Fixações do açúcar pelas usinas brasileiras chegam a 80% para 2021/22
Pecege vê fixações pelas usinas do Brasil em 80%, com preços acima de R$ 1.600 a tonelada - Foto: Unica
As fixações de açúcar pelas usinas brasileiras na safra 2021/22, que começa em abril no Centro-Sul, estão em níveis absolutamente recordes, segundo consultorias e especialistas do setor. Os números apontam que pelo menos 80% do adoçante a ser exportado na próxima safra já está comprometido com preços acima de R$ 1.600 a tonelada em alguns casos.
"Apuramos que, até dezembro de 2020, tínhamos 64,73% do açúcar VHT [Very High Polarization] 2021/22 fixado pelas usinas com preço médio de R$ 1503,60. Porém, nesses dois meses de 2021, esse número pode ter superado os 80%, com preços até acima de R$ 1600 a tonelada", disse ao Notícias Agrícolas Haroldo Torres, gerente do Instituto de Pesquisa e Educação Continuada em Economia e Gestão (Pecege).
As fixações também já ocorrem mais de um ano antes da safra que começará a ser colhida a partir de abril de 2022. "Em dezembro, a safra 2022/23 tinha cerca de 25% do açúcar fixado, algo inédito", aponta Torres. Na safra 2020/21, que termina neste mês de março no Centro-Sul, as fixações no final de 2020 superavam os 98%, com preços médios de cerca de R$ 1400.
Fixações do açúcar pelas usinas do Brasil na safra atual e nas próximas duas temporadas
A corrida nas fixações pelos produtores acompanha os preços do açúcar no cenário internacional, que testaram máximas de quase quatro anos neste início de 2021 acompanhando preocupações com a oferta global e a retomada da demanda, enfraquecida durante o início da pandemia do coronavírus no mundo. Além disso, há a taxa de câmbio favorável.
O grupo São Martinho, por exemplo, fixou na temporada 2020/21 açúcar a um câmbio de R$ 4,75, já a parcela a ser exportada em 2021/22 passou para R$ 5,42 e para 2022/23 a R$ 5,95, segundo o levantamento do Pecege.
Torres destaca que o cenário positivo de preços tem gerado boas expectativas ao setor, mas ainda é preciso cautela. "Se o açúcar apresentou excelente remuneração em 2020/21, na safra 2021/22 ela tende a ficar ainda mais expressiva. Porém, do outro lado, vemos um cenário de pressão nos lucros com os custos", aponta.
"Não se pode deixar que esse ganho de custo corroa o lucro", complementa Torres.
Oscilação do principal vencimento do açúcar bruto na Bolsa de Nova York nos últimos cinco anos - Imagem: Barchart
O estado de São Paulo, maior produtor de cana-de-açúcar do país, conta com cerca de 170 usinas e algumas delas já devem começar a moagem neste mês de março para atender a demanda de etanol, prioritariamente, e depois açúcar, segundo Maria Christina Pacheco, presidente do Conselho dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana).
“No momento, existe uma tendência de a nova safra ser mais açucareira do que alcooleira pelos preços do açúcar. Já tem usinas na região de Ribeirão Preto começando a safra agora”, afirma Pacheco. “Muito coisa será decidida agora neste mês de março”, complementa a presidente do Consecana sobre a decisão do mix.
Consultorias também ajustaram recentemente seus números para as fixações de açúcar no Brasil. No final de janeiro, a Archer Consulting apontou que 80,5% do açúcar programado da safra 2021/22 do Brasil estava fixado a preços médios de 13,13 centavos de dólar por libra-peso, sem o prêmio de polarização. Da temporada 2022/23, a fixação era de 25%.
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A Safras & Mercado no final de fevereiro estimava números levemente maiores das fixações para 2021/22, com cerca de 90% de comprometimento de uma previsão de exportação de 34 milhões de t no país. A safra 2022/23, que tem uma expectativa de embarques um pouco menor, tinha fixações em aproximadamente 50%.
"Tivemos uma nova elevação nas fixações antes e no pós-feriado de Carnaval no país porque Nova York subiu bastante e o câmbio se desvalorizou. Só não aumentou mais na safra 2022/23 porque o etanol hidratado está muito alto e isso acabou freando as usinas nesse sentido", disse Maurício Muruci, analista da Safras & Mercado.
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No início da segunda quinzena de fevereiro, a StoneX via que quase 70% da safra a ser exportada de açúcar já estava precificada, sobre uma base de comparação de cerca de 40% no último ano. "Os produtores sempre se antecipam, vendem bastante da safra que nem começou ainda, mas esse ano especificamente fugiu um pouco do padrão em função dos preços altos", destacou Lígia Heise, consultora sênior em gerenciamento de risco da StoneX.
Oscilação do principal vencimento do açúcar branco na Bolsa de Londres nos últimos cinco anos - Imagem: Barchart
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