Brasil busca autorização da China à cana geneticamente modificada, diz ministra
Por Dominique Patton
PEQUIM (Reuters) - A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, solicitará na quinta-feira que autoridades chinesas deem sinal verde para as exportações ao país asiático de açúcar produzido a partir de cana-de-açúcar geneticamente modificada, variedade que deverá ser amplamente utilizada pelo Brasil nos próximos anos.
Nesta quarta-feira, a ministra disse à Reuters em Pequim, em sua primeira visita à maior compradora de produtos agrícolas do Brasil, que levantará o assunto durante uma visita à Administração Geral de Alfândegas da China na quinta-feira.
O argumento das autoridades brasileiras será de que o açúcar não possui traços de genes modificados depois que a cana é processada, algo semelhante ao que ocorre com o óleo produzido a partir de grãos de soja transgênicos.
"Nós exportamos açúcar e iremos exportar açúcar feito de cana geneticamente modificada. O açúcar, por si só, não é geneticamente modificado, então iremos explicar a respeito do processo científico e mostrar o motivo pelo qual o açúcar não deve ser considerado pela ciência um produto transgênico", disse Cristina à Reuters, por intermédio de um tradutor.
O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) do Brasil desenvolveu variedade de cana geneticamente modificada que é resistente à broca da cana, o que pode reduzir os custos com pesticidas.
Algumas usinas no maior exportador mundial de açúcar já estão testando a variedade nos campos.
O governo brasileiro aprovou o uso comercial da cana transgênica, e a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, concluiu que o consumo do açúcar feito da variedade é seguro.
"A produção dessas variedades crescerá muito no Brasil, então é algo que precisamos discutir", disse Tereza Cristina.
A China, em geral, tem sido lenta na aprovação de alimentos geneticamente modificados. No mês passado, uma autoridade do Ministério da Agricultura do Brasil reclamou que as aprovações chinesas levam de cinco a seis anos, ante 240 dias em 2010.
A ministra afirmou que também levantará questão a respeito das 79 unidades de carne brasileiras que buscam aprovação para a exportação de carnes bovina, suína, de frango e outras para a China. Até o momento, apenas dez delas foram inspecionadas por autoridades chinesas de qualidade alimentícia.
"Uma das coisas que discutiremos é se é necessário que visitem todas as unidades, ou se podem selecionar algumas como amostra", disse Cristina.
Ela acrescentou que o ministério está construindo uma nova relação com a administração alfandegária da China, que apenas recentemente assumiu o papel de aprovar importações, depois de uma alteração promovida pelo governo chinês.
Segundo a ministra, o Brasil é um dos poucos países capazes de abastecer a China com quantidades suficientes de carne quando o país passar por uma ampla queda na produção de suínos, o que deve ocorrer ainda neste ano, devido ao surto de peste suína africana na nação asiática.
(Reportagem de Dominique Patton, com reportagem adicional de Marcelo Teixeira em São Paulo)
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