StoneX vê competitividade ainda acirrada entre açúcar e etanol em 23/24 com dúvidas sobre impostos nos combustíveis
A safra 2023/24, que começará oficialmente apenas em abril do ano que vem, ainda deverá ser marcada por acirramento na competitividade entre o açúcar e etanol em meio às dúvidas sobre os impostos federais e estaduais sobre os combustíveis, segundo as projeções da StoneX apresentadas em seminário online nesta quarta-feira (05). Esse cenário ainda gera muitas incertezas para as usinas sobre o mix da próxima temporada.
Na metade deste ano, o governo federal decidiu que os estados deveriam adotar um teto na cobrança do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços (ICMS) sobre produtos essenciais, incluindo os combustíveis, que impactavam fortemente na inflação. Além disso, isentou os impostos federais sobre esses produtos. Com isso, o etanol passou a perder competitividade sobre a gasolina.
Alguns estados, como São Paulo, maior consumidor do biocombustível, e Minas Gerais, já têm garantido que os preços do etanol tenham um diferencial para serem mais competitivos do que os da gasolina, mas esse não é o único fator que influencia nos preços dos combustíveis. Há ainda as cotações do petróleo no cenário internacional e o câmbio, que fazem com que a Petrobras faça as modificações nos preços de comercialização nas refinarias.
A princípio, a isenção dos impostos federais termina no final deste ano de 2022 e o teto na cobrança do ICMS deve permanecer até que se tenha mudanças na lei.
"A competitividade deve permanecer acirrada entre os dois combustíveis [etanol e a gasolina]", afirma Filipi Cardoso, especialista de inteligência de mercado da StoneX. Isso já tem ocorrido nas últimas quinzenas, segundo o analista, com as usinas destinando mais cana-de-açúcar para a produção do adoçante, favorecendo a oferta. Esse cenário deve seguir também na próxima temporada, que começará apenas no ano que vem.
Antes das alterações nos tributos, o cenário para o etanol era bastante positivo. "O etanol estava apresentando uma vantagem maior do que o açúcar para o produtor e o mercado esperava que fosse ser produzido muito mais etanol do que açúcar durante a safra 2022/23", complementa Cardoso. Há ainda como fatores de atenção no mercado, como a produção de açúcar em outras origens e no Brasil.
A consultoria vê o mix açucareiro na safra atual do Centro-Sul do Brasil em 44,8%. "Estimamos que o mix de açúcar deve retomar os 45% em 2023/24, ou seja, recuperar 0,2 ponto percentual. A região Nordeste deve ficar em 46% de mix de açúcar. Isso acaba trazendo uma produção maior de açúcar para o mercado global", diz Cardoso.
"A paridade tende a ficar mais favorável para o açúcar, na nossa visão, e isso reforça a ideia de que o mix na safra 2023/24 vai ser um mix bastante açucareiro. Percentualmente, ele pode ser mais açucareiro ainda caso a gente tenha o retorno parcial apenas dos impostos federais, abrindo mais essa diferença", explica a consultora em gerenciamento de risco da StoneX, Lígia Heise.
A StoneX vê a produção de açúcar no próximo ciclo em 35,2 milhões de toneladas, cerca de 5% acima do que na atual temporada, já que chuvas acima da média têm beneficiado as áreas de cana-de-açúcar. Essa recuperação, inclusive, deve favorecer um superávit global no ciclo 2022/23.
Depois de um estreitamento no final de 2021 e durante a maior parte de 2022 do açúcar VHP e do etanol em São Paulo, os preços se distanciaram desde a metade do ano, logo após a modificação dos impostos e a tendência, segundo a StoneX é que isso siga pelo menos até início do ano que vem, com o adoçante entre 17 a 18 cents/lb e o biocombustível próximo de 15 cents/lb.
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