Crise dos fertilizantes: Canavicultores estão substituindo ou racionando uso e Czarnikow vê dúvidas para safra 22/23
Os preparativos para a safra 2022/23 (abril-março) de cana-de-açúcar começam com muitas incertezas em meio crise global dos fertilizantes, que têm alta histórica desde o começo do ano, e representam 50% do peso de custos de insumos na cultura, segundo levantamento da trading inglesa Czarnikow. Diante disso, os custos médios já avançam cerca de 20%.
"Com o preço em níveis recordes, muitos produtores estão substituindo e/ou racionando alguns fertilizantes. Eles estão aplicando menos fertilizantes nitrogenados, como o adubo e substituindo por torta de filtro – um importante resíduo da indústria de açúcar e álcool", destacou a trading.
Ainda assim, os canavicultores não conseguem fugir da alta dos preços desses insumos que está alinhada com a combinação de três fatores: câmbio (depreciação do real brasileiro), aumento do frete marítimo com a pandemia e corrida por insumos com escassez de containeres e a quebra na oferta de algumas matérias-primas.
O frete de container, por exemplo, saiu da casa dos 2 mil USD/TEU (Twenty Foot Equivalent Unit) para mais que 10 mil USD/TEU.
"O real apresentou uma desvalorização ante o dólar de 3,5% em relação a 2020, comercializado a uma média anual de 5,35 BRL/USD. Como grande parte da matéria-prima para a produção dos fertilizantes é importada, o câmbio desvalorizado afetou significativamente o preço final aos produtores", disse a trading em relatório.
No caso do potássio, segundo a Czarnikow, a questão não é um problema de escassez e sim geopolítico. "Os EUA bloquearam as importações da Bielorrússia, que possui uma participação de 1/4 da produção mundial de cloreto de potássio. Cerca de 30% do cloreto de potássio importado do Brasil é da Bielorrússia", disse.
Para os nitrogenados, um dos motivos de sua escassez é a crise energética chinesa. "O preço do gás natural (cotado na bolsa Inglesa), um dos principais insumos para produção de nitrogênio, subiu 5000% desde maio de 2020", disse a trading inglesa, destacando impactos também ao Brasil.
"O MAP, fertilizante mineral que contém fósforo e nitrogênio, subiu 93% - saiu dos 415 USD/tonelada no início do ano para o preço atual de 750USD/ton", destacou a trading.
Custos corroendo margens de lucro
Apesar de alta nos preços do açúcar e etanol encarecendo o preço da cana, que poderiam gerar margens excelentes para as indústrias, os custos em toda a cadeia sucroenergética sofrem uma inflação. Além dos insumos, há ainda os combustíveis, como o diesel em especial por causa do cenário macro.
"Com o aumento do preço da cana, dos insumos e desvalorização do Real, o custo médio de produção de açúcar no CS subiu cerca de 20% da safra passada para esta, ficando por volta de R$ 1500 ton", aponta a trading inglesa.
A projeção do Consecana acumulado (Mar/22) ficou em BRL 1,1716/kg de ATR (Açúcar Total Recuperável), sobre 0,7783 da safra anterior. "Com os bons preços de açúcar e etanol nesta safra muitos acreditam que as usinas terão margens excelentes nesta safra. Porém, não é bem o caso - vemos uma inflação de custos que reduz as margens das usinas".
A Czarnikow estima a moagem na safra atual de cana, que logo chegará ao fim em cerca de 520 milhões de toneladas e já projeta a nova temporada em aproximadamente 540 milhões de t.
Há perspectivas de melhora?
A Czarnikow não vê melhora no cenário de preços dos fertilizantes no curto prazo, segundo consulta com fontes do próprio setor, seguindo encarecendo as operações.
"Muitos apostam que o choque de oferta deva durar pelo primeiro trimestre de 2022 – acendendo a luz de atenção para a segunda safra de milho, a maior do país", destaca a trading.
"O foco por enquanto vai continuar sendo o controle de custos. Nos resta monitorar como o canavial vai responder na safra 22/23 com potenciais reduções nos tratos culturais...", reforça.
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