JOB eleva previsão de produção de etanol do CS; reduz moagem de cana em 7,5%
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A moagem de cana do centro-sul do Brasil em 2021/22 foi estimada em 533 milhões de toneladas, com um corte de 7,5% na comparação com a projeção de maio por conta do impacto da seca e das geadas, previu nesta quinta-feira a consultoria JOB Economia, que por outro lado subiu levemente a estimativa de produção de etanol em meio a preços elevados no mercado interno.
A previsão de fabricação de etanol de cana na principal região produtora do país ficou agora em 25,10 bilhões de litros em 2021/22, aumento de 2,45% ante a projeção anterior, enquanto a produção de açúcar foi estimada em 33,4 milhões de toneladas em 2021/22, versus 37,2 milhões anteriormente (-10,2%), em meio à quebra de safra.
"Foi uma reversão de expectativa. As indústrias estão fazendo mais etanol do que o previsto", disse o sócio-diretor da consultoria, Julio Maria Borges, em entrevista à Reuters.
Ele comentou ainda que o mercado de gasolina, em um cenário de menor oferta de matéria-prima de etanol, acaba puxando a fabricação do álcool anidro (utilizado na mistura com o combustível fóssil).
"A restrição da oferta cai toda no hidratado, como vende mais gasolina, puxa a produção de anidro."
Na comparação com a temporada passada, no entanto, a produção de etanol de cana do centro-sul cairá quase 10%, diante de uma redução da moagem de cana esperada em 12% e com a produção de açúcar recuando 13%, segundo números da JOB.
Com a menor oferta, os preços do etanol no Estado de São Paulo, maior produtor e consumidor do país, estão nos maiores patamares desde março de 2016, já considerando valores deflacionados, conforme levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.
O etanol anidro, misturado na proporção de 27% na gasolina, foi comercializado a 3,7583 reais por litro na última semana, nas usinas paulistas, com um alta de 84% ante o mesmo período do ano passado. Já o hidratado, usado diretamente pelos veículos, subiu mais de 75% na comparação anual, na esteira de ganhos da gasolina e da recuperação do petróleo no mercado internacional.
TIRANDO PROVEITO
Segundo Borges, no caso do etanol, cuja produção é em grande parte vendida no mercado interno, as usinas conseguem aproveitar mais, já nesta safra, os ganhos dos preços em comparação com o açúcar de exportação --com cotações previamente fixadas.
"Trinta por cento do açúcar é comercializado no mercado interno e praticamente todo o álcool é mercado interno, isso foi beneficiado com aumento dos preços já neste ano", comentou o analista.
Ele estima que a receita por tonelada de cana vai aumentar entre 60% a 70% em relação ao ano passado, por conta da disparada dos preços.
"O pessoal fala muito de aumento de custo, claro que está aumentando... mas não chega neste nível de 60% de jeito nenhum", afirmou Borges, ressaltando a possibilidade de boas margens.
Ele comentou que, no caso do açúcar de exportação, o setor não conseguiu aproveitar os ganhos nos mercados futuros para a safra atual, porque a maior parte já estava fixada.
Somente neste ano o primeiro contrato futuro do açúcar bruto negociado em Nova York subiu cerca de 27%.
Mas as usinas estão aproveitando para fixar vendas das safras de 2022 e 2023, uma vez que os preços "foram muito acima do esperado".
"Minha expectativa é que para a safra 2022/23 cerca de 50% a 60% já foi fixado, é um recorde total, as usinas estão fazendo uma gestão de risco muito competente."
"Por que não fixaram mais? Porque com essa quebra de safra estão com dúvida sobre o tamanho da safra 22, mas aproveitaram sim de maneira inusitada, fixando safras futuras", disse o consultor.
Para Borges, o ano de 2021 foi surpreendente em todos os aspectos, "a quebra foi muito maior que a inicialmente prevista, e o aumento de preços foi muito maior do que o inicialmente previsto: surpresa dos dois lados".
O cenário para a safra que vem não é muito auspicioso porque a seca afetou a cana que foi plantada, concordou ele.
Com uma menor oferta de açúcar neste ano, a JOB reduziu a previsão de exportações do Brasil em 2021/22 para 27,10 milhões de toneladas, ante 29,9 milhões na previsão anterior, versus 32 milhões no ciclo passado.
No caso do etanol, os embarques para o exterior foram estimados em 2,2 bilhões de litros, estáveis ante previsão de maio, ante 2,9 bilhões em 2020/21.
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