Quanto de soja a América do Sul vai entregar ao mundo na safra 2022/23? Resposta vai direcionar os preços

Publicado em 04/10/2022 17:51

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Com a China passando pelo feriado da Golden Week - ou semana dourada - e deixando a demanda global mais tímida pelo menos até o dia 10 de outubro, as notícias do lado da oferta mundial de soja ficam ainda mais evidentes e, na análise de Ginaldo Sousa, diretor geral do Grupo Labhoro, será o clima na América do Sul e o andamentos das novas safras por aqui um dos principais responsáveis pela definição dos preços daqui em diante. 

Há claro, outros fatores importantes e de indiscutível necessidade de monitoramento constante - como o novo relatório mensal de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) do dia 12 de outubro - todavia, os olhos todos do mercado estão atentos ao volume que chegará da oleaginosa sul-americano ao mundo, depois das severas perdas da safra 2021/22 e de uma produção nos EUA que chega bem aquém do inicialmente esperado para a temporada 2022/23. 

Sousa afirma que será preciso entender a efetiva configuração de um novo La Niña e, mais do que isso, lembrar que nos últimos anos o fenômeno climático tem alcançado uma área mais extensa. "Todos os anos mostram que o La Niña está avançando, pegando o Goiás no ano passado, por exemplo. Podemos dizer que [em anos de La Niña], as áreas 'áridas' estão se expandindo". 

Assim, será preciso monitorar sobre como ficarão as condições entre o final de novembro e início de dezembro, inclusive na Argentina. "A repercussão pode ser maior do que se esperava", diz. 

O boletim diário do Commodity Weather Group desta terça-feira (4) mostrou que os próximos cinco dias deverão ser de chuvas dentro da média em boa parte das regiões produtoras, com regiões pontuais de proecupação, onde ou as precipitações chegam em excesso - ponto em verde no primeiro mapa - ou abaixo do necessário - pontos em marrom. 

Já no período de 9 a 13 de outubro - segundo mapa -, a área onde um padrão mais seco predomina é um pouco maior, enquanto estados como Paraná e Santa Catarina podem receber volumes melhores. O Rio Grande do Sul, porém, ainda deve seguir com chuvas abaixo da média neste intervalo. 

Para 14 a 18 de outubro, as chuvas mais escassas podem se mostrar para ainda todo o Rio Grande do Sul, partes de Santa Catarina e do Paraná, além do estado de Mato Grosso do Sul e a Bahia, como mostra o terceiro mapa. 

Mapas CWG (2)
Mapas: Commodity Weather Group

E para os três períodos, as condições climáticas na Argentina também preocupam. "Devemos torcer para que a Argentina não tenha grandes problemas. Já temos uma inflação muito elevada e precisamos aumentar a oferta de alimentos", explica o diretor do Grupo Labhoro. Além das questões climáticas, o produtor argentino deverá seguir enfrentando as questões cambiais e tributárias duras de seu país, o que poderia, inclusive, limitar um possível aumento de área nesta temporada. 

Também por este fator que Sousa afirma que o clima na América do Sul será determinante para entender o rumo das cotações de agora em diante. O mundo precisa de safras saudáveis de Brasil, Argentina, Paraguai para que dê pelo menos início a um movimento de equilíbrio nas relações globais de oferta e demanda. 

Afinal, o USDA, na semana que vem, poderia revisar suas estimativas de produtividade para baixo no caso da soja, uma vez que o Drought Monitor - o monitor da seca americano - mostrou que o cenário climático em diversos estados piorou consideravelmente entre o final de agosto e o decorrer de setembro e podem ter tirado mais ainda do potencial produtivo da soja dos EUA. 

"O USDA tem que ajustar sua produtividade e com isso os estoques finais poderiam cair um pouco mais", diz. 

O analista de mercado Luiz Fernando Gutierrez compartilha da visão de Ginaldo de Sousa. "Com relação ao quadro de oferta e demanda, é claro que ainda podemos ter algumas alterações na produção americana e, consequentemente, nos estoques. Fomos muito surpreendidos pelo USDA neste ano e acredito que podemos continuar sendo", diz, chamando a atenção para a conclusão do desenvolvimento de algumas lavouras e para o andamento da colheita. 

"Chicago, com relação à safra americana, tem intervalo entre US$ 13,00 e US$ 14,00", afirma Gutierrez. E na sequência, olhos voltados para a América do Sul. "O clima está ajudando, o plantio está andando bem, o clima está regular - principalmente no sul do país, onde ainda há umidade no solo. O panorama inicial da safra brasileira é muito positivo, muito promissor, e isso pode pesar mais a frente. Se não virmos falta de chuvas próximas quatro, seis semanas, pode pesar sobre Chicago, porque o potencial produtivo é muito alto, acima de 150 milhões de toneladas", detalha. 

Do mesmo modo, porém, fala da necessidade também do constante monitoramento do La Niña e os impactos que poderia vir a exercer sobre os campos sul-americanos. 

Para o analista, sem grandes percalços na nova safra e com uma safra cheia no Brasil, os preços futuros da soja na Bolsa de Chicago poderiam vir a testar patamares abaixo dos US$ 13,00 por bushel, podendo tocar os US$ 12,00. "Neste momento, com o panorama atual, sem prever quebra, eu acredito que a tendência é essa", diz. 

Nesta terça-feira, os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago conseguiram sustentar mais uma sessão de ganhos que variaram de 9,50 a 11 pontos nos principais contratos, porém, com os vencimentos mais próximos ainda abaixo dos US$ 14,00 por bushel, com o novembro sendo cotado a US$ 13,83. Já o maio - referência para safra brasileira - encerrou o dia com US$ 14,10 - ainda de olho no começo dos trabalhos de campo por aqui, porém, com olhos de águia sobre as plantadeiras brasileiras. 

Parte do suporte veio do dólar ainda caindo também frente ao real, fechando o dia com R$ 5,17 e perda de 0,11%. Ao longo do dia, o mercado cambial até testou alguma alta, porém, logo perdeu força. 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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