Safra de açúcar da Índia impactada pelo El Niño; como o Brasil pode salvar o mundo em 2023/24
O cenário climático permanece complicado na Índia, segundo maior produtor de açúcar do mundo – que fica apenas atrás do Brasil –, em meio aos reflexos do fenômeno climático El Niño. A safra no país asiático começou neste mês de outubro e as expectativas não são nada boas por lá, diferente do que ocorre aqui no Brasil. Consultorias estimam a produção no país asiático neste ciclo em cerca de 30 milhões de toneladas.
"A safra 2023/2024 vem sendo marcada pela forte presença do El Niño, ou seja, o aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, tendo como consequência a alteração nas temperaturas e volumes de chuvas no mundo todo. Para as culturas agrícolas indianas, o fenômeno implica em um volume inferior de chuvas, especialmente na época das 'monções'. O mês de agosto de 2023, por exemplo, teve o menor volume de precipitação dos últimos 100 anos no país", explica Danilo Menegatti, analista de insumos do Pecege Consultoria e Projetos.
No ciclo 2022/23 (outubro-setembro), a Índia produziu aproximadamente 35 milhões de toneladas, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). Apenas cerca de 20% do total de açúcar produzido foi destinado à exportação.
Nesta safra atual, com as baixas perspectivas de produção na Índia e em outras origens produtoras asiáticas, corre até o risco de o país ter que proibir ou restringir as exportações para garantia do abastecimento interno, algo que pode ocorrer em breve, segundo a agência de notícias Bloomberg. Há até possibilidade de a safra complicada no país impactar a inflação em meio proximidade de eleições por lá.
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"O país destina a maior parcela do adoçante produzido a consumo interno de sua imensa população. O consumo de açúcar total da população indiana é o maior entre todos os países do mundo e apresentou crescimento nos últimos anos", complementa Menegatti em relatório exclusivo enviado ao Notícias Agrícolas.
Outro posicionamento recente da Índia, que também pode influenciar na disponibilidade de açúcar na safra que acabou de começar diz respeito ao recente programa de aumento da mistura de etanol na gasolina, que ganhiu força depois da disparada do petróleo em meio à grande dependência do país pelo fóssil.
"O país estar aumentando o percentual obrigatório de etanol presente no combustível a fim de atingir metas de descarbonização. Portanto, além de um volume menor produzido de cana-de-açúcar no país, esta cana terá uma forte demanda para a produção de combustíveis", destaca o analista.
Em meio a esse cenário complicado de produção na Índia prevista para esse ciclo, a safra do Brasil – que tem avançado bem e com expectativas positivas também para o próximo ciclo, que começa em abril do ano que vem – deve ser fundamental para o abastecimento global, segundo Menegatti.
"Neste contexto, o Brasil deve surgir na safra de 2023/24 como importante fornecedor de açúcar tanto para a Índia quanto para outros países deficitários na balança comercial do adoçante, tendo como tendência um mix de produção mais destinado à produção do açúcar", finaliza Menegatti.
Acompanhando os temores com a oferta, somente neste mês de outubro, os preços do açúcar subiram mais de 2,50% na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), ficando acima de 27 cents/lb. No mês passado, o adoçante no terminal, inclusive, testou máximas de mais de 10 anos. Esse cenário também deu suporte para ganhos internos.
No dia 5 de outubro, inclusive, o Indicador CEPEA/ESALQ, cor Icumsa de 130 a 180, atingiu R$ 159,32/saca de 50 kg, o maior patamar nominal de toda a série histórica do Cepea, iniciada em 2003.
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