Produção de açúcar no centro-sul deve cair 23% em 2018/19, diz Safras
Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - A produção de açúcar no centro-sul do Brasil deverá cair para 28 milhões de toneladas na atual safra 2018/19, reflexo do maior direcionamento de cana para a fabricação de etanol e da estiagem nos últimos meses, disse nesta quarta-feira a Safras & Mercado, que anteriormente previa em 31 milhões de toneladas.
O volume estimado aponta uma redução de 23 por cento na comparação com a produção de pouco mais de 36 milhões de toneladas do ano passado.
Se a previsão da Safras for confirmada, a produção de açúcar do centro-sul seria a menor desde as 26,75 milhões de toneladas de 2008/09, tendo por base o histórico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
Em comunicado, o analista da consultoria Maurício Muruci explicou que a revisão para baixo deve-se ao "fato de a safra estar muito mais alcooleira (em torno de 62 por cento em favor do etanol no mix) e, principalmente, à estiagem que assola o centro-sul desde março e que vai reduzir a qualidade da cana, um fator que favorece a produção de etanol".
Com efeito, o Thomson Reuters Agriculture Weather Dashboard aponta chuvas entre 150 e 160 milímetros abaixo da média em algumas importantes áreas de São Paulo, principal produtor nacional, nos últimos quatro meses.
A situação é mais grave no Paraná, onde as precipitações estão mais de 300 milímetros aquém do esperado em certas regiões.
Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul também registram chuvas abaixo do normal.
Assim, embora o tempo seco tenha contribuído para o avanço consistente da colheita, há a perspectiva de produtividade reduzida nos canaviais colhidos tardiamente.
MAIS ETANOL
A Safras & Mercado prevê que a produção de etanol no centro-sul do Brasil cresça para 27 bilhões de litros em 2018/19, de 25,35 bilhões no ciclo passado.
Esse volume seria dividido em 17 bilhões de litros de hidratado, usado diretamente nos tanques dos veículos, e 10 bilhões de anidro, misturado à gasolina.
O etanol vem se mostrando mais atrativo para as usinas desde o ano passado, na esteira de mudanças tributárias, uma nova política de formação de preços da Petrobras e a queda das referências internacionais do açúcar.
"As projeções de alta no preço do petróleo deverão dar fôlego à demanda para o etanol, com as usinas deixando de lado a produção de açúcar em um momento de grande superávit de oferta em termos globais e de queda de rentabilidade com a commodity", disse o analista.
Para ele, há ainda uma queda nos investimentos em renovação de canaviais que, envelhecidos, perdem produtividade.
A Safras projeta uma moagem de 580 milhões de toneladas de cana no centro-sul do Brasil na atual safra 2018/19, ante 595 milhões em 2017/18.
(Por José Roberto Gomes; com reportagem adicional de Marcelo Teixeira)
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