Biosev vê entressafra de cana curta e chance de grande safra em 16/17
Por Marcelo Teixeira e Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A Biosev, segunda maior processadora de cana-de-açúcar do mundo, avalia que a próxima entressafra no centro-sul do Brasil deverá ser mais curta que o normal, com usinas levando mais tempo para terminar os trabalhos projetados para a safra atual (2015/16) e com uma retomada das atividades mais cedo na próxima temporada (2016/17), com mais matéria-prima bisada disponível.
O presidente-executivo da Biosev, Rui Chammas disse ainda, em entrevista à Reuters, que o mercado de açúcar está começando a ter uma virada nos preços, indicado no rali da semana passada, uma vez que um déficit entre oferta e demanda do adoçante começa a aparecer no mundo com alguns produtores se recusando a vender nos preços atuais.
Segundo Chammas, uma próxima entressafra mais curta está associada a dificuldades climáticas e financeiras do setor no Brasil, com dívidas levando muitos grupos a fecharem as portas, o que reduziu a capacidade do parque industrial da principal região produtora do país.
"Com certeza teremos uma entressafra menor no Brasil na próxima safra. Como nós temos mais cana do que a capacidade industrial de processar esse volume, já que quase 40 usinas fecharam desde 2010, as usinas vão moer até mais tarde, também devido a períodos de chuva", disse Chammas nesta segunda-feira.
A moagem de alguns grupos industriais poderia se prolongar em 15/16 até dezembro, em meio à influência do fenômeno climático El Niño, que tem trazido mais chuvas para algumas áreas, impedindo a colheita nas áreas com solo encharcado.
Ou mais cana também pode ser deixada nos campos para a moagem no ano que vem, após o tradicional período de manutenção da entressafra, devido ao menor número de usinas, com o setor sofrendo após anos de baixos preços do açúcar, subsídios à gasolina e elevação de dívidas, especialmente as dolarizadas.
A chamada cana bisada, que sobra da última safra, é a primeira a ser processada, no início da temporada. Oficialmente, o centro-sul inicia a moagem em abril, mas muitos grupos já poderiam começar os trabalhos em março.
"E vai ficar cana (da safra 2015/16) no campo, e algumas vão iniciar mais cedo. Por isso também não preocupa a questão de abastecimento do etanol. Vai ter combustivel para suprir o mercado. Números mostram que não teremos estresse de oferta", completou ele, referindo-se a vendas recordes do biocombustível recentemente, com o etanol mais competitivo que a gasolina em importantes regiões consumidoras.
No início da safra, usinas costumam priorizar a produção de etanol, até porque a cana tem menor concentração de sacarose e mais água. A matéria-prima que ficou da safra anterior poderia ajudar a atender essa demanda.
Essa cana bisada seria contabilizada na moagem 2016/17, permitindo que a próxima temporada tenha condições de registrar uma grande moagem, eventualmente maior que a atual, que está estimada no patamar de cerca de 600 milhões de toneladas.
"Existem condições para que a próxima safra seja grande. Ocorreram boas chuvas em momentos, como julho e agora em setembro, que garantem o desenvolvimento da safra", afirmou Chammas, não deixando claro se a safra será maior ou menor do que a deste ano, cuja moagem deve ficar próxima do recorde de 2013/14, de 597 milhões de tonelads.
Apesar das fortes chuvas na semana passada, que paralisaram os trabalhos da Biosev, o executivo disse acreditar que a companhia cumprirá o guidance de moagem de até 32 milhões de toneladas na safra 2015/16.
Com o tempo seco previsto para esta semana, o CEO da Biosev acredita que a companhia poderá estar com todas as suas 11 unidades funcionando nos próximos dias, assim que o solo secar, para que não haja risco de as colhedoras arrancarem a raiz da cana, danificando a safra seguinte.
A Biosev tem três usinas em Mato Grosso do Sul, cinco em São Paulo, uma em Minas Gerais e duas no Nordeste, no Rio Grande do Norte e Paraíba, onde a safra já começou a ser processada, enquanto no centro-sul a moagem está em seu momento de pico.
VIRADA
Segundo ele, apesar das incertezasa, o cenário estrutural é positivo para os preços do açúcar, com o mercado global ficando deficitário e concorrentes de usinas brasileiras menos interessadas a vender nos patamares atuais.
"Ninguém esperava o rali recente no açúcar. E é difícil dizer para onde vão os preços daqui a um mês. Mas estruturalmente o cenário é positivo para os preços... O câmbio faz o Brasil vender açúcar nos preços atuais, mas aparentemente outros fornecedores não estão querendo vender nesse preço, então o mercado sentiu um encolhimento da oferta", destacou. "É um momento de virada do mercado de açúcar, com o primeiro déficit desde 2010. E o pessoal também produziu muito etanol."
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