Importação de soja pela China deve se recuperar em 2023, favorecendo o Brasil
Por Ana Mano e Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) – A China deve terminar o ano com estoques de farelo de soja historicamente baixos, o que tende a elevar a dependência da soja importada em 2023, disse Victor Martins, gerente sênior de risco da HedgePoint Global Markets, nesta quinta-feira.
Nos cálculos da S&P Global, os chineses devem importar cerca de 99 milhões de toneladas de soja na temporada 2022/2023 (setembro-agosto), aumento de 8% ou 7,5 milhões de toneladas a mais, disse à Reuters o analista Vitor Belasco.
A conjuntura favorece agricultores brasileiros, que estão em vias de iniciar a colheita da nova safra, que alguns plantaram em setembro.
A soja brasileira, que é processada na China para fazer ração animal, tem preço mais atraente do que a oleaginosa dos EUA para embarques em fevereiro, disse Martins em entrevista.
A ampla oferta de safra nova do Brasil, que aumentou sua participação nas exportações globais de soja para 51,5% na temporada 2021/2022, já está precificada no porto, de acordo com a HedgePoint.
A estatal Conab prevê produção recorde de 153,48 milhões de toneladas de soja no ciclo 2022/2023.
“A combinação de maiores ofertas no Brasil, baixos estoques de farelo de soja na China e relaxamento das políticas de Covid-zero (na China) devem impulsionar a demanda de soja da China para 2023”, disse Martins.
A demanda mais fraca por soja em 2022 do principal comprador mundial, a China, pode fazer com que os volumes de vendas brasileiras para aquele país caiam para o nível mais baixo desde 2017, segundo dados do governo brasileiro.
Mas, embora os volumes possam terminar 2022 no menor patamar em seis anos, os preços altos significaram que os vendedores brasileiros foram pagos generosamente pelo produto embarcado para a China, mesmo com vendas menores.
O Brasil exportou 52,4 milhões de toneladas de soja para a China até novembro, recebendo 31 bilhões de dólares, segundo dados do governo brasileiro. Isso se compara a 27,2 bilhões de dólares em todo o ano de 2018, quando um recorde de 68,5 milhões de toneladas de soja do Brasil foi exportado apenas para a China.
A redução das exportações brasileiras de soja foi resultado de quebras de safra em meio a uma seca no Sul, que diminuiu o excedente exportável e aumentou os prêmios portuários domésticos.
A queda afetou os processadores chineses, que enfrentaram margens de esmagamento negativas no início de 2022 com a alta dos preços da soja.
No segundo semestre, os baixos estoques de farelo de soja coincidiram com um aumento repentino nas margens de suínos chineses. Isso, disse Martins, estimulará mais demanda por farelo de soja na China nas próximas semanas.
O analista da S&P Global destacou que as margens de esmagamento da China devem seguir positivas, apesar de uma queda recente nos preços dos suínos chineses, dando espaço para incrementar as importações de soja brasileira ao longo do primeiro trimestre de 2023 –período em que ocorre o pico da colheita no Brasil.
“No curto prazo, há necessidade (da China) de recomposição de estoques e fazer hedge contra possíveis perdas de potencial produtivo na América do Sul”, disse ele.
“Acredito que quando vier a consolidação do potencial produtivo por aqui, a China entrará forte nas compras”, acrescentou.
Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) indicam que o país deve exportar, ao todo, 93 milhões de toneladas de soja em 2022/2023, versus 77,5 milhões no ciclo anterior, tendo a China como principal compradora.
Belasco afirmou também que já é possível ver um aumento na atividade de compras chinesas para o grão dos Estados Unidos, maior concorrente dos brasileiros no fornecimento da oleaginosa.
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