Novo isolamento da Covid-19 no BR atingirá caixa do produtor de etanol, diz Fitch
Rua comercial deserta em São Paulo com restrições relacionadas à Covid-19 - Foto: Reuters
Os novos isolamentos para conter o ressurgimento de casos de coronavírus em estados do Brasil neste início de 2021, com restrições à mobilidade social, deverão pressionar o fluxo de caixa dos produtores de açúcar e etanol no país devido às fracas vendas de combustíveis, estima a Fitch Ratings.
"Uma demanda mais fraca de etanol do que a prevista, que é um substituto da gasolina, limitará a vantagem dos preços internacionais mais altos do petróleo para os produtores. Um fluxo de caixa mais fraco pode atrasar o ritmo de desalavancagem de emissores", destaca a agência de classificação de risco.
A Fitch estima que a demanda total por combustíveis no Brasil, incluindo etanol e gasolina, caiu 6,5% no acumulado do ano até o mês de fevereiro em relação ao ano anterior. Somente a demanda por etanol hidratado teve uma queda de 9% no acumulado do ano até fevereiro, sobre 15% em todo o ano de 2020.
"A tendência de queda deve continuar em março devido ao aumento das restrições de mobilidade social", destaca a Fitch.
Demanda por etanol hidratado e preços no Brasil (Média mensal 2016-atualmente) - Fonte: Fitch Ratings
A trading inglesa Czarnikow estimou na véspera que a queda na demanda do biocombustível nesses novos isolamentos por conta do agravamento da pandemia de coronavírus não deve ser tão expressiva quanto no ano passado, podendo ainda segurar um pouco os preços do etanol.
"No ano passado, quando a primeira medida de bloqueio foi imposta em meados de março, o índice de isolamento em São Paulo era em média de 50% até maio. Do jeito que está, os dados mostram um isolamento em torno de 43%, o que não está longe do registrado no final de 2020", pontuou a trading.
Índice de isolamento social no estado de São Paulo nos últimos meses - Fonte: Czarnikow
Uma recuperação da demanda por etanol no primeiro trimestre de 2021 dependerá das vacinações e de quanto tempo as restrições sociais permanecerão, segundo a Fitch. Atualmente, o Brasil é o segundo país com maior número de casos, atrás dos Estados Unidos, segundo dados da Universidade Johns Hopkins.
Para a Fitch, a demanda de etanol hidratado no Brasil teria que aumentar cerca de 10% durante a safra 2021/22 para corresponder a uma queda esperada de 2% na oferta local de 20,6 bilhões de litros, já que a maior produção de etanol à base de milho compensará em grande parte uma queda esperada de 7% na produção de etanol de cana-de-açúcar.
"Um aumento de 10% na demanda atualmente parece um desafio, dada a trajetória da pandemia do coronavírus e as renovadas restrições de mobilidade social em todo o Brasil", pontua a Fitch.
Após recordes de preço no início de 2021, os preços do etanol devem cair com impacto da demanda, mas também acompanham o cenário internacional. A Fitch revisou sua estimativa de preço médio anual do petróleo Brent de 2021 para US$ 58 o barril, de US$ 45 em dezembro de 2020.
Para 2022, os preços da commodity foram revisados para US$ 53 o barril, de US$ 50 previstos anteriormente. "A revisão reflete uma recuperação mais forte do que o esperado na demanda global, cortes de oferta da OPEP e redução acentuada na produção de xisto dos EUA", pontou a Fitch em relatório.
"A Petrobras Brasileiro S.A. (BB-/Negativo), que fixa os preços da gasolina com base no preço de importação do petróleo, aumentou a gasolina na refinaria em mais de 40% para 2021. Um limite de preço é imposto aos preços do etanol hidratado porque a gasolina é substituta do etanol, com a oferta e a demanda de etanol determinando o quão próximos os preços das duas commodities serão alinhados", destaca a agência.
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