SOJA: ARGENTINA TEME QUE CHINA SUSPENDA COMPRAS DE ÓLEO

Publicado em 05/04/2010 14:06
A Argentina inicia hoje uma corrida diplomática contra o relógio para destravar um 
conflito comercial que provocaria um rombo em suas contas. O chanceler argentino Jorge Taiana vai se reunir com autoridades do governo chinês para tentar negociar uma saída para o conflito comercial que levou a China a colocar travas às importações de óleo de soja argentino. O negócio gera entrada de divisas de US$ 2 bilhões ao País, dos quais cerca de US$ 600 milhões vão diretamente para o Tesouro, correspondentes aos impostos de exportação, as chamadas retenções. Na semana passada, o governo chinês orientou seus importadores a não comprar mais óleo argentino.
Taiana vai se reunir, a partir das 15 horas (de Brasília), com o embaixador da China em Buenos Aires, Gang Zeng, para discutir o problema. A decisão do presidente Hu Jintao seria uma represália às barreiras que o governo de Cristina Kirchner vem adotando contra as importações desde o final de 2008. Nos quatro últimos meses, o controle aos importados foi relaxado para a entrada de alguns produtos do Brasil, após negociações com o governo brasileiro, mas o cerco aumentou contra as mercadorias asiáticas. Vários produtos chineses são penalizados com medidas antidumping. A China quer que a Argentina reveja as barreiras e usa sua posição de principal comprador de óleo de soja 
argentino para fazer valer sua posição.
A relação comercial entre os dois países é de déficit para a Argentina. No ano passado, os argentinos compraram US$ 4,844 bilhões em produtos manufaturados chineses e vendeu US$ 3,985 bilhões em matérias-primas e subprodutos. Em relação aos números do comércio de 2008, esses resultados sofreram retração de 32% e 40%, respectivamente. Se o boicote chinês ao óleo for mantido, a Argentina deixaria de vender entre US$ 1,6 a US$ 2 bilhões à China e o governo deixaria de arrecadar entre US$ 500 a US$ 630 milhões de impostos relacionados à venda destes produtos.
Preocupação - "O chanceler quer manifestar a preocupação da Argentina sobre o que está ocorrendo", disse uma fonte da chancelaria à Agência Estado, sobre a reunião de logo mais. O vice-presidente da Associação da Cadeia de Soja Argentina (Acsoja), Miguel Calvo, afirmou que o governo tem que ter pulso firme nesta negociação e concentrar todos seus esforços para aliviar o conflito sem demoras. Técnicos do Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa) viajaram para Pequim no fim de semana. 
A viagem fazia parte das negociações para a comercialização de frutas e carnes, mas o boicote ao óleo mudou o caráter da missão, que pretende ajudar na aceleração das negociações. O governo chinês argumenta que o óleo não obedece ao padrão de qualidade do país, porque "contém resíduos de solventes com um nível superior a 100 partes por milhão". Na chancelaria, a fonte contou que essa norma está em vigor desde 2003. 
Em janeiro de 2005 ambos os governos fizeram um acordo para que essa norma não afetasse a relação comercial bilateral. Fonte da indústria disse que, no ano passado, menos de 33% do óleo argentino vendido ao mercado chinês estava dentro dos parâmetros descritos. Dados da Secretaria de Indústria da Argentina mostram que de um total de 1,83 milhão de toneladas de óleo de soja importado pela China em 2009, 76% eram de origem argentina.
O assunto alterou os valores do mercado. Na quarta-feira, último dia de negociação antes do feriado de Páscoa, na Argentina o preço da tonelada terminou em US$ 799. Mas em Chicago, o óleo com entrega em maio subiu quase 2% na quinta-feira e terminou acima de US$ 850 por tonelada.
Brasil - Os analistas estimam que o Brasil poderia aumentar sua participação no mercado chinês com a suposta ausência da Argentina. No entanto, observam também que os portos brasileiros têm problemas de atraso nos carregamentos e isso poderia ser um entrave em futuros contratos de exportação. Por outro lado, não é só a Argentina que se protege da "invasão chinesa". Há cerca de duas semanas, os governos do Brasil e da Argentina tomaram a decisão de estudar medidas para conter o avanço dos produtos importados chineses. Ambos os governos queixam-se do aumento da participação da indústria chinesa nos mercados domésticos. 
Os casos mais gritantes envolvem os setores de papel e tecidos e malhas. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), o Brasil diminuiu sua participação nesses segmentos no mercado argentino, enquanto que a China tem aumentado sua fatia. No caso do papel, a presença dos produtos brasileiros na Argentina caiu de 34% para 30%, enquanto que a dos chineses passou de 4% para 10%. 
No que diz respeito aos tecidos e malhas, a participação brasileira despencou de 29% para 9%. E os chineses abocanharam uma participação que saltou de 56% para 78%. Os argentinos reclamam do mesmo problema no Brasil. A presença deles no mercado brasileiro de móveis, por exemplo, caiu de 7% para 1%, enquanto os chineses passaram de 25% para 40%. 

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
O Estado de S. Paulo

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário