado”, aponta a análise.

Além disso, o órgão cita também que as tensões comerciais entre potências globais, como Estados Unidos e China, podem abrir novas oportunidades para o Brasil, tanto no mercado de açúcar quanto para o etanol.

EXPECTATIVA DE PREÇOS NO MERCADO INTERNO

Para o mercado interno, conforme indica o Cepea, os preços podem seguir em patamares favoráveis, particularmente pela possível arbitragem entre os mercados doméstico e externo. Estima-se que uma porção expressiva das exportações já foi fixada em patamares de preços elevados ao longo dos últimos meses. Além disso, considera-se que a economia deve continuar crescendo, ainda que a passos curtos, devido à instabilidade macroeconômica, o que deve ser suficiente para absorver a oferta direcionada para o mercado interno sem deixar sobras.

Porém, os preços não devem ficar nos níveis observados nos últimos meses de 2024, quando os valores no spot estiveram acima de R$ 160,00/saca de 50 kg. “Esses patamares foram alavancados pelos ‘sustos’ com a cana no campo, particularmente no estado de São Paulo, criando expectativas de quebra de safra”, frisa o Cepea em análise.

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Por:
Igor Batista
Fonte:
Notícias Agrícolas

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