Soja Brasil: Conab ou USDA? As duas estimativas vieram altas demais, afirmam especialistas

Publicado em 12/01/2023 18:00 e atualizado em 12/01/2023 18:37

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Duas estimativas atualizadas sobre as safras de soja da América do Sul foram reportadas nesta quinta-feira (12), porém, os números são ainda questionados por analistas e consultores de mercado. A Conab (Compahia Nacional de Abastecimento) estimou a produção brasileira em 152,7 milhões de toneladas - contra 153,5 milhões do boletim de dezembro - enquanto o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe seu número de 152 para 153 milhões de toneladas. 

"Eu acho que os dois estão errados", afirma o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, que está a campo, visitando lavouras e afirma que há locais onde as condições das lavouras estão comprometidas em diversas partes do país. Além das perdas que têm sido reflexo dos efeitos da seca, os prejuízos causados pelo excesso de chuvas também têm de ser considerados. "Já temos tido perdas por conta disso, porque os produtores não têm conseguido fazer os tratos culturais, avançar com a colheita", diz. 

Assim, Brandalizze acredita que o Brasil deva colher, no máximo, 150 milhões de toneladas, o que vai exigir que os órgãos façam suas correções nos próximos meses. "O USDA está muito otimista, mas não é isso que temos visto no campo", complementa.

A perspectiva do diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa, é semelhante. Ele também acredita que ambas as estimativas vieram além dos potenciais - não só para o Brasil, mas também para a Argentina - e acredita na correção nos próximos reportes. "Já sabíamos que o USDA não traria os reflexos ainda para a safra brasileira, o número do Brasil é 151 milhões de toneladas no máximo", acredita. 

Todavia, Sousa acredita ser cedo ainda para um registro claro e expressivo das perdas pelo excesso de umidade nas lavouras brasileiras. "De São Paulo, Paraná para cima está excelente, as chuvas estão ótimas e os campos se desenvolvem muito bem. Regiões do Maranhão, Piauí, se o clima continuar como está, teremos recordes. A preocupação ainda é com o Rio Grande do Sul, onde as chuvas são muito necessárias. Se essas chuvas falharem, as perdas serão ainda maiores", alerta. 

Para o analista de mercado da Royal Rural, Ronaldo Fernandes, as estimativas ainda são passíveis de mudanças pelos próximos dois meses. 

"A Conab ainda está se ajustando pra voltar a ter um quadro de oferta e demanda depois de muito tempo parada, e tanto Conab quando USDA trazem números parecidos e alinhados com a expectativa do mercado. Claro que haverão alterações. A safra sul-americana segue como a grande bola da vez e, só daqui, pelo menos dois meses, para se ir comprovando", acredita Fernandes.

Direto dos EUA, o consultor de mercado da Roach Ag Marketing, Aaron Edwards, também avalia que os números vieram muito altos para a safra 2022/23 de soja do Brasil. "Eu ficaria surpreso se a safra brasileira chegasse a 150 milhões de toneladas, pode chegar, mas . Mesmo com 150 milhões de toneladas, essa seria a maior safra que o Brasil já teve. É muita soja, mas acho que os dois números, tanto Conab, quanto USDA, estão altos".

Edwards, bem como os demais especialistas, reafirma que, embora lentos, os ajustes sobre a safra deverão vir, mas gradativamente, como tradicionalmente acontece. 

REAÇÕES DO MERCADO 

O mercado na Bolsa de Chicago fechou o pregão desta quinta-feira com fortes altas entre as posições mais negociadas. Os contratos encerraram o dia com ganhos de mais de 20 pontos, levando o março a US$ 15,18 e o maio a US$ 15,19 por bushel. No Brasil, porém, tais ganhos foram neutralizados pela baixa intensa do dólar de mais de 1,5%, que levou a moeda americana a voltar aos R$ 5,10. 

Poucos negócios foram registrados, dessa forma, principalmente as "operações atreladas a valores, a dinhheiro, mas com insumos há muitas operações acontecendo, operações de troca", relata Vlamir Brandalizze. Ainda assim, com o mergulho do dólar nesta quinta, o volume foi mais contido. 

Para Ginaldo Sousa, os bons ganhos de Chicago vieram com os dados do USDA para o cenário norte-americano. Revisão para baixo da produção, produtividade e área colhida deram espaço às altas, além dos estoques finais. O ponto de atenção, porém, ficou sob o ajuste nas exportações norte-americanas de soja, também para baixo. 

As altas de quase 2% na soja na CBOT, na análise de Ronaldo Fernandes, foram reflexo de uma "reação exagerada do mercado". Segundo ele, "já aconteceu antes e, quando o mercado exagera em uma reação, a tendência é corrigir com mais severidade nos dias próximos".

Soja Janeiro - USDA

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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