Canoeste: Setor ainda levanta perdas nos canaviais e avalia fundo de apoio de R$ 110 mi do governo de SP

Publicado em 29/08/2024 16:00 e atualizado em 29/08/2024 16:34
Orplana estima até o momento um prejuízo de R$ 500 milhões ao setor; estado segue em alerta para risco de novas queimadas

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O momento para os produtores de cana-de-açúcar no estado de São Paulo ainda é de calcular a dimensão do prejuízo por conta dos incêndios. O tamanho das perdas varia de propriedade para propriedade e, em alguns casos, pode chegar a 100% de tudo que foi investido. Para ajudar na recuperação, os agricultores contarão com um pacote de R$ 110 milhões anunciado pelo Governo Federal. Entretanto, segundo Almir Torcato, gestor executivo da Canaoeste, apesar do valor sem muito bem-vindo e necessário, o total que será necessário ainda está sendo contabilizado.

“Neste momento ainda estamos quantificando as perdas, pois elas variam de propriedade para propriedade. Há casos em que o incêndio atingiu o sistema radicular da planta, se fazendo necessário reformar o canavial inteiro. Temos também a questão do trato cultural, muitas áreas queimadas onde a cana já havia sido colhida, já tinham recebido um processo de adubo líquido e demais tratos. E nesses casos os prejuízos com esses tratos são de 100% do que foi investido. Então nossa equipe de técnicos está percorrendo as áreas, para que possamos ter uma dimensão mais exata das perdas, que certamente serão significativas, não só para esta safra, mas também comprometendo a safra 2025/26”, afirmou Torcato.

O gestor executivo cita tamém que a cana queimada, por exemplo, precisa ser colhida de imediato e isso envolve toda uma questão logística que precisa ser levada em conta. Por motivos como esse, segundo ele, agora o importante é verificar os danos para saber qual a real situação e do que vai precisar ser feito e, em seguida, buscar as melhores saídas. “A partir do momento que as perdas já tiverem sido quantificadas, aí cabe buscar qual a melhor saída para cada tipo de situação, pois embora existam alguns procedimentos padrões é preciso saber qual vai se adequar a realidade de cada propriedade e da forma como ela foi afetada”, destacou.

Recurso liberado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo disponibilizou R$ 110 milhões para os produtores rurais paulistas afetados pelos incêndios nos últimos dias. Desse total, R$ 100 milhões são para o seguro rural para a mitigação dos efeitos econômicos e financeiros do extremo climático, e R$ 10 milhões para suporte aos agricultores por meio de custeio emergencial para despesas de manutenção e recuperação da produção. Os dois recursos são via Feap (Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista). 

Para ter acesso ao crédito, o produtor deve buscar a Casa da Agricultura de seu município. O montante será disponibilizado por meio de 15 seguradores credenciadas, com limite de R$ 25 mil por agropecuarista e qualquer um afetado poderá ter acesso ao crédito. Segundo a Secretaria, a subvenção tem como objetivo amenizar os impactos das perdas de produção, causadas pela seca e outras intempéries, além de disponibilizar recursos para custeios emergenciais.

De acordo com a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), o prejuízo aos produtores por conta dos incêndios está calculado em cerca R$ 500 milhões. Entre a sexta-feira (24) e o sábado (24) foram identificados 2,1 mil focos de incêndio, conforme apontou a Orplana. 

Os focos de incêndio com maiores proporção tiveram início na quinta-feira (23), quando uma onda de calor ainda atuava sobre grande parte do país, incluindo as regiões central e oeste de São Paulo, que concentram grande parte das lavouras de cana-de-açúcar. 

Na quinta-feira, motoristas com a visão da pista prejudicada por conta de muita fumaça registraram chamas na Rodovia Armando de Sales Oliveira, em São Paulo, na altura do km 354 sentido oeste e km 360 sentido oeste.

Segundo a Orplana, cerca de 80 mil hectares em áreas de cana-de-açúcar e de rebrota de cana foram queimados, o que representa 2% da área total no estado de São Paulo, estimada em 4,3 milhões de hectares pela Conab. 

Ainda de acordo com a organização, a  produtividade esperada nas áreas atingidas pelo fogo prontas para colher, que ainda podem ser colhidas, deve cair pela metade do previsto anteriormente. Em relação às áreas de rebrota, a depender da intensidade do prejuízo, o produtor terá que realizar um novo plantio. 

Manejos para recuperação do canavial após os incêndios 

O engenheiro agrônomo Segio Quassi, pesquisador da AgroQuatro-S Experimentação Agronômica Aplicada, afirmou que para a recuperação dos canaviais, agora, é preciso ter calma e primeiramente avaliar como será a rebrota. Como ele explicou, há variedades que rebrotam, outras que não rebrotam e ainda outras que rebrotam com falhas. “Precisamos primeiro ter essa visão do vigor com que irá voltar esse canavial, para depois definir as práticas nutricionais e agronômicas dentro do orçamentário”, destacou Quassi.

