Importação de etanol pelo Brasil segue forte e deve dobrar em abril ante 2017
Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil deve importar em abril mais de 220 milhões de litros de etanol, o dobro na comparação anual, após compras recordes no primeiro trimestre, em uma janela ainda favorável para se trazer o biocombustível do exterior a despeito de uma taxa aplicada sobre negócios que superem 150 milhões de litros por trimestre.
A importação vem basicamente dos Estados Unidos e é direcionada quase toda ao Nordeste, em um momento de demanda forte, início da nova safra de cana no país e, consequentemente, estoques menores do biocombustível, segundo dados da consultoria Datagro e da agência marítima Williams.
"Já temos 224 milhões de litros programados para abril", disse o presidente da Datagro, Plinio Nastari, ressaltando que fatores como a taxa de câmbio e os preços locais e no exterior também estão favorecendo os negócios.
Tal volume previsto para abril fica praticamente em linha com o apurado pela Williams para este mês, de aproximadamente 226 milhões de litros. Em abril do ano passado, o país importou cerca de 112 milhões de litros, segundo dados do governo.
"Isso revela que o Brasil está inserido no mercado internacional de etanol. Dependendo dos preços e dos níveis de ATR (Açúcares Totais Recuperáveis), o Brasil acaba exportando ou importando, é um reflexo natural dessa inserção", acrescentou Nastari.
A forte importação de agora se assemelha à registrada no primeiro semestre de 2017. À época, as compras externas pressionaram os preços domésticos, levando a indústria a pleitear, junto ao governo, algum mecanismo para segurar a enxurrada do produto externo.
No fim de agosto, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou uma tarifa de 20 por cento sobre importações de etanol que superem 600 milhões de litros ao ano, ou 150 milhões de litros por trimestre, válida a partir de setembro. A medida tem vigência de 24 meses.
Os importadores, entretanto, não têm se intimidado diante dessa taxação graças a uma conjunção de fatores de mercado.
"É o preço no mercado interno brasileiro, o preço nos Estados Unidos, a taxa de câmbio, o frete", enumerou Nastari, em referência aos fatores por trás da importação de etanol.
Após 1,81 bilhão de litros em 2017, o país importou 692,3 milhões de litros de álcool no primeiro trimestre de 2018, alta de 11,3 por cento ante igual período do ano passado, segundo dados da Datagro.
Os Estados Unidos, principais fornecedores de etanol ao Brasil, registraram vendas recordes em fevereiro.
"A margem está menor por causa da taxa (de 20 por cento), mas, nas média, há uma margem. E, se há demanda para ser cumprida, já que o anidro é misturado à gasolina, o importador age para manter 'market share'", disse um operador do mercado de etanol que pediu para não ser identificado.
SAFRA ALCOOLEIRA
A tendência é de que a atual janela para importação de etanol comece a se fechar a partir de agora, dado o início da safra de cana 2018/19 no centro-sul do Brasil, a maior região produtora do mundo.
A expectativa é de que as usinas da região vão focar na produção de etanol, para atender a crescente demanda no país. A fabricação de álcool deve aumentar 10 por cento no centro-sul nesta temporada, segundo pesquisa da Reuters.
"A partir desse mês vai depender do comportamento de preço", disse o operador e analista Eduardo Sia, da Sucden, projetando uma natural queda de preços do álcool no mercado brasileiro.
Para ele, outro fator de atenção é a escalada de tensões entre China e Estados Unidos, que tem envolvido várias commodities, incluindo o etanol.
Uma eventual redução nas compras de etanol norte-americano pela China faria com que a oferta nos EUA aumentasse, diminuindo os preços por lá e, conseqüentemente, melhorando a competitividade do produto, explicou.
Procurada, a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), entidade que apoiou a taxação de etanol no ano passado, preferiu não comentar o assunto.
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