EUA e Brasil devem reduzir produção de etanol nos próximos meses
Os Estados Unidos e o Brasil, os dois maiores produtores de etanol do mundo, deverão reduzir a fabricação do biocombustível nos próximos meses, devido ao aumento nos custos do milho e do açúcar.
As ofertas apertadas do cereal e do adoçante estão repassando custos para o etanol, tornando produtores relutantes em ampliar a fabricação e dando impulso também aos preços da gasolina.
Os EUA e o Brasil são os pilares da oferta mundial de etanol, tendo respondido por 75% das exportações globais no ano passado, segundo a S&P Global Platts Analytics.
Os preços médios da gasolina nos EUA estão acima de 3 dólares por galão pela primeira vez desde 2014, de acordo com dados da American Automobile Association, enquanto as cotações no Brasil, considerando a referência do Estado de São Paulo, atingiram 5,40 reais por litro em junho, perto de máximas recordes.
O etanol geralmente ajuda a reduzir os preços da gasolina, já que tende a ser uma fonte barata da octanagem necessária para o combustível fóssil, disse Scott Irwin, professor da Universidade de Illinois. No entanto, com os atuais preços de mercado, o etanol está, na verdade, aumentando o custo da gasolina.
Os contratos futuros do milho negociados nos EUA alcançaram recentemente máximas que não eram vistas desde 2013, enquanto os preços do etanol atingiram o maior nível desde 2014, segundo dados do Refinitiv Eikon.
A produção de etanol nos EUA se recuperou de uma mínima de 537 mil barris por dia (bpd) vista em abril, avançando para cerca de 1 milhão de bpd, conforme dados da Administração de Informações sobre Energia (AIE). Os sinais do mercado, porém, sugerem que um maior crescimento será lento.
As ofertas à vista por milho diminuíram nas usinas de etanol de todo o Meio-Oeste dos EUA durante o mês de maio, e os preços oferecidos por operadores para entrega nos meses do verão local eram ainda mais baixos.
"Esperamos que a produção de etanol neste verão (do Hemisfério Norte) fique ligeiramente abaixo dos índices que vimos durante os verões de 2019 e 2018, e os altos preços do milho e a oferta restrita do cereal em termos regionais são uma grande razão para isso", disse Geoff Cooper, presidente da Renewable Fuels Association, um grupo comercial de biocombustíveis dos EUA.
Os produtores de etanol devem adquirir 5,2 bilhões de bushels de milho ao longo do próximo ano, o que representaria o menor patamar desde 2013-2014 para um ano não afetado por pandemia, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês).
As fortes exportações deverão manter a oferta de milho apertada nos próximos meses, principalmente devido à demanda chinesa. O suprimento de milho dos EUA, segundo o USDA, tende a cair para uma mínima de oito anos antes da próxima colheita, em setembro.
As margens para produção de etanol no Cinturão do Milho norte-americano estão relativamente boas, a 13 centavos de dólar por galão, mostraram dados do Refinitiv Eikon, em momento em que a demanda por combustíveis retorna após a pandemia de Covid-19. No entanto, muitos produtores que ainda operam em níveis reduzidos não devem ampliar a fabricação do biocombustível por causa dos custos com o milho, disse Cooper.
BRASIL
O Brasil, enquanto isso, lida com uma safra de cana-de-açúcar afetada pela seca. Os preços do etanol nas usinas locais estão próximos de suas máximas históricas, acima de 3,40 reais por litro, segundo a Universidade de São Paulo (USP). Como as distribuidoras de combustíveis são obrigadas a adicionar 27% de etanol à gasolina, isso tem elevado os preços no país.
Com menos etanol de cana disponível, é esperado que os motoristas utilizem mais gasolina, já que a maioria dos automóveis brasileiros possui motor flex.
"O etanol hidratado vai perder espaço para a gasolina", disse Luiz Gustavo Figueiredo, diretor da usina Alta Mogiana.
A safra de cana do Brasil deve recuar 7% neste ano devido à seca. Com menos cana, as usinas vão favorecer o açúcar em seus "mix" de produção, em detrimento do etanol, segundo analistas.
A Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) pediu ao governo federal que a mistura obrigatória de etanol à gasolina fosse reduzida, visando diminuir os custos.
"O etanol pode ser aquele a sofrer as consequências de uma safra menor", afirmou Bruno Lima, head de açúcar e etanol da corretora StoneX, que projeta uma queda de 6% na produção do biocombustível, para 28,5 bilhões de litros.
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