Após essa avaliação, se houve uma boa rebrota, em áreas onde há pragas de solo, o engenheiro agrônomo indica realizar aplicações  para proteger desses organismos. “Dá para gente já começar aplicar, via corte de soqueira, alguns nutrientes juntos, algumas bactérias ou soluções biológicas, microorganismos, que vão dar uma resiliência a esse sistema radicular novo, ou um fungo micorriza com Trichoderma. Esse seria minha ideia para esse momento”, avaliou o pesquisador. 

Para as áreas onde não existem pragas no solo, o engenheiro agrônomo recomenda que não corte a soqueira e espere o vegetativo. Outro ponto que ele destaca, para quem tem vinhaça ou consegue irrigar, é a aplicação de vinhaça com uma lâmina de água para estimular a brotação, dessa forma, não deixa de ter uma reposição nutricional. 

Além disso, segundo Quassi, é preciso observar como serão as chuvas durante a primavera, porque é possível entrar com tecnologias pós-seca e de efeitos de crescimento da planta, que são os aminoácidos, os extratos de alga, a fim de potencializar mais os hormônios nessa solução. 

Por fim, o pesquisador destaca os nutrientes que precisam de reposição após um episódio de queimada na lavoura de cana-de-açúcar. De acordo com Quassi, o produtor não precisa repor cálcio, magnésio, potássio e fósforo, mas nitrogênio e boro são necessários: “Baseado em pesquisas e conversas com professores, basicamente é necessário reposição de nitrogênio e de boro”. 

Portanto, segundo ele,  após uma queimada, é ideal a aplicação de nitrogênio em torno de 80 kg por hectare. Em relação ao boro, é preciso ter uma avaliação, mas ele indica preliminarmente  em torno de 1kg a 1,5kg por hectare via solo. “Se não tem condição, dá para aplicar 0,5kg de boro e depois mais 1kg durante a fase folhear, durante a primavera-verão”, recomendou.

Participação criminosa nos incêndios está sob investigação

A Orplana ressaltou também que a polícia está investigando motivação criminosa para os incêndios. Conforme o que apontam informações da Reuters, a Polícia Federal abriu entre a semana passada e a terça-feira (27), 33 inquéritos para investigar a promoção dos incêndios. 

Está em investigação até mesmo a possibilidade de envolvimento da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em uma ação coordenada nessas queimadas, segundo informações do diretor de Meio Ambiente e Amazônia da Polícia Federal, o delegado Humberto Freire. 

De acordo com informações de Guilherme Piai, secretário de Agricultura de São Paulo, à Reuters, cinco presos por suspeita de atear fogo em canaviais declararam apoio ao PCC. Porém, a motivação ainda não é confirmado, estando entre as declarações dos suspeitos que “quiseram por forma ingênua se vingar contra o agronegócio”, segundo a afirmação de Piai à agência de notícias. 

Também de acordo com informações do secretário, alguns focos de incêndio em lavouras de cana-de-açúcar no estado de São Paulo começaram no mesmo horário, o que indica que não foi algo acidental. 

Previsão é de mais dias quentes e possíveis novos incêndios

Dias mais quentes e, novamente, com grande risco de queimadas estão pela frente entre este final de agosto e início de setembro em regiões produtivas de São Paulo, de acordo com o que alerta a Defesa Civil do estado. 

No último final de semana, como pontuou a Defesa Civil, a frente fria que derrubou as temperaturas no Centro Sul Brasil colaborou para o combate dos focos de incêndio. Entretanto, o calor previsto para os próximos é um fator de atenção: “A previsão climática para os próximos dias é preocupante e reacende o sinal de alerta para o alto risco de incêndio nas lavouras no Estado de São Paulo”, informou o órgão. 

Por conta disso, a Defesa Civil pede que alguns cuidados sejam tomados para evitar a formação de novos incêndios como: não queimar lixo, não acender fogueiras, não soltar balões (o que é crime ambiental e deve ser denunciado) e manter limpos aceiros em volta das propriedades. 

Prosseguem com alerta para o risco de queimadas as regiões de: Andradina, Araçatuba, Assis, Barretos, Bauru, Campinas, Campos do Jordão, Franca, Guaratinguetá, Iperó, Itapeva, Jales, Jaú, Jundiaí, Marília, Ourinhos, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São Carlos, São José do Rio Preto, Sorocaba e Votuporanga.

Mapa de São Paulo com áreas onde há risco de incêndio Fonte Defesa Civil de São Paulo Climatempo
Mapa de São Paulo com áreas onde há risco de incêndio.
Fonte: Defesa Civil de São Paulo/Climatempo
Anomalia de temperatura até 3 de setembro Fonte Tropical Tidbits
Anomalia de temperatura até 3 de setembro. Fonte: Tropical Tidbits
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Por:
Igor Batista
Fonte:
Notícias Agrícolas

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