Estoques de açúcar no centro-sul limitam impacto de queda na safra, diz Datagro
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Estoques maiores de açúcar da safra recorde de 2023/24, que está se encerrando neste mês no centro-sul do Brasil, vão limitar o impacto negativo na oferta de uma produção 4,8% menor projetada para a nova temporada na principal região produtora do país, de acordo com avaliação da consultoria Datagro divulgada nesta quarta-feira.
As usinas do centro-sul, que responde por cerca de 90% da colheita de cana no maior produtor e exportador global do adoçante, deverão produzir 40,45 milhões de toneladas de açúcar em 2024/25, abaixo do recorde de 42,5 milhões previsto para 23/24, como efeito de chuvas insuficientes para os canaviais, disse o presidente da Datagro, Plinio Nastari.
Com estoques de açúcar em 3,28 milhões de toneladas somados à produção estimada, a oferta total em 24/25 foi estimada em 43,73 milhões de toneladas. Este volume é "apenas" 400 mil toneladas abaixo do suprimento contabilizado na safra anterior, disse Nastari, ao apresentar seus números no evento Santander Datagro, em Ribeirão Preto (SP).
Isso "apesar de estarmos prevendo uma redução na moagem de cana na região centro-sul de 64 milhões de toneladas e um aumento na capacidade de cristalização", destacou Nastari, citando o investimentos para ampliar as fábricas de açúcar do setor.
A Datagro estima que a moagem de cana deverá somar 592 milhões de toneladas em 2024/25, redução de 9,8% na comparação com o recorde do ciclo anterior, quando o clima foi perfeito para as lavouras.
Nastari comentou ainda que a previsão climática para os próximos três meses é pouco favorável, apontando chuvas próximas do normal apenas para Mato Grosso e Goiás em março, enquanto os demais Estados do centro-sul terão menos precipitações do que a média. Para abril, somente Paraná, sul de Mato Grosso do Sul e São Paulo terão chuvas dentro da normalidade.
"Nenhum Estado terá chuvas acima do normal (nos próximos três meses)", afirmou Nastari.
Com isso, a consultoria projeta produtividade agrícola da cana do centro-sul caindo para 78,8 toneladas por hectare, versus 88,3 t/ha na temporada anterior, enquanto a área do canavial deverá aumentar para cerca de 7,5 milhões de hectares em 24/25, ante 7,44 milhões em 23/24.
ETANOL
A produção de etanol do centro-sul do Brasil em 24/25 deverá cair 9,3% ante a temporada anterior, para 30,42 bilhões de litros, incluindo o biocombustível de milho.
O "mix" de cana destinada à produção de açúcar aumentará para 51,6%, versus 48,9% na temporada anterior, à medida que o adoçante segue mais rentável que o etanol, estimou a consultoria.
Com isso, a produção de etanol só não cairá mais porque a fabricação do combustível de milho segue crescente, devendo avançar 16% em 24/25, para 7,12 bilhões de litros.
Os estoques maiores do biocombustível também devem aliviar -- com menor dimensão do que no caso do açúcar -- uma queda na produção de etanol, destacou Nastari.
Segundo os dados da consultoria, o centro-sul deve começar a temporada 24/25 com quase 3 bilhões de litros, volume que somado à produção projetada resulta em oferta de 33,3 bilhões de litros, número que se compara com 35,11 bilhões de litros do suprimento de 23/24.
Nastari disse ainda que, com o consumo de etanol em recuperação, os preços aos produtores deverão reagir em 24/25.
A Datagro estimou que a temporada 2024/25 (outubro/setembro, ano comercial global) deverá registrar um superávit de 1,9 milhão de toneladas de açúcar no mundo, versus déficit de 0,88 milhão de toneladas na previsão para o ciclo anterior, disse a Datagro, citando uma recuperação nas colheitas da Índia e Tailândia na nova safra.
(Por Roberto Samora)
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