Açúcar: Congestionamento nos portos deve impactar fornecimento global, mas analista não vê alternativas rápidas
A delicada questão de escoamento que a safra brasileira de açúcar passou a acompanhar no mês de outubro, após exportação mais baixa, conforme apontado pelo Notícias Agrícolas em reportagem na semana passada, tem potencial de impactar no fornecimento global em um momento no qual o mundo precisará mais do que nunca do adoçante brasileiro.
Porém, não há alternativas capazes de reverter esse cenário complicado tão rápido, segundo Marcelo Di Bonifacio Filho, analista em inteligência de mercado da StoneX.
"Não há muito espaço para melhorar a logística nos portos do país sem investimento em capacidade (que só chega no médio prazo), então o curto prazo está bem apertado e limitando sim a oferta do Brasil", afirma o analista. A safra 2023/24 do Centro-Sul brasileiro tem perspectiva de produção positiva, que compensaria os impactos das safras decepcionantes esperadas na Ásia.
Mas, com esse gargalo logístico acendido no mercado depois dos embarques em outubro, há algumas preocupações. "A limitação da oferta do Brasil com esse impacto nos portos é altista para os preços", ressalta Filho. O açúcar bruto na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), inclusive, atingiu máxima de 12 anos na semana passada, em 28,14 cents/lb, no principal contrato negociado.
As chuvas no mês de outubro foram o principal fator de impacto nos embarques do adoçante, segundo o analista. Porém, a perspectiva à frente ficou delicada. "Estamos 'empurrando' muitos volumes para os meses seguintes. Novembro, por exemplo, deve exportar bastante açúcar, dezembro também", destaca o analista da StoneX.
Os portos do país têm 100 navios no total para embarcar entre o início de novembro e a primeira semana de janeiro de 2024, segundo a consultoria. O tempo de espera é de cerca de 21 dias, apesar de já ter registro de alguns terminais com espera de 53 dias neste ano de 2023 nos portos do país. Especificamente, no Porto de Santos, há 23 dias de espera neste mês de novembro para atracar e 23 também em Paranaguá. As médias de 5 anos para o mês nos dois portos são de 6 e 8 dias, respectivamente.
"Vamos ter um Brasil virando para safra 2024/25 com altos estoques de passagem – ou seja, superados esses problemas, devemos ter essas exportações acontecendo", destaca. A última vez que o Brasil registrou cenário logístico complicado envolvendo o adoçante foi há mais de uma década.
HÁ ALTERNATIVAS?
Filho também contextualiza o cenário em outros portos do país, que poderiam ser um escape à Santos, que é o principal escoador da safra brasileira do adoçante. "Paranaguá seria uma opção, inclusive tem aumentado nos últimos anos seu volume e participação nas exportações de açúcar, porém, no curto prazo, não tem muitas chances de virar uma alternativa suficiente para escoar o açúcar que não consegue sair de Santos", diz.
"Além de ser mais longe de São Paulo (logo, mais oneroso), as chuvas estão acima da média por lá e os dias de espera para nomear navios é tão alto quanto em Santos", complementa o analista. Um dos terminais do Porto de Paranaguá incendiou neste ano, colocando ainda mais tração na capacidade da unidade.
Outra alternativa seriam os portos do Arco Norte, mas também há impactos da seca em áreas da Amazônia. Além disso, há a questão da distância. "As cargas do Centro-Sul estão muito mais longe desses estados, não é interessante. Poderia ser também uma alternativa para as usinas do Nordeste, mas os portos de Maceió, Suape (principais da região) estão dando conta de escoar o açúcar no momento. Além disso, enfrentaria muita concorrência com grãos", finaliza Filho. A última safra de grãos do Brasil foi recorde e a nova também será positiva.
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